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CRÔNICA. Pylla Kroth reencontra Carlinhos e celebra a amizade mantida, após ficarem 33 anos sem se ver

Carlinhos Chacal

Por Pylla Kroth (*)

Na semana passada recebi uma ligação que estremeceu meu coração: no outro lado da linha um velho amigo que não encontrava há exatos 33 anos. Confesso, foi uma sensação de que não era acometido havia um tempão, um prazer imensurável. Saber que o tempo e a distância não foram ventos que levaram embora nossa amizade e nossos sentimentos juvenis.

Poder reencontrá-lo foi encontrar a mim mesmo, a beleza de ter um amigo verdadeiro. O abraço, o sorriso, o choro e o silêncio, as lágrimas suas também são minhas. Ao contar-lhe sobre minha vida e ele sobre a dele nas ultimas três décadas, foi como se um assumisse a vida do outro e aceitasse como sendo as duas uma vida só. Uma cumplicidade ímpar nas horas em que ficamos juntos, aliás não conseguiríamos relatar tudo em poucas horas, o certo seria ficarmos uma semana de bate-papo, como quando no tempo em que éramos donos do nosso tempo.

Neste reencontro as horas foram inimigas nossas, o tempo voou mesmo. Parecíamos dois feridos tentando se curar em tempo recorde, pois a vida não nos poupou e nos deixou marcas e feridas também. Insistimos na arte de insistir na felicidade um do outro nas horas que iam passando, um acalanto no coração, um inventário destemido e minucioso sobre nós mesmos se fez necessário.

Dizem que o amigo a gente conhece na hora da tristeza, por outro lado afirmo que dá pra reconhecer na felicidade também, sem o demônio da inveja ou do achismo. Fomos verdadeiros na conversa. Como é bom poder se entregar a alguém, se abrir e ver o quanto amadurecemos como humanos, ter a certeza que estávamos e estamos trilhando o caminho certo. Melhor que milhares de orações de confissões sem obter o perdão.

Naquela metade do anos 80 ele foi o responsável por me levar morar em uma República junto com mais cinco estudantes, éramos em sete ao todo. Um boliviano, um uruguaio, dois gaúchos de São Borja e outro de Caçapava, um bando de forasteiros descobrindo para que vieram ao mundo. Uma coisa era certa, tínhamos o espírito revolucionário. Queríamos mudar o mundo, e de certa forma a sua maneira cada qual o fez.

Eu particularmente não gostava muito de leitura, na época, mas aprendi e hoje tenho gosto, pois só poderia ficar na dita comarca quem tinha conhecimento e interesse em discussão política, amor e arte. Sendo assim, de tanto ver as capas dos livros e louco pra entrar nos debates, me vi obrigado ler e entender vários livros que ajudaram formatar meu caráter e minha formação humana no convívio social.

O primeiro livro foi “Tudo começou com Maquiavel”, seguido dos 50 anos da Revolução Socialista , Lenim, Trotsky, Engels, etc… sobre Amor e a vida livre li por ali Fernão Capelo Gaivota , Bukowski, Chacal e muitos outros.

Depois que a vida nos separou, por anos usei dos ensinamentos daqueles aprendizados naquela casa que foi minha faculdade. Tudo regado a noites e dias de boemias e muita fumaceira. Foi ali também que comecei mostrar a eles meu gosto por rock pesadão e, passado o tempo, fui entendido… (risos) Tenho muito orgulho de todos aqueles amigos, porém este último que reencontrei agora tenho uma admiração em especial.

Gostaria de falar de todos, porém em minhas crônicas não gosto de colocar nome aos bois, mas posso afirmar que são grandes nomes em suas profissões mundo afora. Mas o dele vou citar o apelido, “Carlinhos – Chacal”, assim chamávamos carinhosamente . Se formou jornalista, mas hoje é muito mais, é um homem que já não é mais somente um jornalista, ele faz a ponte da comunicação e informação verdadeira. E isso o torna diferente , em tempos de internet e fake news.

Nosso encontro foi na base do: “lembra disso? Lembra daquilo? Lembra daquele? E por onde anda o fulano? e o beltrano?” e assim lembramos até dos que já partiram desta, mas viverão eternamente em nossos corações e mentes. Que coisa boa saber que na vida bem de mansinho, as vezes  quando se menos espera o passado se apresenta com roupa presente nova e colorida como arco íris da crença bíblica, com esperança em viver feliz por mais anos.

No final não nos despedimos, apenas sorrimos um para o outro num “até já”. Nossas vidas, nossos caminhos tortos, nosso sangue latino, nossa alma cativa, não estamos e nunca seremos vencidos. Com a esperança de não esperar mais três décadas para nos vermos, mesmo porque estamos na última escala dos três ciclos de nossas vidas. Jovens, adultos, envelhecendo, adiante e além.

Dizem que somos jovens quando temos histórias pra escrever, e velhos quando temos muitas histórias pra contar. Por essas, virei jovem por um dia e por isso escrevo este relato, desejando a todos, um amigo ao menos em que se possa confiar, desses que a vida nos dá, presente, sem preço, valor inestimável, afetos que devemos proteger, priorizar, entesourar, já que desta vida, desta sucessão de ciclos que passam tão rápido, inexoráveis, irreversíveis, o que levamos mesmo, não é o que cabe no bolso, é o que cabe no peito, a amizade sincera, os amores, os bens impalpáveis únicos capazes de cruzar deste plano físico para o além.

(*) PYLLA KROTH é considerado dinossauro do Rock de Santa Maria e um ícone local do gênero no qual está há mais de 35anos, desde a Banda Thanos, que foi a primeira do gênero heavy metal na cidade, no início dos anos 80. O grande marco da carreira de Pylla foi sua atuação como vocalista da Banda Fuga, de 1987 a 1996. Atualmente, sua banda é a Pylla C14. Pylla Kroth escreve às quartas feiras no site.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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