Bolsonaro é um comissário da morte
Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)
Em 1995, na Universidade Columbia, Umberto Eco afirmou que “Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica”. Em 28 de abril de 1945, pendurado pelos pés na Piazzale Loreto, em Milão, não restou nem a retórica ao duce.
Tal frase é parte de um discurso que tem como título “O fascismo eterno”, uma breve e contundente definição do que possuem em comum e de como podem ser reconhecidas as diferentes encarnações do terror fascista. Para quem se interessar, o texto pode ser facilmente acessado através de uma pesquisa no Google.
Vinte e quatro anos depois, bastaria trocar “Mussolini” por “Jair Bolsonaro” para a verdade continuar a mesma. Não que o néscio tenha a mesma “verve” com a qual, dizem, o ditador italiano contava. Pelo contrário, é difícil dizer se o que sai de sua boca é (tanto pela estética quanto pelo conteúdo) mais raso do que o que está dentro de sua cabeça ou se, pelo contrário, lhe faz plena justiça.
Voltando ao texto, nele o escritor italiano destaca que as diferentes manifestações do fascismo possuem uma triste identidade com a morte. Ele chama isso de “culto” e cita o slogan dos franquistas, “viva la muerte!”, como um exemplo. Para os fascistas, segundo Umberto Eco, “heroísmo” significa matar e morrer, com ênfase no primeiro verbo. O crime cometido contra Marielle Franco e Anderson Gomes tristemente nos demonstra isso.
No Brasil do governo protofascista parido por um festival de ignorância e de fakenews, essa “obsessão” pela morte tem se manifestado tanto na retórica quanto nos atos. Para Bolsonaro e sua “falange” o mundo precisa de mais armas, mais venenos, mais impunidade para motoristas infratores, mais “cada um por si”, mais lucros para os bancos, menos segurança no trânsito, menos empregos formais, menos preservação ambiental, (bem) menos gente se aposentando, menos educação superior, menos Fundeb, menos proteção às minorias, menos indígenas vivendo na terra, menos gente recebendo o mínimo necessário à sobrevivência, menos chance de inclusão social, menos oportunidades e, obviamente, muito menos democracia. É triste, mas essa união entre insanidade, milicianos, mercenários do mercado financeiro e gente capaz de acreditar que a escatologia do Olavo de Carvalho é filosofia também produz consequências nefastas.
Diante de todos esses atos – que têm como consequências imediatas e futuras a diminuição da civilização e do direito à vida – afirmo que Bolsonaro age como uma espécie de comissário da morte, promovendo a violência, a ignorância e a desumanidade com sua demagógica caneta Bic. Talvez seus seguidores nunca enxerguem isso, inclusive porque uma parte considerável deles possui profunda identificação com as insanidades do líder. A eles, nem a máscara da “honestidade bolsonarista” resta para justificar o injustificável, destruída por laranjas, fantasmas e milícias.
Resistir e derrotar o bolsonarismo é, portanto, defender a vida e toda e qualquer pessoa sensata, à esquerda ou à direita, precisa assumir a sua responsabilidade nisso, tal qual fizeram os italianos há mais de 75 anos.
(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública.
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SOBRE A FOTO: Perseu segurando a cabeça da Medusa, de Cellini (1554), na Piazza Della Signoria, em Florença.
Artigo Esclarecedor. Um resumo da história do governo fascista de Mussolini. Analogia perfeita com o atual governo, bem sintetizado e perfeito. Verdadeiro. Gostei. Parabéns pela foto! muito de acordo.
Aproveito esse texto de retomada para informar que não respondo comentários feitos sob pseudônimo.
Kuakuakuakuakua! Aproveito para informar que vou hoje vou dormir na pia mascando Bombril de preocupado! Kuakuakuakuakuakua!
A meta de longo prazo é combater a ignorância que, como todos sabem, não tem partido.
Voltando ao texto, por supuesto. ‘O herói Ur-Fascista, ao contrário, aspira à morte, anunciada como a melhor recompensa para uma vida heróica. O herói Ur-Fascista espera impacientemente pela morte. E sua impaciência, é preciso ressaltar, consegue na maior parte das vezes levar os outros à morte’. Logo a ‘ênfase’ no matar não se sustenta.
Resumo da ópera, o bom e velho apelo à autoridade com interpretações livres. No mais é opinião e opinião é direito.
‘Ao contrário do que se pensa comumente, o fascismo italiano não tinha uma filosofia própria. O artigo sobre o fascismo assinado por Mussolini para a Enciclopédia Treccani foi escrito ou inspirou-se fundamentalmente em Giovanni Gentile, mas refletia uma noção hegeliana tardia do “Estado ético absoluto”, que Mussolini nunca realizou (sic) completamente. Mussolini não tinha qualquer filosofia: tinha apenas uma retórica’. Ou seja, no contexto original Mussolini (que foi jornalista e membro do Partido Socialista Italinao) não tinha captado as nuances filosóficas do que defendia portanto só tinha retórica. É avaliação de Eco, não existe nenhuma ‘ciência’ aqui.