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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas, quatro paredes e revelações do ‘The Intercept’, sobre Moro e Dallagnol

Sérgio Moro entre quatro paredes

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Em se tratando de sarcasmo, Nelson Rodrigues tem algumas das melhores frases já proferidas entre o Oiapoque e o Chuí. Foi ele quem disse, por exemplo, que “se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”.

Falando especificamente sobre essa frase, acho que sua inteligência está nas entrelinhas: aquilo que adultos fazem na cama (ou em qualquer outro espaço) de forma consensual não deveria ser do interesse alheio. É algo que pertence à esfera privada e que deve ser radicalmente respeitado, mesmo nesses tempos em que a ideia de “privacidade” parece ser uma mera ficção.

Seguindo essa lógica e aceitando que a “lei é para todos”, o que uma pessoa pública como Sérgio Moro faz entre quatro paredes não é da nossa conta. Seus gostos, práticas, preferências, hábitos, afazeres e, principalmente, seus gozos não nos dizem respeito.

Porém, o que ele fazia como julgador e o que faz hoje como ministro estão no extremo oposto à privacidade, pois tem a ver com seu status de “homem público”. Nesse caso, tanto entre quatro paredes quanto no mundo digital, o assunto interessa a todos e a todas nós – o que nos leva às revelações do The Intercept Brasil. E aí a coisa complica. Muito, ressalte-se.

Isso porque é inaceitável em um país democrático que um juiz oriente procedimentos ou dê “dicas” a uma das partes, sobretudo ao agente do Estado responsável pela acusação. Não há fim que justifique o massacre dos mais elementares direitos que qualquer pessoa tem, como a certeza de ter um julgamento justo. Especialmente se sua culpa é demonstrada com argumentos tão sólidos quanto um castelo de cartas.

Segundo os primeiros diálogos entre Sérgio Moro e Deltan Dallagnol revelados ao mundo, homens públicos usaram do seu poder para conspirar, privadamente, contra ao menos um brasileiro. Entre paredes físicas e meandros digitais, o condenaram sem provas concretas antes mesmo do final do processo, com o julgador se comportando como um Torquemada sem batina.

Não sei quanto a vocês, mas eu sinto quase um pânico em pensar que meus filhos possam vir a ser julgados por uma pessoa que conspira com o acusador. Aliás, que qualquer pessoa possa passar por isso, pois o que vale para mim e para os “meus” precisa valer para todas as pessoas.

Quando isso não ocorre, todos temos o risco de sofrer dos mesmos males. A lógica de “para os amigos tudo, para os inimigos a justiça” é a falência completa da civilização, da democracia e da própria justiça.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

SOBRE A IMAGEM: São máscaras em Veneza, fotografadas pelo autor deste artigo.

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