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ARTIGO. Irmã Lourdes Dill desabafa, após mais uma Feicoop: a “resistência profética e democrática”

26ª Feicoop: uma resistência profética e democrática

Por LOURDES DILL (*)

“Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem seus próprios frutos./ O sol não brilha para si mesmo; e as flores não espalham sua fragrância para si./ Viver para os outros é uma regra da natureza. Todos nós nascemos para ajudar uns aos outros. /Não importa quão difícil seja… / A vida é boa quando você está feliz;/ mas a vida é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.” (Papa Francisco)

Inspirada na profundidade desta frase do Papa Francisco, afirmo com toda convicção e coragem profética que a 26ª FEICOOP foi, é e continua sendo uma “Resistência Profética e Democrática”. Digo isso, porque a sua histórica de organização com mais de 500 voluntários do Projeto Esperança/Cooesperança da Arquidiocese de Santa Maria, da UFSM e da Prefeitura Municipal de Santa Maria que trabalharam com esmero, dedicação e ousadia, para que a FEICOOP fosse da melhor forma possível, acolhedora e hospitaleira para os visitantes de 03 Continentes, 23 Países, 26 Estados Brasileiros e o Distrito Federal, 585 Municípios e mais de 3.500 Empreendimentos representados nas Redes e Fóruns de Economia Solidária do Brasil, América Latina e outros Continentes. Um público recorde de mais de 305 mil pessoas que circularam no território da Feira, que teve atividades na cidade praticamente toda semana. Foram 14 seminários, 32 Oficinas, 01 Audiência Pública, 31 Atividades Culturais no palco, 15ª Caminhada pela Paz e Justiça Social, lançamentos de livros, documentários, jornais, revistas e CDs. A FEICOOP teve multiplicadoras oportunidades de formação, abrindo horizontes para quem acredita, participa e constrói um “Outro Mundo Possível” e uma prática de “Outra Economia que já Acontece”.

Os que criticam e condenam a FEICOOP, são pessoas que não entendem a metodologia, os princípios, a necessidade e a urgência do povo de se organizar para encontrar caminhos de sobrevivência neste tempo difícil da fome, miséria, desemprego e exclusão social. A 26ª FEICOOP em 2019 teve sim um orçamento muito apertado, mas nem por isso ela deixou de ser realizada com um vigor gigantesco e participação das costumeiras caravanas que vem para Santa Maria há quase três décadas. O que faz as pessoas viajar 5.000 km de ônibus para ficar em Santa Maria três ou quatro dias neste gigantesco Evento? Foram 50 pessoas de Minas Gerais, 03 ônibus do Rio de Janeiro e muitas outras caravanas de todo o Brasil e outros Países.

Qual é o Evento que deixa tanta gente em Santa Maria quase uma semana e lota hotéis, gasta em ônibus, táxi, restaurantes, comércio, entre outros. A cidade fica muito bem servida com o retorno econômico que a FEICOOP deixa para a cidade, diferentemente de outros Eventos. A FEICOOP não pode ser comparada com um supermercado onde tem caixa, dono e concentração de renda para poucos e às vezes até para um dono ou uma pequena sociedade. A FEICOOP compartilha os seus resultados. Cada Banca tem um grupo por trás da sua organização, são várias famílias que compartilham os frutos do seu árduo trabalho, mas consciente, eficaz e cooperativado. A Feira é muito mais do que se vê e do que se vende. É o fio condutor de uma nova Economia Solidária.

Sobre a linha Editorial da Feicoop, que alguns chamam de Ideologia, gostaria de esclarecer: a Linha da Feicoop não se vende e nem se negocia por preço nenhum, por que ela tem uma construção histórica que foi calcada na luta, resistência e democracia há 26 anos. Somos em torno de 10 pessoas corajosas que são parte dos 26 anos da organização e uma multidão de pessoas que ao longo da história se somaram aos mutirões. Ela é inegociável. A abertura da Feira é feita com a Palavra de Deus e a Bênção de Dom Hélio Adelar Rubert e no momento do encerramento é feita a Bênção do envio de todos os que viajam para suas casas. Nunca aconteceu acidente e nem outros problemas de viagens e nem durante o Evento nenhuma ocorrência policial.

Outras opções inegociáveis da Feira, são o cuidado com o lixo, não se vende refrigerante, bebida alcoólica, a água não é comercializada e a linha editorial da Feira é de conteúdo formativo e ambiente tranqüilo, sereno e de fraterna convivência, onde todos compartilham suas idéias e vivências através de continuados intercâmbios e belas experiências trazidas e levadas.

O público da FEICOOP são pessoas de todas as classes sociais, como Agricultores Familiares, Artesãos, Povos Indígenas, Quilombolas, Afro-descendentes, Moradores em Situação de Rua, Consumidores, profissionais liberais, Gestores Públicos, Acadêmicos, Universidades, Comunicadores, diversas culturas Religiosas e uma riqueza de Etnias e de Biodiversidade.

Quanto aos recursos públicos no valor de R$ 150.000,00 (Cento e cinqüenta mil reais) foi de uma Emenda Parlamentar do Deputado Federal Elvino Bohn Gass, cujo valor veio via Ministério da Cidadania para a UFSM. A Gestão do Projeto foi realizada pela equipe da Pró-Reitoria de Extensão e Incubadora da UFSM, juntamente com uma equipe de técnicos especializados para estas atividades. A elaboração do Projeto foi feita em parceria com a UFSM e o Projeto Esperança/Cooesperança. Foi feito um Pregão específico para este Projeto e todas as Empresas vencedoras são de fora de Santa Maria, o que dificultou muito o diálogo e planejamento para a execução do trabalho. Os recursos foram liberados após a Feicoop. Os empenhos e pagamentos são realizados conforme a legislação e aplicação dos recursos Públicos Federais. Faço um desafio para qualquer Entidade Pública ou Privada de fazer um Evento gigantesco com este valor neste tempo de crise.

Os que criticaram o Evento sem conhecimento de causa, estão convidados para 2020 ser voluntários e contribuir no custeio das despesas antes de soltar o verbo, como alguns fizeram irresponsavelmente, ofendendo nossas equipes de Voluntários.

E, por fim sobre a contribuição dos grupos expositores, que é a forma mais justa que a Economia Solidária encontrou, é a porcentagem sobre a Comercialização. Esta é uma forma participativa e autogestionária para viabilizar e incluir muitos de baixo poder aquisitivo a participar da FEICOOP. Foram inúmeras despesas que não foram contempladas por recursos públicos e toda a organização é gratuitamente assumida pelos voluntários que assumem esta causa.

Portanto, estamos muito felizes, tranqüilos e realizados por ter organizado e realizado mais esta Feicoop com 26 anos de história. Somos gratos, aos que nos ajudaram e aos que visitaram e contribuíram para este grandioso Evento de 2019.

Vida longa para todas as formas de organização do povo neste tempo histórico de mais lutas e mais resistência para salvar a Democracia Jovem que o Brasil vive hoje e queremos para o futuro povo brasileiro, justiça, igualdade e inclusão.

Concluo com as sábias palavras do Papa Francisco:

“Nenhuma Família sem Casa,

Nenhum Camponês sem Terra,

Nenhum trabalhador sem Direitos, nenhum direito a menos e

Nenhuma pessoa sem Dignidade e Cidadania”.

(*) Irmã LOURDES DILL (foto), Coord. do Projeto Esperança/Cooesperança e Vice-Presidente da Cáritas Brasileira.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: este texto foi originalmente publicado, pela autora, no Facebook.

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5 Comentários

  1. Irmã Lurdes é um exemplo a ser seguido! Recentemente tive a oportunidade de participar de uma exposição de produtos gerados a partir da economis solidária, na UFSCAR(Universidade Federal de Sao Carlos, SP), na qual a irmã Lurdes foi uma das pessoas homenageadas.

  2. Parabenizo a Irmã Louders Dill pelo brilhante artigo, reiterando que a FEICOOP é um evento democrático que oferece lugar a todos. O convite foi feito, aguardamos as adesões: aqueles que criticaram, se aprocheguem e contribuam financeiramente com o projeto. Até a próxima Feira!

  3. Caro Claudemir, obrigado por ter compartilhado magnifico texto. Em tempos de resistência, estamos na mesma caminhada com esperança, ainda que tardia, de transformar nossa sociedade. Acreditamos no trabalho da Economia Solidária e referenciamos Santa Maria. Grande abraço pra tod@s.

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