ARTIGO. Valdeci Oliveira e importância de apoio do poder público para os eventos da economia solidária
Não se despreza a força dos pequenos
Por VALDECI OLIVEIRA (*)
Teve falta de recursos, teve mau tempo e foram registrados casos locais isolados de preconceito e rancor contra um evento voltado aos “pequenos”. Mas nenhuma dessas adversidades conseguiu ofuscar o brilho de mais uma grande Feira Internacional do Cooperativismo, atividade que, há um bom tempo, é o maior evento de Santa Maria e da Região Central do Estado.
A 26ª edição da Feicoop, indubitavelmente, foi um sucesso de público – mais uma vez, mais de 300 mil pessoas compareceram ao Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter -, de integração – delegações de 23 países marcaram presença – e de debates qualificados e diversificados – que pautaram a realidade social, econômica, cultural e política do estado e do país. Como sempre faço, estive presente em todos os dias da Feicoop e pude perceber in loco a imensa dedicação travada pelas equipes que atuaram na organização do evento, capitaneadas pela Irmã Lourdes Dill.
Se os apoios realizados pelo Palácio do Planalto e pelo Palácio Piratini foram pra lá de escassos, volumosa e gigante foi a corrente de disposição e voluntariado gerada para viabilizar a ousada programação do evento. Faço questão, portanto, de, nos nome da Arquidiocese de Santa Maria, da Cáritas, da Prefeitura e da UFSM, parabenizar todas instituições e pessoas que se dedicaram para manter em alto nível a semente de um projeto que pulveriza solidariedade, democracia e organização coletiva.
Mas essa verdadeira superação, movida pela força do coletivo, não pode, no entanto, ofuscar uma injustiça flagrante: o cooperativismo alternativo, essa nova economia que cresce cada vez mais no país e fora dele, não pode ser solenemente desprezado do rol de políticas públicas incentivadas pelos governos federal e estadual.
Se o Rio Grande do Sul tem condições de conceder isenções fiscais milionárias para grandes e estruturados grupos empresarias – que, por vezes, oferecem uma contrapartida social duvidosa -, a economia solidária, setor que contabiliza mais de 20 mil empreendimentos e que responde por 8% do PIB nacional, também tem de ser contemplada por projetos consistentes e transparentes de incentivo.
Infelizmente, o que se vê hoje é que esse setor sequer possui, seja em Brasília, seja em Porto Alegre, espaços estruturados de apoio ao desenvolvimento de programas para a agricultura familiar, a criação de cooperativas, o artesanato, etc. E olha que, não faz muito tempo, o Brasil já teve uma Secretária Nacional de Economia Solidária coordenada por ninguém menos que o saudoso economista Paul Singer, uma liderança respeitada no Brasil e no mundo, na área da inclusão.
Na cerimônia de abertura da Feicoop, pautei essas cobranças e afirmei que a economia solidária não compete com o grande negócio e é uma alternativa poderosa de geração de trabalho e renda, demanda urgente em uma sociedade de quase 30 milhões de desempregados e desalentados. Também ressaltei que, na Assembleia Legislativa, o meu mandato, junto com outros colegas parlamentares, irá cobrar com vigor que o governo Leite revise a relação distante e gélida que manteve, até o momento, em relação ao segmento.
Todas as políticas públicas merecem respeito, mas a promoção da inclusão social tem de ter atenção especial, pois o enfrentamento à desigualdade é o principal desafio do Brasil na contemporaneidade. Enquanto formos um país desigual, seremos um país pobre e dependente, goste ou não quem habita no andar de cima da nossa pirâmide social.
Por tudo isso, vida longa à economia solidária! Vida longa à Feicoop, maior evento de Santa Maria e maior evento de economia solidária da América Latina. E vida longa à caminhada dos pequenos, que, passo a passo, superando obstáculos e preconceitos, contribuirá, ao final, para a construção de uma sociedade mais justa, solidária e livre de injustiças e intolerâncias.
(*) VALDECI OLIVEIRA, que escreve sempre à sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto da edição deste ano da Feicoop, que ilustra este artigo, é de Maiquel Rosauro, assessor de imprensa do evento e também da equipe deste site.
Anos atrás comentei no site que subsídio sempre termina ou diminui de valor até ficar irrelevante. Até na França já aconteceu isto.
Evento teve propaganda ideológica, encontro de MST, propaganda de políticos ligados a esquerda, etc.
Que tal cobrar um pila de entrada no evento? São 300 mil reais a mais!