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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e alguns porquês da incrível falta de respeito para com quem vive da arte

Respeitem xs artistas

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Os diversos significados do substantivo “respeito” não estão entre as coisas que o brasileiro “médio” costuma seguir com mais zelo. De forma mais ou menos geral, as pessoas – de todas as camadas sociais, mas com mais desenvoltura nas classes média, média-alta e alta, onde o individualismo é considerado um “direito absoluto” – gostam de exigi-los, mas têm dificuldades para praticá-los.

Isso é mais verdade ainda se o ato de respeitar pressupõe mudanças em comportamentos que eram “naturais” para quem sempre deu as cartas. É o que explica, por exemplo, a mania de reclamarem do “politicamente correto”, geralmente associada à afirmação de que “o mundo anda tão chato”…

Como assim, “mundo chato”, cara pálida?

Sim, deve ser muita “chatice” ter que demonstrar algum respeito depois de 500 anos de discriminações, violências, exclusões e impunidades. É “duro” ter perdido aquela desenvoltura (tão típica da minha geração e das que a antecederam, mas também presente nas novas) para fazer “graça” com as vulnerabilidades ou com as características de outras pessoas. Aliás, esse é um excelente exemplo dos hábitos paridos pela ética básica da nossa herança colonialista e escravocrata: pisar nos mais “fracos” e agradar aqueles que são considerados mais “fortes”.

Talvez seja também por isso (e não apenas por ignorância) que há tanta dificuldade, na sociedade brasileira, em respeitar xs artistas. Não me refiro à admiração pela habilidade demonstrada por alguém, mas em ter real consideração pela atividade escolhida por essa pessoa como meio de vida, mesmo quando ela oferece, além de mais obstáculos do que outras, recompensas financeiras menores.

Infelizmente, não é raro nos depararmos com um certo desdém ou, até mesmo, com um explícito desprezo por quem vive de dança, teatro, cinema, música, artes visuais, literatura ou outras formas de expressão – como se essas áreas da vida humana só se prestassem ao diletantismo de senhoras desocupadas e bem-casadas.

Certamente é difícil alguém enriquecer como artista mas, com muita luta e inventividade, a profissionalização dxs artistas brasileiros torna cada vez mais dignas as vidas de trabalhadorxs e de empreendedorxs da cultura. Sim, TRABALHADORXS e EMPREENDEDORXS, que geram, além de um imenso capital humano e artístico, milhares de empregos e uma expressiva arrecadação de impostos. Só no caso do cinema e do audiovisual, mais de 300 mil postos de trabalho e 0,5% do PIB brasileiro, para termos uma ideia.

Mas “essa gente” incomoda os intolerantes, os ignorantes, os desumanos, os autoritários e seus asseclas. Não é por nada que entre os primeiros alvos do néscio estão as universidades, as ciências e as artes. Como disse Einstein, “a mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original” e são essas áreas que expandem mentes, conceitos, valores e horizontes. Ou seja, é preciso destruí-lxs, se é impossível domá-lxs.

E, não se iludam, a maioria dxs artistas é indomável. Para a insônia “dissudaí”, essas pessoas “são resistência” mesmo nos piores dias.

(*) LUCIANO DO MONTE RIBAS é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública. Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

OBSERVAÇÕES DO AUTOR: Foto – registro de movimento da bailarina Lívia Thomas no espetáculo “Alice no País das Maravilhas”.

Aqui uma excelente definição de “respeito”: https://conceito.de/respeito

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