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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas vai além do gênero, ou Cristo(?), para mostrar quão sombrio é este tempo

Cis, hétero, branco e de meia-idade

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Não entendam como blasfêmia, mas o título deste breve texto poderia se referir a Jesus Cristo ou, ao menos, à imagem dele instituída na Europa medieval e que é amplamente reproduzida pelo senso comum. Mas, tranquilizem-se, pois não se refere – até porque a tradição diz que Jesus teria 33 anos no momento em que os “cidadãos de bem” da sua época o colocaram na cruz. Longe da meia-idade, portanto.

Na verdade, o título fala de mim mesmo. Me identifico com meu sexo biológico, tenho uma orientação sexual que a Damares certamente considera “bem normal”, minha pele tem um tom que, no Brasil, não atrai olhares desconfiados e, no último dia 29, completei 47 anos.

Se meus valores e minhas opções de vida não fossem de outra matriz, eu poderia abraçar com facilidade o perfil mais agressivo e fundamentalista do proto fascismo brasileiro: o homem em crise de identidade, perdido num mundo do qual ele não é mais senhor, sendo cada vez mais contido pelos limites da civilização e que, ao ser incapaz de lidar com tudo isso, encontrou na violência real e/ou simbólica o seu “refúgio”. Se olharem para o “topo da nação” verão a tradução mais bem acabada dessa descrição, acrescida de belas doses de insanidade e de canalhice.

Minha opção, porém, vai no sentido oposto. De tudo o que tomei contato sempre procurei extrair o que é mais abrangente na solidariedade, na aceitação das diferenças, na promoção da igualdade de oportunidades, na adoção de práticas democráticas, no diálogo e no combate às discriminações e às injustiças. Do cristianismo à Escola de Frankfurt, da ágora à Bastilha, de Hamurabi a Boaventura de Sousa Santos, a síncrese sempre foi o meu “método”. E espero que sempre seja.

Há alguns dias, um comentarista de Facebook (que detesta o meu jeito de pensar mas não consegue ficar longe dos meus textos) me chamou de “ingênuo” e desdenhou do meu “mundo ideal”. Foi isso ou algo nesse sentido, confesso que não procurei resgatar literalmente o que ele escreveu.

O que para ele seria algum tipo de crítica ou “ofensa”, me causa apenas indiferença. Isso porque o que dá sentido a minha existência é carregar viva uma utopia que, embora eu não possa definir com precisão qual é, me faz seguir em frente e não me transformar no estereótipo que descrevi no terceiro parágrafo.

Afinal, sempre respeitando e defendendo o “lugar de fala” e o protagonismo dos grupos e dos indivíduos que ergueram as suas vozes para dizer um basta à opressão e à discriminação, é preciso que um homem cis, hétero, branco e de meia-idade tenha valores feministas, não dê trégua ao racismo, combata a LGBTfobia, defenda o respeito aos povos originários e apoie todas as lutas que ajudem a tornar o mundo mais humano, justo e solidário.

Minha geração nasceu e cresceu achando normal o racismo, a homofobia, o machismo, a destruição da natureza e toda uma série de coisas que pareciam estar desaparecendo aos poucos e que, nos últimos tempos, tomaram novo fôlego. Paradoxalmente, somos também a geração que começou a efetivamente por abaixo essa normalidade mórbida.

Pois agora temos outra tarefa a cumprir. Precisamos dizer às pessoas das novas gerações que elas não podem viver como se vivia no século XX, que é inadmissível que jovens papagaiem a ideologia do “fodam-se os outros”. As pessoas precisam saber que, sem dignidade para todxs, não haverá muros, grades, alarmes, câmeras e armas suficientes para segurar os excluídos quando a panela de pressão explodir.

Infelizmente, quando isso acontecer não será “revolução”, mas apenas barbárie e violência. E nisso não haverá nada de ingênuo ou de bonito.

(*) LUCIANO DO MONTE RIBAS é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública. Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A foto, também do autor do artigo, é da réplica do “David” de Michelangelo, exposta na Piazza della Signoria, em Florença.

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