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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e as óbvias “razões” da morte de crianças inocentes, pelo genocídio carioca

“Se vai morrer alguns inocentes, tudo bem, tudo quanto é guerra morre inocente”

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

Essa frase tirada de seu contexto é terrível. Porém, quando contextualizada consegue ser pior ainda. Afinal, não foi dita por um simples imbecil, mas por um imbecil com poder para facilitar um extermínio e com influência ainda suficiente para incentivar que outros milhares de idiotas se considerem “empoderados”.

O problema é que, quando não há limites, inocentes realmente morrem. A menina Ágatha Felix é um dos exemplos mais recentes – e com maior apelo midiático – das consequências trazidas ao retirar os limites dos agentes do Estado. Outra é o absurdo aumento das mortes de policiais em confrontos. Nessa “lógica” surreal, morrem pessoas pobres de ambos os lados do fuzil, já que o presidente néscio, seus garotos mimados ou os oficiais com polpudos salários não irão para o “combate”. No máximo farão um voo de helicóptero para dispararem a esmo.

Na verdade, todas as guerras são feitas assim: homens de idade avançada, em gabinetes confortáveis, mandando jovens e pobres para se matarem. Bravateiros, lunáticos, sociopatas, espertalhões, paus mandados das grandes corporações, fanáticos religiosos, frustrados sexualmente ou simplesmente imbecis empoderados são os que criam as situações e tomam as decisões que antecedem as tragédias.

Entre essas decisões está o uso da palavra “guerra” para definir uma situação que, na verdade, é de segurança pública. Há criminalidade e violência reais (que precisam ser combatidas de diversas formas) mas há, sobretudo, uma tremenda vontade de explorar politicamente o medo, especialmente entre as pessoas de classe média. Na verdade, gente como o atual presidente e o governador do Rio de Janeiro são vampiros que se alimentam desse medo tanto quanto dos preconceitos, da ignorância, do machismo, da intolerância e das frustrações.

Diante de tudo isso, é legítimo nos questionarmos se poderia ser diferente. Para mim, modestamente e sem “entender” de segurança pública, a resposta é evidente: sim, tanto que já o foi, pois enquanto as políticas de pacificação tiveram suporte, priorização, coordenação, inteligência e investimentos os resultados apareceram sem que uma pilha de cadáveres de crianças e jovens surgisse junto. Quem esteve ou morou no Rio viu, mesmo com limites, problemas e até alguns efeitos colaterais, que é possível fazer um outro tipo de política de segurança eficiente.

Há um vídeo do avô de Ágatha questionando, em desespero, as circunstâncias da morte da neta. Ele é preto, é pobre e é da periferia, como a neta. Não tem carro blindado, não tem guaritas, não mora na Barra ou na Zona Sul. Ambos “existiram” para a sociedade por conta de uma bala perdida, “fenômeno” que dificilmente ocorre nos bairros nobres de qualquer cidade do mundo. Em pouco tempo serão esquecidos pela imprensa e por todos nós, substituídos por outras pessoas pobres e periféricas, a maioria delas pretas, vitimadas em circunstâncias similares.

Para Bolsonaro não haverá problemas. Sempre morrem inocentes de 8 anos, não é mesmo? O que me leva a pensar que talvez não morram Jairs, Flávios, Eduardos, Carlos, Queiroz, Wilson, Helenos e outros boquirrotos porque a inocência, lato sensu, há muito não lhes pertence.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema e já exerceu diversas funções, tanto na iniciativa privada quanto na gestão pública. Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

OBSERVAÇÕES DO AUTOR: Foto: crianças visitando o Museo Nacional de Bellas Artes (MNBA) em Santiago do Chile, no mês de maio de 2018.

Aqui uma definição de “inocência”: https://www.dicio.com.br/inocencia/

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