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O umbigo de cada um – por Luciano Ribas

Tem gente que passa a vida inteira pensando apenas no seu próprio umbigo. Não são, necessariamente, pessoas más, mas todas são egoístas e moralmente pequenas. Gentinha, noutras palavras.

Pois eu cansei de pessoas assim. Na verdade, nunca gostei. Não consigo entender como é que alguém acha que pode viver feliz sem que as outras pessoas que nos acompanham nesse mundo também vivam bem. E quando digo “viver bem”, me refiro as coisas elementares: comer, vestir, estudar, passear, consumir, viajar, conhecer, entender, criar e outras coisas simples, mas que tornam a vida plena.

Não acho que todo mundo precise possuir as mesmas coisas, mas tenho certeza de que é muito errado alguns terem tudo e muitos não terem quase nada. Apenas sociedades onde a desigualdade econômica é pequena e o direito a viver as diferenças é respeitado são realmente prósperas e felizes. São lugares como a maior parte da Europa Ocidental, o Canadá e alguns outros cantos do mundo, que só chegaram nisso porque um dia investiram em quem não tinha muita coisa. Ou seja, porque as pessoas que podiam pensar além da sobrevivência imediata decidiram que não poderiam ficar olhando apenas para os seus umbigos.

Pois tais países começaram essa mudança muito antes de nós. Por aqui, a realidade era quase a “guerra de todos contra todos” do estado de natureza de Thomas Hobbes: esmola e cacete para os miseráveis, não necessariamente nessa ordem. Foram 502 anos (com diminutos intervalos) de governos sem nenhuma sensibilidade social, situação que começou a arduamente mudar apenas em 2002 com a eleição do presidente Lula. Foi apenas com ele que tivemos algo semelhante ao que os americanos viveram nos anos 30 com o New Deal criado pelo presidente Roosevelt, numa comparação um tanto quanto livre.

O resultado é que a situação melhorou para todo mundo. Mais para uns, menos para outros, mas na média estamos todos vivendo melhor do que antes do presidente xingado de analfabeto por gente que se cagaria perna abaixo só de pensar em parar na frente de um George Bush, por exemplo. Pois o “analfabeto” fez exatamente o contrário, aquilo que o intelectual Chico Buarque de Hollanda registrou como elogio: nem falou fino com os Estados Unidos, nem roncou grosso com o Paraguai e a Bolívia. Foi um estadista, portanto, que só o preconceito burro insiste em não reconhecer.

Toda e qualquer pessoa tem o direito sagrado a pensar diferente e votar diversamente dos outros. Mas não por preconceito ou egoísmo. Votar no candidato que representa o tempo do Brasil abobalhado, sedado pelo canto da sereia do vale-tudo neoliberal (que quebrou o mundo, diga-se de passagem) é legítimo como opinião ideológica: sim, eu quero votar em alguém que defende que cada um se vire por si – e não se engane, é isso que José Serra representa.

Mas se você se disser cristão, budista, socialista, humanista ou qualquer outro “ão” ou “ista” que tenha no respeito ao ser humano a medida de todas as coisas, tem a obrigação de pensar também no umbigo dos outros e votar Dilma. Pelos milhões que saíram da pobreza, entraram na universidade, subiram para a classe média, conquistaram um emprego, mas também por você mesmo. Se perdermos a chance de completar esse processo que está convertendo o Brasil à condição de nação plena, talvez só nos restem os muros, as cercas elétricas, os alarmes e as armas para defendermos a sobrevivência de quem amamos, pois, infelizmente, umbigos que passam fome costumam reagir violentamente. Portanto, parodiando o Rappa, paz sem voz e sem justiça social não é paz, é medo e ilusão.

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