A busca de um novo modelo de desenvolvimento econômico e social frente ao liberalismo econômico
Por DANIEL ARRUDA CORONEL e MARIONALDO DA COSTA FERREIRA (*)
Desde o início de 2019, a sociedade brasileira vem observando um novo modelo de desenvolvimento econômico e social, com ênfase na abertura econômica, na desregulamentação do capital, no enxugamento da máquina pública, na diminuição do papel do Estado, através do amplo corte de despesas em educação e tecnologia, o qual é fundamental para uma estratégia de longo prazo.
Neste contexto, surgem várias indagações sobre a eficiência e eficácia deste modelo e os possíveis resultados disso, contudo uma simples análise da historiografia econômica mostra que as nações que se desenvolveram tiveram seu modelo balizado no nacional desenvolvimentismo (EUA, China, Japão, Inglaterra).
O desenvolvimentismo econômico tem como ênfase o setor produtivo, sendo a indústria a mola propulsora da economia; os investimentos em capital humano, através de fortes aportes financeiros em ciência e tecnologia, bem como em profissionais bem capacitados e bem remunerados; a adequação do arcabouço institucional para os investimentos do capital privado, o qual é fundamental para o empreendedorismo, para a geração de empregos e de impostos.
Além disso, o desenvolvimentismo apregoa a responsabilidade macroeconômica, com controle das taxas de inflação, de juros, de finanças públicas em equilíbrio, de uma reforma gerencial na estrutura do Estado, o qual corrobore para uma maior eficiência e eficácia na gestão pública, afastando o patrimonialismo e o clientelismo, os quais corroem e levam à ineficiência destas instituições. Também defende o câmbio competitivo e a defesa dos interesses do setor nacional, através de uma diplomacia forte, tendo o bem-estar nacional como foco.
A experiência desenvolvimentista no Brasil, de 1930 a 1980, embora tenha deixado a desejar, através de inflação e instabilidade econômica, é o caminho a ser trilhado visando a um novo patamar de crescimento com justiça social, com redução das disparidades econômicas e, principalmente, como estratégia aos modelos de cunho liberal, cujos resultados provocaram aumento do desemprego, maiores disparidades econômicas e sociais e cujos resultados só servem para ilustrar os manuais de economia de inspiração neoclássica, cuja aplicação não serve para a realidade econômica das nações.
(*) Daniel Arruda Coronel é Professor Associado da UFSM e Doutor em Economia Aplicada e Marionaldo da Costa Ferreira é Servidor Público Federal e Psicanalista em formação.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a fotografia que ilustra este artigo não tem autoria determinada e foi reproduzida do site demonstre.com (AQUI, no original)
Dando risada. A ‘historiografia econômica’ no Brasil é um pouco diferente. Estados Unidos é (ou foi) a potencia que é hoje porque saiu da Segunda Guerra Mundial com o maior parque industrial do planeta. Reino Unido foi um império, decaiu. Ignorar como estava a economia britânica e como ficou depois de Margaret Thatcher é no mínimo pouco aconselhável. Japão vinha se modernizando antes da Segunda Guerra, saindo do período feudal. Foi destruído no conflito, recebeu muita ajuda americana, principalmente na época da Guerra da Coréia. Teve um primeiro ministro certo na época certa (ou seja, fator sorte). Na China todos falam no progresso recente, mas ignoram o Grande Salto Adiante onde a economia planificada resultou na morte de milhões.
Experiência desenvolvimentista no Brasil não foi até 1980. A Nova Matriz Econômica do período petista também era desenvolvimentista, outro fato omitido para ‘reforçar’ os argumentos quase inexistentes.
Desenvolvimentismo necessitaria de pessoas certas nos postos corretos fazendo escolhas acertadas. Material humano nos estamentos dirigentes do país visivelmente não se enquadram na descrição. Alternativas erradas no planejamento fracassam rapidamente. Imprescindível também seria um grande consenso politico no nível nacional (não está a vista) ou uma ditadura (mesmo assim o modelo chinês não é ‘copiável’). Estes são alguns dos óbices só no nível macro, no micro seria necessário, para começo de conversa, uma mudança cultural, um ethos laboral diferente, a mentalidade de que as coisas grandes e importantes só vem depois de muito tempo, com muito esforço, muito sacrifício e muita disciplina. O resto são sonhos de uma noite de verão de burocratas.