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Contratiempo: São Gabriel, sorte de quem? – por Marcelo Arigony

O caso do garoto morto, as polícias e a vida que não pode imitar a arte

O filme Sorte de Quem (2022) evoca temas como raça, gênero, valor do dinheiro, diferença de classes sociais, mérito, privilégios, humanidade, confiança, decepção e traição. Mas, para além disso, também veste a eventualidade com a farda do protagonismo; mostra como a força do acaso pode levar à progressiva tomada de decisões deletérias, contrariando valores pessoais do ser humano.

A história inicia com um indivíduo sentado em uma casa de campo, a contemplar aquele doce momento. A seguir ele passeia pela casa, olhando e examinando os cômodos. Ele não entrou ali para furtar, não queria fazer qualquer mal. Pode-se inferir que ele está ali apenas por curiosidade; queria ver a casa, queria ver como seria ter aquela vida, estar ali, talvez morar ali.

Na outra cena o acaso toma as rédeas, e se torna um velhaco protagonista, fazendo com que aquele homem aparentemente bom seja compelido a tomar decisões que vão gerando consequências cada vez mais graves e funestas. A história termina muito mal. O título deveria falar em azar, não em sorte, porque a desventura reinou absoluta.

https://www.netflix.com/br/title/81483895

No filme Contratiempo (2016), em meio a um emaranhado de situações que o consagram como grande obra, também vemos o acaso entre os protagonistas. Um casal adúltero se envolve em um acidente de trânsito com vítima fatal. E, como não poderiam estar ali, resolvem esconder o corpo sem avisar as autoridades. E partir de então a casualidade passa a criar desdobramentos que escapam ao controle, e mostram que a verdade deve ser uma só.

https://www.netflix.com/es/title/80093106

O caso de São Gabriel ainda não foi esclarecido. Não devemos prejulgar ninguém, mas é cediço que algo não saiu como previsto. Há diversas circunstâncias a serem esclarecidas. Quem labuta na atividade policial sabe que estar na linha de frente não é fácil, e muitas vezes as coisas não saem como pretendido. Mas essa é a hora em que o policial deve responder pelo erro. Se for verdadeiro, sai chamuscado, mas não se queima. Ali a palavra de ordem tem de ser confiança. As polícias são a última barreira entre o bem e o mal. Ali a vida não pode imitar a arte.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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4 Comentários

  1. Policias não são ‘ última barreira entre o bem e o mal’, o que implicaria juizo de valor. Função delas é determinado legalmente. Obvio que se o ‘legalmente’ causa uma impunidade sem limites (mais um caso de descasamento entre teoria e mundo real) casos deleterios surgem. É da natureza humana. Resumo da ópera: realidade é o que não passa no noticiário da midia tradicional.

  2. Caso de São Gabriel não é algo do que se ocupar. Basta saber que o rapaz morreu e as autoridades estão investigando. Apesar do esforço é complicado ignorar porque a Rede BullShit montou um circo midiatico. Burrice, má fé, incompetencia, não é problema meu. ‘Fazer exemplo’? Burrice, simples assim. Nenhum espanto, tem gente naquela empresinha que tenta ensinar até como os outros tem que criar a prole. Como se o mundo se definisse num colegio particular de classe media alta de POA. Midia local (que escamoteou um arrastão em colegio local, algo ligado a bondes e gangues de adolescentes, isto não se discute) por preguiça, incompetencia, burrice ou má fé copiou o circo midiatico da capital. Nenhum espanto, alguns anunciantes tem ligação com os acionistas das emissoras, tudo fica em casa, é uma bolha (deve haver algum ‘planejamento tributario’ no meio). Alás, unico detalhe que chamou atenção (além da repetição do assunto sem novas informações e o martelamento dioturno), sair de Guaiba para ir até São Gabriel para se alistar não é algo impossivel, mas pouco provavel. Primeiro porque pode ser feito com um ‘bate e volta’. Segundo, alistamento pode ser feito online, qualquer dois ou tres pila (mais barato que a passagem) num lugar onde se oferece o serviço de acesso a internet resolvem.

  3. Vida imitar a arte é um chavão que o pessoal da ficção vive repetindo. Obvio que é uma asneira. A criatividade humana é limitada. Outra: muita gente acha que pode adivinhar o mundo dentro de um gabinete com ar condicionado. Ligam acontecimentos isolados com ‘causas e efeitos’ imaginarios. Muita Fake News e teorias da conspiração saem daí. Exemplo? Traficantes cansados de trocar droga por sexo com ‘cracudas’ no RJ fazem elas transarem com cachorros. PM’s de UPP descobrem e resolvem levar as ditas cujas para o container e usufruir dos serviços libidinosos. Não pagam. As dependentes quimicas denunciam para a corregedoria. PM’s são expulsos. Resumo é obvio, barbaridades de todos os generos acontecem no pais e no mundo todos os dias. As possibilidades não são limitadas.

  4. Começo de conversa: para assuntos de filmes é melhor ler a Bianca Zasso. Pode-se até não concordar com o que ela diz, mas ao menos domina a teoria/ideologia do audiovisual tupiniquim. Vamos combinar ‘raça, genero, valor do dinheiro, diferença de classes sociais, mérito, privilégios, humanidade’, ou seja, é um catálogo de vermelhices. Segundo, lembro o filme ‘Parasita’ que ganhou o oscar em 2019. Nada de novo, dizem que só existem 7 historias e o talento é não deixar evidente as referencias. Alás, ‘Central do Brasil’ chupinhou ‘Alice nas cidades’ de Wim Wenders que chupinhou ‘O Garoto’ de Charles Chaplin. Alás, Fernanda Montenegro (já na fase de ‘cara de cachorro pidão’) já tinha passado do auge da capacidade interpretativa. Nada incomum, ninguém pode ser bom no que faz 100% do tempo, é fazendo c@g@d@s que se aduba a vida. Anthony Hopkins fez um filme, ‘O Ritual’, onde interpretou um Hannibal Lecter de batina. Atriz tupiniquim perdeu o Oscar para Gwyneth Paltrow, uma iniciante, interpretou uma mulher tendo que se travestir de homem para atuar, ou seja, a politica falou mais alto. Sem susto, Nicolas Cage, dos Coppola, tem Oscar de melhor ator. Da séria serie ‘premios que não dizem nada’.

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