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ARTIGO. Valdeci Oliveira e o protesto contra ‘política de arrocho e liquidação do patrimônio público’ gaúcho

Na Black Friday estatal de Leite, só os privilegiados ganham

Por VALDECI OLIVEIRA (*)

Antes de se ser uma necessária crítica à política e ao desrespeito que o governo Eduardo Leite vem impondo ao conjunto do funcionalismo público gaúcho, este artigo reflete a minha tristeza, perplexidade, revolta e indignação diante de tamanha vilania e falta de sensibilidade do atual ocupante do Palácio Piratini. Uma perplexidade e uma revolta que, tenho certeza, não são sentimentos apenas meus.

Nos próximos dias, os trabalhadoras e trabalhadores públicos vão completar cinco longos anos sem reajuste sequer da inflação, que vem corroendo seus já parcos salários, pagos sempre de forma parcelada ou atrasada. E agora estão sendo chamados a dar nova e ainda mais terrível cota de contribuição para tirar o estado da letargia econômica, ampliando ainda mais a pauperização de suas vidas.

Nas últimas semanas, nós, parlamentares do Rio Grande, estamos sendo “inundados” de mensagens que partem de todas as regiões do estado com pedidos desesperados para que votemos contra o pacote do governo com medidas radicais contra os trabalhadores e trabalhadoras estaduais. Na mesma linha, muitas câmaras de vereadores, entre elas a de Santa Maria, também estão nos remetendo moções de repúdio ao pacote, pois sabem que seus municípios serão afetados profundamente com as pretensões do governo.

A realidade hoje não se mostra mais triste e preocupante para os servidores do que foi quando teve início o parcelamento e os atrasos em seus salários, há quase 50 meses, pelo governador que antecedeu Leite.

Passado todo esse tempo, esses trabalhadores chegaram à conclusão de que foram sacrificados e perseguidos durante esse longo período por nada. Tiveram seus salários corroídos pela inflação, presenciaram suas funções e locais de trabalho serem extintos, viram a redução do estado ser posta em prática, assistiram a colegas entrando em depressão ou partindo para bicos para sustentarem suas famílias.

Tudo isso por nada, pois o estado continua em crise, a população continua sem saúde, segurança e educação de qualidade. A falta de recursos alegada pelo antigo e atual governos, mesmo tendo um fundo de verdade, foi banalizada para justificar toda uma política de arrocho e liquidação do patrimônio público. Uma verdadeira Black Friday estatal.

Sim, existem outras opções que não a diminuição do estado, a extinção da pesquisa, a entrega das nossas empresas, o arrocho salarial e a retirada de direitos dos trabalhadores. Existe a opção de direcionar o poder público para que este seja indutor de políticas de inclusão, de desenvolvimento sustentável, de apoio às nossas cadeias produtivas. Existe a opção de levantar da cadeira, arregaças as mangas, ser criativo e ir atrás de programas e políticas internacionais de fomento.

Os trabalhadores do setor público novamente estão sendo colocados perante a sociedade como um fardo a ser carregado, escondendo que sem essas pessoas todos ficaremos sem os serviços a que temos direito.

Sem atingir os grandes privilegiados, o pacote do governo acaba com as gratificações de tempo de serviço, desfigura carreiras, reduz remunerações, desmotiva quem está trabalhando, torna desinteressante futuros ingressos e joga toda a prestação do serviço público na vala da mediocridade. Atira os professores, policiais, agentes penitenciários, trabalhadores da saúde e os servidores em geral na sarjeta da indigência. Achata os níveis de promoção e transforma o piso do magistério em teto salarial.

São medidas impregnadas de preconceito com a coisa pública, que revelam o total desinteresse de certos segmentos da sociedade que – privilegiados – podem pagar pelo que necessitam. E seus governos amigos, aplicam fórmulas que não deram certo quando aplicadas nem aqui nem no exterior, mas que continuam sendo colocadas em prática em nome de uma pretensa, mas falaciosa eficiência estatal.

Não se conquista desenvolvimento econômico arrochando salários no serviço público. Menos ainda precarizando os serviços estatais destinados à população. E o mais inacreditável é quem quer dar vida a esse “monstrengo” é justamente quem defende a meritocracia no serviço público. Se assim fosse, não apresentaria medidas prevendo que a diferença salarial entre o educador com ensino médio e aquele com doutorado seja de 7%.  Ou que uma professora com doutorado e com jornada de 40 horas se aposente com R$ 3,8 mil.

Se as medidas forem aprovadas, teremos casos em que trabalhadores com vencimentos de R$ 1,5 mil mensais perderão perto de R$ 1 mil por ano. E quem recebe R$ 3,5 mil terá mais de R$ 4,5 mil tirados do seu sustendo anualmente.

Sugestão ao governador Leite: em vez de apresentar essas medidas antipovo e antifuturo, apresente um projeto de desenvolvimento para o Rio Grande. Passaram-se já 12 meses de gestão tucana e, até agora, a pauta apresentada à sociedade resume-se a vender o Estado e a massacrar os pequenos.  Além de obsoleta, essa agenda é absolutamente tacanha para quem se elegeu prometendo criatividade, ousadia e agilidade.

(*) VALDECI OLIVEIRAque escreve sempre à sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

OBSERVAÇÃO DO EDITORa foto que ilustra este artigo, de Giulia Cassol (Reprodução do jornal eletrônico Sul21), é de manifestação diante da Assembleia, nesta quinta, mostra mulheres de brigadianos na frente do protesto.

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