Jobim na Rússia. Mídia grandona (e a que se acha) se concentrou em discutíveis questões
Não vou sequer fazer juízo de mérito. Isso fica com você, leitor. Só convido à leitura do texto do experimentado (cobriu o Poder desde sempre) jornalista Carlos Brickmann, que passou por todos os grandes veículos de comunicação do País e hoje se dedica a atividades de consultoria, sempre tendo a mídia no seu dia-a-dia. Ele assina a muito saborosa coluna Circo da Notícia, no site especializado Observatório da Imprensa. Acompanhe:
Coisas mesquinhas
Um bom exemplo da falta de sintonia dos meios de comunicação com a realidade dos fatos é a cobertura da viagem do ministro da Defesa, Nelson Jobim, à Rússia. Anuncia-se, como se fosse um escândalo, que a comitiva recebeu convites para assistir ao Balé Bolshoi (nas matérias, o preço de cada ingresso), que as despesas são pagas pelo governo russo, que os visitantes, a convite, conhecerão as maravilhas do Museu Hermitage, em São Petersburgo, que o jantar foi pago pelo famoso ouro de Moscou.
E daí? Qualquer ministro ou autoridade que visite outro país, em caráter oficial, receberá de presente uma série de gentilezas, de jantares excepcionais, com ótimos vinhos, a tours especiais pelas atrações turísticas da região. Se o presidente russo Vladimir Putin for aos Estados Unidos, tem grande possibilidade de ficar em Camp David, de visitar o Guggenheim, de levar os netos à Disney. Ninguém imaginaria que, estando numa visita que pode eventualmente redundar em negócios, o ministro da Defesa do Brasil tivesse de levar seus acompanhantes ao McDonaldoff, só para se orgulhar de dizer que nada recebeu dos anfitriões.
Para citar o ex-presidente Sarney, não são só os cargos que têm uma liturgia: as viagens oficiais também. E ninguém pode imaginar que um ministro brasileiro tome uma decisão estratégica, que envolve alguns bilhões de dólares, porque lhe serviram um caviar de boa qualidade. Isto é minimizar as pessoas (ou, pior, significa que os repórteres aplicam a autoridades o comportamento que, em situação idêntica, julgam que teriam).
A palavra do mestre
Há alguns anos, durante as tradicionais discussões sobre que tipo de presente de Natal os jornalistas poderiam aceitar sem problemas, surgiu uma questão: alguém mandara canetas-tinteiro Sheaffers, muito bonitas, para um grande grupo de pessoas. O caso foi levado ao supremo condutor da empresa: Octavio Frias de Oliveira. Ele, com seu agudíssimo bom-senso, perguntou:
– Vocês acham que estão sendo comprados com essas canetas? Vocês se vendem tão barato assim?
Como de hábito, seu Frias tinha razão: usei a caneta por algum tempo, com muito prazer (tenho coleção de canetas-tinteiro), até que foi roubada. E ninguém se sentiu comprado com a gentileza – tanto que hoje nem consigo lembrar quem foi que a enviou…
EM TEMPO: o Octavio Frias de Oliveira, citado por Brickmann, vem a ser o falecido dono do principal jornal do país, a Folha de São Paulo. O jornalão paulista é dirigido, hoje, por seus filhos.
SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui a íntegra da cada vez mais inteligente e educativa coluna Circo da Notícia, de Carlos Brickmann, no Observatório da Imprensa.
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