Uma mãe e duas histórias – por Bianca Zasso
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Até onde você iria por um filho? Esta pergunta já rendeu para o cinema. História de mães e pais que enfrentam a justiça, a medicina e até outras famílias para defender suas crias costumam render dramas pesados, daqueles que pedem uma caixa de lenços ao invés de um saco de pipoca. Só que nem tudo é amor nessas relações. O diretor coreano Bong Joon-Ho que o diga.
Depois do sucesso de O hospedeiro no ocidente, Joon-Ho lançou Mother, que no Brasil recebeu o dispensável subtítulo A busca pela verdade. Apesar de ter vários elementos do subgênero whodunit, onde o objetivo principal é descobrir o autor de um crime, Mother é um tratado sobre os sentimentos extremos e as carências humanas. A protagonista, interpretada pela ótima Kim Hye-Ja, é mãe de Do-Joon, que tem 27 anos mas a mentalidade de uma criança de 7. Dependente e influenciável, ele vive se metendo em confusões, o que faz com que sua mãe viva em eterna tensão. Os pequenos delitos do filho são parte do cotidiano e a própria polícia local conhece a ingenuidade do garoto. As coisas mudam de grau quando uma garota de 15 anos é assassinada e o principal suspeito é Do-Joon.
As pistas falsas que o roteiro de Mother espalha lembram as técnicas de Hitchcock para prender a plateia. Mas o suspense do filme torna-se um detalhe quando focamos nossa atenção na personagem da mãe e sua obsessão por provar a inocência do filho. Se os primeiros momentos da personagem davam a entender que ela era uma mãe superprotetora e talvez responsável pelo jeito infantil de Do-Joon, ao longo da trama somos apresentados a uma mulher que se mostra cega quando os fatos dão a entender que seu “bebê” não é inocente. Ela está em busca da verdade desde que esta não faça seu filho permanecer na cadeia. Os dilemas e até a imaturidade da mãe dão o tom do longa e, mais importante que conhecer o verdadeiro culpado é saber como a mulher irá lidar com a situação.
Mother segue a linha do jovem cinema coreano, com violência gráfica e sangue vermelho aos litros. Mais que sangue, o fluxo de líquidos que permeia o filme é uma metáfora para os caminhos incertos que a mãe protagonista irá seguir. Também somos presenteados com uma fotografia poética e bucólica, isso já na bela cena de abertura.
Os fãs do bom suspense terão em Mother diversão garantida. Mas vale a pena um segundo olhar. Mais do que surpresas, a obra de Bong Joon-Ho é um retrato de uma senhora que não soube resolver suas crises. Podemos notar isso em alguns breves momentos em que o filme nos apresenta passagens do passado da protagonista. Nada profundo, mas que planta a curiosidade em nossas mentes. Mother é dois em um: o filme na tela e o filme que nossa cabeça curiosa cria após o fim da sessão.
Mother
Ano: 2010
Direção: Bong Joon-Ho
Disponível em DVD
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