É CINEMA. Bianca Zasso e os motivos para o sucesso de Parasita e o esquecimento de Joias Brutas
As joias e a bruta flor do querer
Por Bianca Zasso*
Não se fala em outra coisa: Parasita, filme dirigido pelo grande Bong Joon Ho Levou o Oscar de Melhor Filme e tornou-se a primeira produção não falada em inglês a conseguir essa proeza. Um marco histórico que pode significar tanto o início de uma mudança na conservadora Academia quanto apenas um pequeno lapso de diversidade em um prêmio que pouco olha para fora dos Estados Unidos ao escolher seus indicados e vencedores.
Mas vamos falar (levemente) de outra coisa: Joias Brutas, filme dirigido pelos irmãos Benny e Josh Safdie não estava na lista do Oscar desse ano, mas apareceu em algumas premiações, especialmente por conta de seu protagonista, Adam Sandler, nome associado a comédias despretensiosas (e muitas vezes idiotas) que encara um papel dramático, mas nada inovador. Mas o que Parasita tem a ver com Joias Brutas? A resposta que esta colunista levou dias para concluir (sim, filmes nos atormentam por muito mais que duas horas) é que ambos utilizam técnicas de sedução do espectador muito semelhantes, mas com resultados diferentes.
Enquanto a família picareta de Parasita, por mais errante e disfuncional que seja, conquista nossa torcida a partir do momento em que adentra na mansão tecnológica de seus patrões bitolados, o vendedor de joias viciado em apostas Howard Ratner já entra em cena aos berros e seguirá assim por boa parte do filme. Intenso? Visceral? Não, apenas barulhento. Ao contrário da interpretação sutil e inteligente mostrada no ótimo Embriagado de Amor, Sandler opta por explorar a inquietude de seu personagem na décima potência e toma conta da tela no pior dos sentidos. O vício de Howard e, consequentemente, as dívidas acumuladas por conta dele, poderiam ser um caminho para que o público se envolvesse e, quem sabe, até nutrisse uma certa compaixão pelo caminho errante do protagonista. Mas a gritaria é tanta que desconcentra ao ponto de, lá no fundo de nossos corações, torcermos para que ele se ferre sem dó.
Os apaixonados por Joias Brutas (e não foram poucas as críticas positivas e até entusiasmadas) ressaltam o ritmo alucinado do roteiro e a potência da atuação de Sandler como os elementos que fazem o filme ser imperdível. Não se pode negar que os irmãos Safdie sabem conduzir uma trama de ação e as relações amorosas e familiares de Howard permeiam de forma bastante interessante o seu drama quase solitário. Mas o aparente desespero de Sandler em demonstrar o transtorno de um homem na base do grito acaba tornando suas parcerias cênicas opacas. Julia Fox e Idina Menzel quase somem ao dividirem a cena com o ator, quando poderiam construir uma parceria e, por consequência, um resultado poderoso na tela. Algo que o elenco afiado e afinado na mesma nota de Parasita faz com maestria.
Joias Brutas está longe de ser um filme dispensável e vale suas duas horas de exibição por conta das escolhas estéticas de seus diretores. Mas é preciso uma dose extra de paciência para os gestos largos e as falas histriônicas de Sandler não atrapalharem a experiência de acompanhar uma pedra preciosa que passa de mão em mão, repleta de simbologia. Esta que vos escreve recomenda, inclusive, um programa duplo de Joias Brutas e Parasita, para ir do escrachado ao sofisticado em pouco mais de quatro horas. É aquela coisa: as pedras rolam e a gente esquece. A bruta flor do querer bate e fica para sempre.
Joias Brutas (Uncut Gems)
Direção: Benny e Josh Safdie
Ano: 2019
Disponível na plataforma Netflix
Parasita (Parasite)
Direção: Bong Joon Ho
Ano: 2019
Em cartaz nos cinemas
*Bianca Zasso, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.
Me queimar? Nossa,adoro uma fogueira! Hehe
Sobre viver numa bolha que só aceita elogios, pode crer que o dia que um texto meu ou de qualquer colega aqui do site lhe agradar, vou repensar minha escolha pela crítica de cinema.
Enquanto incomodar alguns leitores, sei que estarei no caminho certo.
Kuakuakuakua! Bianca ‘se queimou’! Primeiro, enche o saco a insistência, a repetição. Ninguém minimamente racional vai mudar de idéia com isto. O chefe, cada um tem o que merece, orgulho da comunidade balizo-erexinense, está longe de ser exemplo, Jornalistas precisam de audiência. Caso contrário o texto perde o sentido de existir. Alás, se é para viver numa bolha onde todos elogiam não vejo sentido tampouco. Menos ‘ódio’ no coração. Kuakuakuakua
Ator emagrece/engorda e ganha premio. Coitadinha da Judy Garland. Alás, filme brasileiro perdeu para o dos Obama.
Linguagem cinematográfica? Ah, sim. O povo que fala javanês. Equivale a fazer anúncio publicitário em russo. O povo lesado precisa de um intermediário/sacerdote para compreender.
Do ‘ódio’ a condescendência, quanta maldade! Kuakuakuakua!
Caro Brando, se meu humilde texto encheu seu saco (e parece que não foi só esse que conseguiu essa proeza), basta não ler minha coluna quinzenal aqui neste sítio, como diz meu chefe Claudemir Pereira. Quanto as suas considerações sobre os prêmios, poderia ter sido mais específico sobre “clichês” e o que entende por “melodramas”. Não esqueça que, apesar de ser uma forma de entretenimento que permite mil interpretações, existe gente que estuda a linguagem cinematográfica para conseguir analisá-la de forma mais profissional e autêntica que um mero “eu acho” ou “na minha opinião”. Tenha um bom final de semana e vá ao cinema de coração aberto. Faz bem pra cabeça e acalenta o coração. 🙂
Parasita ganhou a Palma de Ouro em Cannes. Diversidade entra no campo ideológico. Nenhum problema, não me ocupo do assunto. Nem a favor, nem contra, muito antes pelo contrário. As pessoas tem o direito de atacar os moinhos de vento que quiserem, só não tem o direito de encher o saco dos outros.
Ultima vez que assisti um ganhador foi 2012, Argo, do arrogante ativista Affleck. Academia vai do mais do mesmo a necessidade de contentar a esquerda. Boas historias não são prioridade.
Oscar de melhor ator foi clichê (ator perdeu muito peso, papel já tinha dado o premio para outro; alás, não se sabe se o óbito entrou na conta). Melhor atriz foi para um melodrama autorreferente (para a indústria). Melhor maquiagem foi merecido.
Adam Sandler é conhecido por filmes ruins, principalmente comédias sem graça. Pelo trailer parece uma atuação estereotipada.
Resumo da ópera: prêmios não contam tanto assim. ‘Vale duas horas’ é critério que muda com o passar do tempo.