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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e os “novidades” surgidas, em tempos pandêmicos, nos bolsonaristas

Testemunhas de Bolsonaro

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)

A coerência não é exatamente uma virtude dos bolsonaristas, como até as pedras do calçamento da Avenida Rio Branco sabem.

O pouco dela que possuem se traduz na reprodução do comportamento de seu chefe, um homem que podemos caracterizar como alguém “linearmente aleatório”: não desvia jamais da missão de ofender a humanidade, não importando quantas coisas precise dizer ou desdizer para fazê-lo.

Porém, tanta incoerência das testemunhas de Bolsonaro talvez tenha gerado efeitos colaterais positivos. Nos últimos dias, “descobriram” duas coisas que insistiam em não enxergar. Duas “novidades” que merecem registro por sua óbvias relevâncias, mas também pela carga de ironia que nos permitem utilizar.

A primeira é que o bolsonarismo descobriu a pobreza e passou a se preocupar com ela.

Eu, sinceramente, nunca havia visto tanta gente das classes média, média-alta e alta (sem esquecer da pretensamente alta, é claro) tão preocupada com as pessoas pobres como vi nos últimos dias. Aliás, o poder da conversão foi tão grande que tanto os bolsonaristas “raiz” como os “de ocasião” conseguiram relacionar a pobreza com a violência! Na verdade, eu imaginei que veria até um “bandido bom é bandido sem fome” estampado nas timelines de algumas pessoas, mas ainda não chegaram a tanto…

Já a segunda é ainda mais intrigante, pois envolve as essências das ideologias clássicas.

Na semana que finda, os que se creem “liberais” e os demais integrantes do espectro de, vá lá, “pensamentos” que se reuniram para eleger o néscio, também descobriram que as riquezas são geradas pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras ao exercerem seus ofícios e produzirem excedentes. O isolamento social os fez “enxergar” que, sem o trabalho, não há capital empreendedor que pare em pé; afinal, se não há produção, trocas e pessoas remuneradas, não há atividade econômica capitalista, não é mesmo?

Diante da “grita” pelo fim da quarentena – não importando quantas pessoas venham a morrer em virtude disso – arrisco afirmar que a tradução óbvia é que os trabalhadores e trabalhadoras, formais ou informais, precarizados ou não, são verdadeiro motor da economia. Incrivelmente, como homens e mulheres de seu tempo, em pleno 2020 os bolsonaristas chegaram a uma conclusão do século XIX…

Quanto durará esse surto de preocupação social e “sinceridade” ideológica?

Tanto quanto uma opinião sensata do néscio mor, arrisco eu. Ou menos. Mas tudo estará registrado na imprensa, nas redes sociais e nas memórias de todos nós. E não deixaremos de usar sempre que for preciso ou conveniente.

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a foto: “trabalhadores, trabalhadoras e estudantes em vagão do metrô, em Santiago do Chile. Dois anos após essa foto, o que antes era um exemplo de sucesso explodiu em caos social”.

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