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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas, saída de Moro do governo, a resposta de Bolsonaro e as “mãos limpas”

Mani sporche (*)

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (**)

Olhando os ministros em volta do néscio durante o pronunciamento onde ele tentou apagar com gasolina o incêndio da saída de Sérgio Moro, não consigo deixar de pensar que ninguém aceita um cargo nesse governo impunemente.

Seja Mandetta, Moro, Guedes, Regina ou qualquer outra pessoa, ninguém está imune a “sujar sua biografia” ao chafurdar na lama do fascismo. Não há ingênuos na Praça dos Três Poderes desde que os habitantes originais do Planalto Central foram expulsos das suas terras. Na verdade, simplesmente pensar em qualificar de ingênua a corja que o cercava às 17h de 24 de abril já é uma demonstração cabal da própria ingenuidade.

Bolsonaro se apresenta como um homem “anti sistema” e essa narrativa, ancorada de maneira decisiva no episódio nebuloso da facada, foi o que serviu de cola para uma série de insatisfações, espertezas e ódios, resultando “nissudaí” que todos estamos vendo.

Tal narrativa, evidentemente, não para em pé. Bolsonaro tem vínculos com milicianos, foi por 28 anos um deputado menos do que medíocre, integrou o Centrão, empregou pessoas de suas relações familiares, manteve funcionários fantasmas, se aposentou com trinta e poucos anos e viveu desde sempre, ao lado de seus “garotos”, das carreiras políticas…

Em resumo, Bolsonaro é o próprio sistema – pode ser que seja a versão deste bêbada de uísque, travada de cocaína e em surto psicótico, mas sempre foi e sempre será a face mais grotesca do establishment.

E foi nesse quadro que o agora ex-ministro Sérgio Moro resolveu incluir a sua figura. Tornado estrela nacional ao fazer em Curitiba o serviço sujo que afastou Lula do pleito de 2018 (e sobre isso não vou gastar o meu “latim”, pois tudo está registrado nas reportagens do The Intercept, por exemplo), dizia-se inspirado pela operação Mani Pulite.

Realizada na Itália nos anos 90, o nome da operação tem como tradução literal “mãos limpas”. Sua versão brasileira, porém, está longe dessa literalidade. Só o fato de que, na Itália, há o juiz de garantias é suficiente para colocar um abismo entre o trabalho dos investigadores italianos e a perseguição política dos torquemadas de Curitiba.

Moro, ao que tudo indica, trocou a segurança da magistratura por um ministério (como prêmio pela sua atuação contra o presidente Lula) e uma futura vaga no STF. Porém, reduzido à condição de coadjuvante, terminou sua aventura humilhado por seu “chefe supremo” e ouvindo mais um “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Se antes sujava as mãos com o lawfare, por um ano e meio o fez sendo o rostinho, vá lá, “bonito” do consórcio de insanos, fundamentalistas, oportunistas e mercenários do mercado que está no poder. Nada mais revelador de até onde um ser humano dominado pela vaidade e pela ambição é capaz de ir.

(*) Mãos sujas, em italiano.

(**) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a fotoestátua de anjo na Ponte Sant’Angelo, sobre o Rio Tibre, em Roma. Nessa estátua, que integra um conjunto de 10 – todas com instrumentos da Paixão de Cristo, formando a Via Crucis – está escrito “Regnavit a ligno deus” (na tradução que encontrei, seria “Deus fez da cruz o seu trono”).

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2 Comentários

  1. No reino infernal de satanás entra a competição, estamos vendo quantas as vaidades humilhadas, porque o poder supremo, em hora, fascina os humanos, 57 milhões de eleitores votaram ‘NELENÃO’ e chafurdam enrolados do dinheiro e com promessas de dim dim. Que a coisa mudou… mudou… eu tenho aprendido muito com pessoas simples, pois poderemos estar todos na mesma vala. Estamos numa pandemia. Os alter egos não se deram conta. política do desgoverno vai continuar, até o Pai Maior sinalizar STOP Parabéns! pela Narrativa Luciano dos Montes Ribas. Amém sobre as explicações.

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