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ARTIGO. Giuseppe Riesgo, os méritos inegáveis e um problema na execução do Distanciamento Controlado

Distanciamento Controlado: entre avanços e arbitrariedades

Por GIUSEPPE RIESGO (*)

No sábado passado (09), o governador do estado anunciou o Plano de Distanciamento Controlado do Rio Grande do Sul. O intuito foi delinear uma saída gradual do confinamento social a que submetemos a população gaúcha e boa parte do comércio nos 497 municípios do RS. A ação é inegavelmente meritória. Cobrávamos desde o início dessa pandemia que o governo do estado elaborasse um plano. Não nos parecia razoável pedir à população que ficasse passivamente em casa sem apontar o mínimo de esperança em relação à normalidade de nossas vidas.

Pois bem, o plano veio e a despeito da tentativa de engenharia social por trás da proposta, considero-o meritório. Em síntese, a estratégia adotada dividiu o Rio Grande do Sul em 20 regiões de monitoramento e atribui a elas bandeiras amarelas, laranjas, vermelhas e pretas. Essas bandeiras medem, ponderadamente, o estágio atual e o avanço da doença em relação à capacidade do sistema de suportar a incidência do vírus, na região. A bandeira amarela atribui baixo risco para região com boa capacidade de resposta do sistema de saúde, laranja reconhece que os sistema tem capacidade de resposta maior que a propagação do vírus, a vermelha reconhece no sistema incapacidade de resposta em relação ao avanço na propagação do vírus e a preta percebe alta propagação do vírus e baixa capacidade do sistema de saúde naquela semana. A boa notícia é que o estado não tem regiões pretas e apenas uma região vermelha, essencialmente, pelo surto presente na região de Lajeado.

O governo avaliará as bandeiras semanalmente e, sendo necessário, reclassificará as regiões. A cada elevação nas cores uma série de medidas sanitárias devem ser aplicadas pelos estabelecimentos e pela população para mitigar a propagação do vírus. Nesses indicadores incluem-se reduções maiores no número de trabalhadores e possíveis suspensões temporárias das atividades. O objetivo é retornar as atividades econômicas, medindo-as pelos seus riscos inerentes e o nível de incidência do vírus para as 20 regiões selecionadas.

Como eu disse, o plano é inegavelmente meritório. No entanto, ao me debruçar sobre as medidas e os indicadores, reconheci certa incapacidade de fiscalizar e, por vezes, medir boa parte das ações indicadas para cada uma das bandeiras prescritas. Como saber se o percentual de trabalhadores está sendo cumprido para determinada bandeira? Ou mesmo se a população está aderindo aos cuidados sanitários prescritos para todas as regiões? Há também certas arbitrariedades, como a possibilidade ilegal e violenta de prisão daqueles cidadãos que atentem contra a saúde pública por não usem máscaras, por exemplo. Ora, o governo do estado não pode legislar sobre enquadramentos legais ao Código Penal Brasileiro, quem o faz é a União. Só esta legisla em Direito Penal no Brasil e isso tem que ser ressaltado. Em síntese, essa é uma ilegalidade do decreto estadual proposto. Um verdadeiro desrespeito aos direitos e as liberdades civis de todo e qualquer cidadão gaúcho.

Portanto, enfim temos um plano. Há esperanças sobre a saída e a volta à normalidade de nossas vidas. A pandemia mudou nossas relações sociais e deixará marcas sem dúvidas em nossa história. O distanciamento controlado do estado é um avanço no combate a epidemia do coronavírus, mas não pode avançar sobre as nossas liberdades e os nossos direitos básicos enquanto cidadãos brasileiros. Precisamos ir em frente, mas de forma legal e sem tiranias. A liberdade e a democracia custam muito caro a todos nós. Precisamos seguir vigilantes.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

Observação do editora imagem que ilustra este artigo, com as regiões do Estado (e suas bandeiras do momento) definidas pelo Distanciamento Controlado, é uma reprodução do site do Governo do Estado (AQUI)

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2 Comentários

  1. Não acho absurdo o uso de mascaras. A punição parece um tanto exagerada (só vi a ameaça, não lembro de ter visto no decreto). Não utilização rende termo circunstanciado, corre-se o risco de levar para uma aglomeração alguém contaminado. Qualquer outra medida há que se ver o abuso de autoridade. De qualquer forma chegará a hora do pessoal do jurídico mostrar sua ‘ciência’. Alas, na Argentina também tentaram soltura em massa de marginais. Alás, democracia em El Salvador parece ter ido para o vinagre.
    Fácil dar novos poderes para o Estado, diacho é tomar de volta.
    Noutra semana The Economist manchetou ‘a economia a 90%’. Não é ‘encolheu e volta depois’, é ‘deixou de existir’. Esta semana é o risco da União Europeia. O que sobra para o Mercosur? Problemas econômicos trazem instabilidade politica, é histórico.
    Não tem colçhão de proteção social que se sustente por muito tempo em pais subdesenvolvido. Vamos ver o que vai dar.

  2. Engenharia social é pouco. Discurso replicado pela mídia aqui e lá fora é ‘enfrentamento da pandemia com coordenação mundial’. Para isto seria necessário ‘uma coordenação unificada em cada país’. Esqueceram que teriam que combinar com os russos e chineses.Alás, os números russos são no mínimo estranhos.
    Por aqui no Brasil o discurso era ‘fiquemos em casa para salvar vidas pelo tempo que for necessário’ e ‘o governo federal proverá’, com recursos tirados da cornucópia talvez (ou da impressora). Há quem mencionasse ‘um novo pacto social’. Não foi defendido somente pelas Pollyannas imbecis de costume, os picaretas aderiram.
    Governador teve que administrar pressões de todo tipo, provavelmente ameaças. Basta imaginar o que aconteceria com o aumento de escala (pais e mundo), a dificuldade de coordenação, etc.
    CNN vai fazer um painel sobre a Covid, reúne especialistas e a Greta Pirralha.
    Resumo da opera: muitas ‘causas’ pegando carona na doença.

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