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A falta de Galeano – por Maurício Brum

Não teve eliminação da Argentina na última rodada das eliminatórias, mas houve a surpreendente queda dos Estados Unidos – que talvez seja uma surpresa tão grande quanto, considerando a facilidade das eliminatórias da Concacaf para uma potência regional. Os Estados Unidos ficarem de fora da Copa não é um choque como a eliminação argentina seria, mas em alguns aspectos chega a parecer. Desde que o país começou a investir mais seriamente no soccer, enquanto se preparava para receber a Copa de 1994, eles nunca haviam deixado de avançar ao Mundial – sua última ausência havia sido em 1986.

As surpresas da Concacaf na noite de ontem foram a pitada de caos em uma rodada final de eliminatórias que, em todo o resto, não premiou as histórias improváveis: o Equador jamais fez frente a Messi; a Síria bateu na trave contra a muito mais poderosa Austrália; a Suíça não segurou Cristiano Ronaldo no duelo para ver quem conquistava a vaga direta. A única novidade, mesmo, foi a sobrevivência do Peru – mas mesmo lá, para um observador externo, parece ter faltado algo, porque os peruanos jogavam em casa e saíram de campo sem garantias de que vão à Copa. Só continuarem vivos na disputa já é uma façanha por si só, mas o discurso sul-americano desde ontem parece esquecer que há uma Nova Zelândia pela frente.

A grande surpresa sul-americana talvez tenha sido, mesmo, a eliminação do Paraguai. Que, pela campanha que fizeram, não chegaria a ser chocante para ninguém, mas se tornou ao vir com uma derrota em casa diante da lanterna Venezuela, que somava apenas uma vitória nos 17 jogos anteriores. Os paraguaios, que desde os anos 90 vinham sendo presença constante nas Copas, agora vão para a sua segunda ausência consecutiva – e isso após, em 2010, terem ficado a um pênalti de mudar a história das Copas e talvez aniquilar a Espanha.

Mas enfim.

À Concacaf, amigos, à Concacaf. O que faltou de surpresas no resto do mundo foi compensado com sobras pelas eliminatórias das Américas do Norte, Central e do Caribe. De lá veio a classificação inédita do Panamá, que na prévia da Copa de 2014 ficou muito perto de haver cometido essa façanha e acabou levando uma virada dos Estados Unidos com gols aos 48 e 50 do 2º tempo. Na época, uma classificação panamenha eliminaria o México, o que acabou não acontecendo. Desta vez, não houve quem impedisse: o país do Canal triunfou por força própria e estará no Mundial sem nem precisar de repescagem. O país decretou feriado nacional nesta quarta-feira para celebrar a glória. Os gremistas gostarão de saber que, no elenco panamenho, ainda figura o zagueiro Baloy, de infame passagem por aqui. Baloy provavelmente estará na Copa. Geromel, não. O futebol é terrível.

E, finalmente, a Concacaf nos deu a zebra que foi a eliminação dos Estados Unidos. Não apenas porque os estadunidenses sejam muito mais fortes: a queda beirava o impossível. Jogando contra uma seleção de Trinidad e Tobago que havia perdido oito jogos em nove, os EUA chegavam à rodada final precisando de um mísero empate para avançar diretamente ao Mundial. Mesmo em caso de derrota, garantiam no mínimo a repescagem desde que um dos seus concorrentes – Panamá e Honduras – não conseguisse vencer seu jogo. Havia 27 combinações possíveis de resultado na noite de ontem: em 26 delas, os Estados Unidos seguiriam vivos na disputa mundialista.

Mas aquele um foi o que aconteceu: Trinidad e Tobago segurou o incrível 2 a 1 sobre os apáticos norte-americanos, enquanto, nos outros jogos, duas vitórias de virada garantiam a surpresa – o Panamá fez 2 a 1 na Costa Rica; Honduras, que jogará a repescagem contra a Austrália, concluiu o 3 a 2 sobre o México.

* * *

Houve um momento na noite de ontem em que os Estados Unidos só mantinham a esperança de ir à Copa do Mundo se o México fizesse um gol. Os mexicanos tiveram uma falta frontal aos 51 minutos do segundo tempo. Se empatassem contra Honduras, um dos países que mais manda emigrantes para o Grande Irmão do Norte, os estadunidenses seguiriam vivos.

Mas o chute foi na barreira.

No muro.

Numa hora dessas faz uma falta ainda maior o Eduardo Galeano, para atualizar o “Futebol ao sol e à sombra” com o capítulo sobre 2018.

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