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ARTIGO. Valdeci Oliveira, pandemia e os dramas vividos pelas micros, pequenas e médias empresas

Cadê o apoio às micro, pequenas e médias empresas?

Por VALDECI OLIVEIRA (*)

A pandemia que já enlutou perto de 50 mil famílias e contaminou quase 1 milhão de brasileiras e brasileiros também tem vitimado milhares de empresas nacionais, principalmente àquelas cujo perfil se encontra nos micro, pequenos e médios negócios. Não há ainda números consolidados, mas estimativas apontam que algo em torno de 600 mil empresas, em todo  território nacional, por conta da queda da atividade econômica, pediram falência ou tiveram de reduzir significativamente ou até encerraram momentaneamente suas atividades. E no rastro desse resultado, um verdadeiro exército de desempregados.

Porém, não há como negar que esse reflexo é também resultante da falta de ações concretas do governo federal, que, no início das necessárias medidas sanitárias de isolamento e distanciamento social para combater a covid-19, optou por confrontar as recomendações de cientistas, médicos e pesquisadores para forçar a permanência do funcionamento de toda a cadeia produtiva brasileira. Para os negacionistas de plantão, era isso ou seria o caos. Sim, o caos está instalado, mas não por conta das ações de combate ao novo coronavírus. Elas foram e são fundamentais para que não haja o colapso de todo o sistema de saúde e para que óbitos não ocorram aos milhões. Todos os países estão, em diferentes graus, com suas economias debilitadas. Isso era esperado, não havia uma rota de fuga planejada por ninguém.

A diferença está na aplicação das medidas colocadas em prática pelas nações para protegerem suas populações e suas economias. Por aqui, nem as pessoas nem as empresas encontraram apoio suficiente do governo para terem um grau mínimo de segurança. A elas restou contar com os governos estaduais e municipais, que na maioria dos casos, quando se trata de decisões econômicas, pouco podem fazer, pois as ferramentas mais eficazes dependem justamente dos organismos federais.

Dos bilhões de reais em créditos anunciados, em março, pelo governo federal via BNDES, apenas uma ínfima parte chegou na ponta. O mesmo aconteceu com os recursos liberados pelo Banco Central – e estamos falando em algo em torno de R$ 1,2 trilhão – às instituições privadas, que avaliam ser muito arriscado emprestar dinheiro no atual momento. Fora isso, as exigências e garantias impostas pelos bancos aos empreendedores individuais e às micro e pequenas empresas beira a insanidade. Auditoria em balanços por empresas certificadas, dinheiro em caixa, acompanhamentos contábeis, entre outros, são alguns dos muitos requisitos exigidos.

Na prática, quem está tendo acesso ao crédito são, como sempre, os grandes empresários, os grandes grupos econômicos, justamente aqueles que possuem significativa margem de manobra em tempos de crise e capital de giro suficiente para se manter em períodos problemáticos.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo que têm acesso facilitado ao dinheiro, os “grandões” são os que menos geram postos de trabalho. Segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) de fevereiro deste ano, 54% dos empregos criados no Brasil com carteira assinada têm sua origem nas pequenas empresas. O salário pago aos trabalhadores também pesa em favor desse segmento. Quando se compara com as grandes empresas e poderosos grupos, vemos que, na última década, as micro e pequenas (e alguns segmentos das médias) corrigiram a remuneração de seus empregados 25% acima da inflação. Fora isso, elas são maioria esmagadora dos empreendimentos em atividade: ultrapassam os 90%.

E, neste cenário de retração econômica, quem está, novamente, pagando a conta são os trabalhadores, que já haviam absorvido toda a carga de sacrifícios em 2017, quando perderam direitos sociais e remuneratórios na famigerada reforma trabalhista e, dois anos depois, com a reforma da previdência, que praticamente lhes impossibilitou uma aposentadoria digna. Com os efeitos econômicos da pandemia, já encostamos na casa dos 13 milhões de desempregados, número que dobra se levarmos em conta aqueles que desistiram de procurar uma ocupação ou vivem na informalidade.

Mas não é só o crédito facilitado que pode ajudar os negócios. A renda emergencial de R$ 600,00 que o governo federal se viu obrigado a conceder à população tem servido de grande alívio ao comércio, que nos períodos de pagamentos das parcelas vê o dinheiro entrar no seu caixa.

Outro apoio visto como fundamental vem dos próprios consumidores. Ao darem preferência para o comércio de suas cidades, criado e desenvolvido em suas comunidades, as pessoas fortalecem uma rede de estímulo econômico, garantindo a sobrevivência do empreendedorismo local, a permanência dos empregos e a geração de impostos que auxiliam na manutenção dos serviços públicos.

Pelo que tenho visto, as pessoas, nas suas pequenas ações, têm feito, dentro das suas possibilidades e mesmo com muitas dificuldades, a sua parte. Porém, falta o mesmo empenho ao gerente principal, instalado no Palácio do Planalto. O problema é que estamos correndo contra o tempo.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287

Observação do editora foto (sem autoria determinada), é uma reprodução de internet e foi extraída deste site: AQUI.

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