Solidariedade à greve dos entregadores
Por PAULO PIMENTA (*)
Na vertiginosa corrida pela sobrevivência, eles foram colhidos no cruzamento de duas vias de alta periculosidade, abertas no Brasil contemporâneo, o neoliberalismo de Guedes/Bolsonaro e a pandemia do covid-19.
Hoje, nenhuma categoria espelha melhor, no seu quotidiano, as condições de superexploração a que foi submetida a classe trabalhadora brasileira, sob o neoliberalismo fascista, que os entregadores de aplicativos.
Eles se encaixam no setor de serviços, o segmento da economia que responde por algo próximo a 70% do PIB. O agronegócio chega a 21% e a indústria declinante se reduz a menos de 10%. Os aplicativos de entrega são, hoje, a principal fonte de renda, não raro a única, para quase 4 milhões de brasileiros.
Na batalha pelo ganha-pão, esses jovens trabalhadores, muitos deles embalados pela miragem do “eu sou meu próprio patrão” cumprem uma jornada nunca inferior a 12 horas de trabalho, sob o chicote dos smartphones, sem nenhum vínculo empregatício, seguro de saúde, descanso semanal, remunerados miseravelmente pelos serviços prestados a um empregador invisível.
Os contratantes atendem pelos nomes Uber-Eats, iFood, Rappi… entre outros. Esses três representam 17% dos 23,8 milhões de trabalhadores da categoria (IBGE). No meio da pandemia, nenhum deles oferece vale alimentação, álcool em gel ou qualquer tipo de equipamento de proteção.
Graças à reforma trabalhista aprovada pelo governo golpista de Michel Temer, em 2017, foram abolidos os direitos dos trabalhadores, submetendo-os às atuais condições de precariedade e exploração.
Dados de domínio público revelam que o avanço da covid-19 neste primeiro semestre de 2020 levou a 280 mil novos cadastros de trabalhadores nessas plataformas, só em São Paulo. Com a pandemia, a demanda cresceu em torno de 200%. Os apps foram instalados em 22 milhões de celulares (RankMyAPP). A remuneração, no entanto, não se alterou.
O país irá acompanhar nessa quarta-feira, 1º de julho, a uma mobilização realizada por esse segmento dos trabalhadores – produto mais simbólico das reformas neoliberais no Brasil – a maioria deles recrutados nas periferias das grandes cidades.
Assistimos, talvez, ao nascimento de uma nova consciência em uma classe trabalhadora, jovem, pulverizada, mantida na ignorância sobre os meios e métodos contemporâneos de exploração do seu trabalho. Filha da transição entre a sociedade das grandes plantas industriais e a consolidação da economia de serviços. Devolvida ao estágio mais primitivo de luta individual pela sobrevivência. Despida de meios eficazes de defesa contra o mecanismo impessoal de extorsão que lhe cria todos os obstáculos para impedir qualquer ação coletiva e limita seu horizonte ao almoço de amanhã.
O que assistimos é a manifestação do conflito entre um numeroso segmento da classe trabalhadora que adquire a consciência de que é diariamente submetida a uma exploração tão violenta quanto cínica. E descobre a ação coletiva como meio de interrompê-la: a greve.
O objetivo é pressionar o Legislativo para aprovar uma lei que obrigue os aplicativos pagar pelo menos um vale-alimentação e álcool em gel para que possam se proteger da pandemia. E assim, começar a desnudar na prática o discurso hipócrita do empreendedorismo.
Os apps no Brasil reproduzem, utilizando-se das tecnologias do século XXI, as mesmas relações de exploração da mão-de-obra que viemos reciclando ao longo da história desde os tempos da escravidão.
Todo apoio à greve dos entregadores de aplicativos!
(*) Paulo Pimenta é Jornalista e Deputado Federal, presidente estadual do PT/RS e escreve no site às quartas-feiras.
Observação do editor: a foto que ilustra este artigo (sem autoria definida) é uma reprodução de internet. Mais exatamente da rede social Twitter.
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