Santa Maria

COLUNA. José Mauro Batista faz um passeio a pé pela cidade. Inicia no Itaimbé e termina com uma sugestão

A cidade que só se vê a pé (e uma provocação aos políticos)

Por JOSÉ MAURO BATISTA (*)

Sempre gostei de caminhar, mas, nos últimos anos, havia abandonado esse hábito saudável. Em abril do ano passado, retomei as caminhadas sem compromisso com horário, tempo, ritmo e destino. Foi assim que, nos passeios a pé nos sábados, domingos e feriados (quando estou de folga), passei a descobrir um outro mundo bem pertinho de onde moro. E é nessa viagem que convido os leitores a embarcarem.

Embora more perto do Parque Itaimbé eu raramente havia andado por esse espaço de lazer nos últimos 20 anos. Foram poucas as vezes em que percorri o parque de ponta a ponta (na sua área central, pois o Itaimbé foi projetado da antiga estação rodoviária (hoje um supermercado) até o bairro Itararé. Geograficamente, ele está localizado no bairro Centro próximo e faz limite com os bairros Menino Jesus (parte central), Itararé (na extremidade Norte) e Nossa Senhora das Dores (na extremidade Sul).

Apesar de calçadas e bancos quebrados, sujeira, bueiros abertos e esgoto a céu aberto ao longo do seu percurso (pouco caso de várias administrações), o Itaimbé é a maior e uma das poucas áreas verdes de Santa Maria. Passear pelo parque é se presentear com uma diversidade de flores e outras plantas, aromas (prejudicados pelos esgotos), cores, borboletas coloridas e até algumas espécies de pássaros.

SALSO CHORÃO

Saindo dos limites do parque, a região do Itaimbé, que compreende os bairros citados, guardam curiosidades, como ruas íngremes, becos, árvores raras (como um antigo salso chorão) e um pouco do verde que falta à cidade como um todo. Também há mercados, botecos, armazéns, salões de beleza, oficinas, academias de ginástica e escritórios com os mais diversos serviços e clínicas médicas, entre outros, o que permite dizer que perto da minha casa tem quase tudo que há no núcleo central da cidade.

Acredito que muitas pessoas conheçam pouco seus bairros e as regiões vizinhas no que se refere a detalhes que só se observa caminhando. Além do pouco tempo que as pessoas dispõem, se locomover de carro é “mais cômodo e rápido” que andar a pé.

ANDANDO PELO CENTRO HISTÓRICO

Há crescentes movimentos mundo afora que defendem novos comportamentos, entre eles o hábito de andar a pé. Um deles é o SampaPé, fundado em São Paulo no ano de 2012, e que hoje funciona como Organização da Sociedade Civil (OSC). Há grupos semelhantes em Porto Alegre e em outras capitais e cidades de porte médio.

Em nível local, destaco algumas iniciativas como os passeios guiados do coletivo Memória Ativa e parceiros pela Avenida Rio Branco, Vila Belga e Gare da Viação Férrea (no chamado Centro Histórico e entorno), onde é possível visitar a história da ferrovia e apreciar a beleza arquitetônica de construções no estilo Art Déco.

PROVOCAÇÃO AOS POLÍTICOS

Sei que estamos em plena pandemia e que essa situação restringe muito a nossa mobilidade, porém é possível fazer pequenas caminhadas individuais com a devida proteção de máscara. Certamente quem não é habituado a caminhar vai se surpreender com o que encontrará pelo caminho. Só assim podemos ver a cidade de outros ângulos, suas belezas e, também, suas imperfeições, entre elas a falta de segurança, que é um inibidor dessa prática.

Uma hora a pandemia irá embora e a normalidade voltará. Desde já fica o convite para que os santa-marienses conheçam a sua cidade andando a pé. E para os candidatos à Prefeitura e à Câmara de Vereadores faço uma provocação: encampem essa ideia e incentivem esse hábito por meio de políticas públicas que tornem Santa Maria uma cidade mais saudável.

(*) José Mauro Batista é jornalista. Até recentemente, editor de Região do Diário de Santa Maria. Antes foi repórter e editor do jornal A Razão. Escreve no site semanalmente, aos domingos.

Observação do Editor: A foto que ilustra esta coluna, um detalhe do Parque Itaimbé, foi reproduzida do Google e é creditada a Tamíris Grimaldi.

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3 Comentários

  1. Bom dia !
    Mais um belo artigo do Zé Mauro.
    Santa Maria é um cidade com muitas belezas e espaços públicos que propiciam o lazer e a convivência das pessoas no seu exercício do direito à cidade. Se o amigo permitir, eu acrescentaria uma pauta que há anos é debatida, inclusive em períodos eleitorais. Eu me refiro à dificuldade que pessoas com deficiência tem em acessar vias públicas.
    E destaco os cadeirantes e os deficientes visuais.
    É praticamente impossível que essas pessoas possam, de forma independente, transitar pela cidade. Aos deficientes visuais os pisos táteis de alerta e direcional praticamente inexistem. E quando existem, não são uniformes na quadra toda. Assim, se é feita uma calçada nova, por lei os táteis são colocados e ao mesmo tempo surge a discrepância em relação às calçadas antigas que nada possuem. Inúmeras calçadas são reformadas e não colocam os táteis.
    E por fim, os cadeirantes. Nem é preciso dizer que se hoje um cadeirante desejar vir de um bairro mais afastado ao centro, ou mesmo se for um morador da região central, é quase impossível que possa realizar essa ação de forma que sua dignidade, enquanto Ser humano, seja respeitada. Não somente pela falta de condições de acessibilidade, mas, também, pela péssima conservação das calçadas. Muitas delas desniveladas, sem reformas, depreciadas com o tempo, cheias de espaços não preenchidos.
    Esse é um problema que nos persegue há anos, décadas e mais décadas.
    Um abraço !

    Michael Almeida di Giacomo

    A cidade é de todos e todas, mas ainda falta muito

    Um abraço !

  2. Dando risada. ‘Politica pública’ é o nome que se dá para atividades que na teoria deveriam fazer alguma coisa mudar na sociedade. Como a educação, atenção a saúde, segurança (onde comemoram a estatística produzida pela pandemia), etc. geralmente é o que a casa tem para oferecer. Ou seja, não funciona direito, embora a propaganda diga que sim.

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