CÂMARA. Com direito ao uso do “VAR”, vereadores aprovam, por 9 a 8, o Programa Diversidade na Escola
Por MAIQUEL ROSAURO (com foto de Allysson Marafiga/AICV), da Equipe do Site
Os vereadores de Santa Maria aprovaram, nesta terça-feira (8), o projeto de lei que possibilita a implantação do Programa Diversidade na Escola. O resultado foi apertado, com nove votos favoráveis e oito contrários. Foi decisivo para a aprovação um impasse em uma jogada ensaiada nos bastidores, que precisou do auxílio da tecnologia para ser solucionado.
A autora da proposta, Luci Duartes – Tia da Moto (PDT), defendeu o projeto durante 20 minutos na tribuna. Ela argumentou que a iniciativa possibilita às escolas desenvolverem um trabalho contra a evasão escolar da comunidade LGBTQiA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais ou transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e +).
“Trabalho há 26 anos no combate à evasão escolar. Pode o vereador Alexandre (Alexandre Vargas, Republicanos) dizer que isso é tema de Estado, mas 90% da comunidade LGBT abandona os bancos escolares por serem chamados de bixa, boiola e sapatão e ficam com vergonha e medo de voltar aos bancos escolares”, afirmou Luci.
Alexandre Vargas, o principal opositor da proposta, afirmou que o projeto é uma imposição.
“Como vamos impor alguma coisa para a sociedade sem fazer audiência pública, sem conversar com os pais, os alunos e os professores? É isso. É nesse tema, é essa sistemática, estou discutindo contra o projeto em si na forma que está”, relatou o parlamentar.
Durante seu discurso, Alexandre Vargas disse que pediria que a votação ocorresse de forma nominal, no microfone de aparte, onde os parlamentares precisam dizer ‘sim’ ou ‘não’ à iniciativa. Hoje, os vereadores usam tablets para votar, de modo que o público pode observar nos telões, em tempo real, quem votou contra ou a favor.
Após inúmeros discursos favoráveis e contrários ao projeto (com direito a torcida para ambos os lados nas galerias), o presidente da Casa, Adelar Vargas – Bolinha (MDB) anunciou: “se não tem mais nenhum vereador que queira discutir a matéria, vamos ao regime de votação”. Segundos depois, Alexandre Vargas pede, no microfone de aparte, votação nominal. O pedido, então, é deferido pelo emedebista.
O primeiro nome que Admar Pozzobom (PSDB), 1º secretário da Mesa Diretora, chama para votar é o de Bolinha, que vota contra a proposta. No final da votação, empate em 9 x 9.
De imediato, Luci Duartes questiona o fato de o presidente da Casa ter votado, entendendo que o emedebista deveria votar apenas em caso que seja preciso desempatar. O questionamento levou a uma interrupção da sessão.
Para solucionar o problema, Bolinha precisou apelar para uma forma pouco convencional em se tratando de Parlamento, mas comum em outros campos.
VAR em ação
As imagens da TV Câmara tiveram o mesmo papel do Video Assistant Referee (VAR), que auxilia os árbitros em jogadas difíceis nas principais ligas do futebol mundial. A gravação demonstrou que os republicanos ensaiaram uma jogada genial para vencer a votação, mas saiu tudo errado quando Alexandre Vargas se colocou em posição de impedimento.
Pelas imagens é possível ver que quando Bolinha anuncia o regime de votação, o diretor Legislativo da Casa e cargo de confiança indicado por Alexandre Vargas, Julio Santos, posiciona-se atrás do presidente e sinaliza para o parlamentar do Republicanos se levantar. O vereador então, vai ao microfone de aparte solicitar a votação nominal.
A jogada foi inteligente porque, segundo o Artigo 182, parágrafo 2º, incisos IV e III, do Regimento Interno da Casa, o presidente tem direito a voto nas votações nominais e quando houver empate na votação. Ou seja, Bolinha votaria duas vezes e a proposta de Luci seria rejeitada. Porém, faltou ensaiar.
As imagens do “VAR” mostraram que, no telão à esquerda da Mesa Diretora, os vereadores já haviam começado a votar nos tablets quando Alexandre Vargas fez o pedido do pleito nominal. Ou seja, ele estava impedido naquele momento.
Ao retomar a sessão, Bolinha anunciou que a primeira votação estava anulada e comentou que o vereador do Republicanos fez menção em chamar a votação nominal durante seu discurso na tribuna, mas que não o fez no momento oportuno.
“Quem permanecer na dúvida pode olhar as gravações e assim será constatado”, disse Bolinha.
Alexandre Vargas ainda pediu de novo voto nominal, mas Bolinha disse que o processo de votação simbólica já teria iniciado. Resultado final, 9 x 8 pela aprovação do projeto.
Como cada vereador votou
Favoráveis:
Daniel Diniz (PT)
Francisco Harrisson (MDB)
Luci Duartes – Tia da Moto (PDT)
Jorge Trindade – Jorjão (Rede)
Leopoldo Ochulaki – Alemão do Gás (MDB)
Luciano Guerra (PT)
Cida Brizola (PP)
Marta Zanella (MDB)
Valdir Oliveira (PT)
Contrários:
Admar Pozzobom (PSDB)
Alexandre Vargas (Republicanos)
João Chaves (PSDB)
João Ricardo Vargas (PP)
Juliano Soares – Juba (PSDB)
Manoel Badke – Maneco (DEM)
Ovídio Mayer (PTB)
Vanderlei Araújo (PP)
Ausentes:
Celita da Silva (PT)
Deili Silva (PSD)
Marion Mortari (PSD)
Em momento tão significativo, vereadores ausentes que podiam ter decidido a votação com tranquilidade. Até que teve sorte a vereadora Luci.
Quem é o CC Júlio? Revelação, é irmão de igreja e compadre do edil Alexandre Vargas!
Esse tal Júlio é o tipo que, pelas costas, literalmente se alegra por este comportamento e até mesmo em provocar a maldade. Para este tipo de pessoa, a melhor resposta que podemos dar é uma lição de bondade.
Fica cada vez mais clara a responsabilidade do nosso voto. Um mar de preconceito ficou evidente, aliado à questão grave de misturar religião com politica num país dito laico. Necessário ficar muito atento!!
E a imparcialidade deste CC?
A temática separou bem o avanço e o retrocesso, a inclusão e o preconceito, a democracia e a teocracia na província