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Papai, mamãe, titia e drama – por Bianca Zasso

Há quem goste de chamar filmes com muitas cenas de choro e discussões de exagerados e, em alguns casos, rotulá-los de seguirem os padrões das novelas mexicanas. Quem já viu pelo menos uma produção da rede Televisa sabe do que eu estou falando. Choradeira, brigas cheias de palavras pesadas e traições que quando descobertas fazem a poeira subir são comuns e viram motivo de piadas pelos telespectadores. Mas será que é mesmo exagero? Essa humilde colunista acredita que devemos cuidar mais do nosso umbigo e analisa-lo com mais critério.

Álbum de família, filme lançado no final de 2013, foi julgado por alguns críticos de pegar pesado no drama e pesar para o lado do piegas em algumas cenas. Uma opinião exagerada já que bastam os créditos finais surgirem para que o público saia comentando e comparando os personagens que acabaram de conhecer com familiares e até com eles próprios.

Inspirada numa peça de Tracy Letts, um dos mais importantes dramaturgos americanos da atualidade, Álbum de família faz um recorte de uma situação já vivida por muitos filhos na vida real. Com a mãe em tratamento de um câncer, as irmãs Barbara, Ivy e Karen são obrigadas a dar um tempo em suas vidas para cuidar da genitora de gênio difícil após o sumiço do pai.

O que seria apenas uma árdua tarefa entre medicamentos e apoio psicológico torna-se um furacão onde segredos são revelados, ódios são declarados e tudo parece desmoronar. A casa é quase um cenário de guerra. Mãe e filhas não se entendem e a doença passa a ser um detalhe no meio do turbilhão de sentimentos que afloram durante os encontros. Meryl Streep interpreta com segurança a mãe complicada e cheia de rancores, mas o destaque é mesmo Julia Roberts.

No papel de Barbara, que além das irmãs precisa lidar com o ex-marido e a filha adolescente, a atriz deixa de lado sua imagem simpática e sorridente para dar vida a uma mulher prestes a explodir. Sem maquiagem, despida de qualquer vaidade comum às grandes estrelas do cinema, Julia mostra que pode sim interpretar mulheres bem reais. O elenco ainda conta com ótimas participações de Juliette Lewis, Sam Shepard e Abigail Breslin.

Todo esse papo de novela mexicana, filme hollywoodiano foi para mostrar, não só aos críticos que menosprezaram Álbum de família, mas ao público que achou tudo pesado demais, que precisamos nos dar conta de nossos “mundos”, nossa casa e o que acontece nela. A tela, por suas proporções gigantes, parece mostrar algo que vai além da conta, muito mais forte que a realidade. Mas nada mais é do que um reflexo do que acontece em muitos lares.

Brigas em família são mais comuns do que se imagina. Até aquela sua vizinha, caro leitor, que parece ter saído de um comercial de margarina, tem os seus arranca-rabos com o marido e os filhos, talvez até mais intensos que os protagonizados por aquela sua tia que adora discutir em alto e bom som.

Não existe família perfeita. Segredos causam dor, cobranças e podem ser escondidos até certo ponto. A função do cinema é ser a válvula de escape e mostrar que uma hora a bomba vai explodir e tudo será mostrado como realmente é, sem véus ou máscaras. Álbum de família, mais que um belo filme com ótimos diálogos, é uma terapia para ser desfrutada em cada palavra. Até as mais duras.

Álbum de família (August: Osage County)

Direção: John Wells

Ano: 2013

Disponível em DVD e Blu-Ray 

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