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ARTIGO. Luiz Carlos Nascimento da Rosa, amor e paixão por um time de futebol e bem mais que isso

Ser imortal e pronto

Por LUIZ CARLOS NASCIMENTO DA ROSA (*)

Minha saudável e prazerosa infância deu-se na pequena e aconchegante cidade de Tupanciretã, lá pelos idos dos anos 70, do século passado. Banhos de açude, de sanga, jogar bolita, soltar pandorga e jogar futebol nos vários campinhos que existiam em todos os bairros e vilas que formavam a nossa aprazível cidade. Olhar a meninada andar de bicicleta na Praça Coronel Lima, ver os “bacanas” passearem de carro na Avenida Vaz Ferreira e assistir um bom matinê no saudoso “Cine Rey”, sob a vigilante e nada discreta “lanternina” do seu Nadalin. Ficávamos extasiados com o espetáculo visual ďa gigantesca telona. Balas e pipocas alegravam nossa vida, com parcos recursos financeiros.

Até hoje, lembro-me do momento mágico de melhores momentos do futebol nacional que vislumbrávamos atônitos no hoje antropológico ‘Canal 100’. Para a meninada de um longínquo interior Flamengo, Maracanã, Olímpico, Beira Rio e a maestreza de um “Fio Maravilha” se punham como um espetáculo de outro mundo. Para eu e meus amigos, a televisão era um aparato tecnológico que existia na casa de alguns poucos endinheirados de nossa querida Tupã. Para ser franco, nem bicicleta tínhamos para tentar agradar nossos intensos amores platônicos. Nossa mediação com o mundo exterior e distante dava-se, de forma intensa, através do maravilhoso e misterioso radinho.

As peladas nos campinhos das vilas, o Canal 100 e as transmissões dos jogos pelo rádio, alimentavam nossos sonhos de virarmos jogadores de futebol e, enfaticamente, aprendermos a amar nossos times de futebol. Eu aprendi a gostar e jogar no saudoso “Grêmio Esportivo Pedro Osório” e me apaixonar pelo Grêmio Esportivo Porto-Alegrense. Irreverente paixão que passei a carregar, de forma incondicional, por toda a travessia da vida que tenho feito até o tempo presente e, espero, longevo e prazeroso por desfrutar as coisas boas que vão circunscrevendo nosso vir-a-ser nesta única e singular vida. Nesse devir paradoxal e louco de nossas vidas aprendemos a gostar de um time de futebol e torná-lo um grande amor ou uma incomensurável paixão.

Em tempos obscuros de nossa História, alguns apaixonados pela política e baseados na triste realidade que vivíamos, afirmavam que o futebol alienava e “era o ópio do povo”. Hoje penso que foi um triste excesso dos militantes que sofriam as agruras da obscena ditadura militar. Ler o passado não nos ilumina para nosso vislumbrar o futuro, mas nos dá elementos para entender o presente de nosso complexo processo histórico. Não existe racionalidade nessa relação.

De onde vem meu amor pelo Grêmio? Meu pai e minha mãe eram gremistas. Desde meu berço, de pobre, me tornaram um apaixonado torcedor do Grêmio. Quando criança não sabia o que era o Olímpico e hoje não conheço a Arena. Como disse, ouvia no radinho do Tio Bita, meu pai, quem era o Flexa, o André Catimba, Oberdan, Iura, Everaldo, China, Tarciso, Mazzaropi. Everaldo, campeão do mundo em 1970, virou estrela da bandeira do imortal tricolor.  Quem foi e quando foi que o Grêmio transformou um time de futebol em uma universal imortalidade?

Ontem não tínhamos televisão pela precariedade financeira. Hoje, a televisão ajudou a estabelecer uma merecida estátua para um histórico jogador de bola. Trouxe inúmeros títulos como atleta, inclusive o intercontinental em 1983 e gesta taças como treinador de um grupo e não de um simples time de futebol. A modernidade nos remete a um singular Renato Portaluppi. Quem é mais ídolo no futebol brasileiro que o Renato Gaúcho?  O Renato Gaúcho desaprendeu sobre futebol? Não temos mais um maravilhoso Cebolinha, mas temos outros atletas que o grande Renato torna um mega-atleta. O Renato nos educou mal com um jogo com plasticidade. Desde a esquerda, elegante, do Douglas, estamos viúvos da categoria e a elegância. Luan desistiu porque foi expurgado da seleção brasileira. Desistiram de seu mega futebol na Copa do Mundo.

O Grêmio é mais que um time de futebol: o Grêmio é um estado de espírito. Falcão, Fernandão, D’alessandro e Dunga nunca irão chegar aos “pés” do Renato Gaúcho no imortal tricolor. No contexto contemporâneo, o Renato Gaúcho não desaprendeu sobre a historicidade da bola. As entrevistas do Renato demonstram uma segurança e inigualável irreverência. Conquistou essa singularidade com labor e empilhando taças para seu e nosso time do coração. Ele vai levar o Grêmio para novos campeonatos. Minha pergunta: quem ama mais seu time do coração que o singular ídolo, Renato Gaúcho?

Gênio para mim é Leonardo Da Vinci. Mas Renato Portaluppi é, inegavelmente, um craque na bola e na irreverência. A terra parece uma bola, mas o mundo da bola não resume os seres humanos que vivem na terra. Não existe mais o Cine Rey, cinemas de calçada. Não soltamos mais pandorga. Hoje tenho carro para andar e conheço o histórico Maracanã. Conheço criança que não sabe o que é pandorga, jogo de bolita e muito menos sabe jogar bola, tomar banho de sanga e ir ao cinema. Que trágica vida é essa que as crianças não vivem e muito menos sabem o que é cultura?

Viajar no espaço virtual não quer dizer viajar no espaço concreto da vida. Há dores psíquicas que só o mundo do banho de açude e da bolita pode suturar! Futebol não é estranhamento e sim esporte, prazer e entretenimento. É um imenso prazer assistir um jogo do Grêmio e escutar uma entrevista do Renato Gaúcho. Felizmente, a maioria da população possui televisão para desfrutar os atletas do imortal flanando plasticamente pelos gramados desse sôfrego Brasil e do mundo.

Com o artista Renato Gaúcho ainda teremos muitos momentos de prazer e vamos aumentar  ainda mais o número de títulos e taças na Arena. Pena que essa contemporânea geração não saiba usufruir outras alternativas de diversão e prazer que não apenas a virtualidade. Dizem os estudiosos que quanto maior a quantidade de mediadores que a criança e jovens utilizam, em suas atividades, melhor eles desenvolvem seu mundo psíquico. Que o futebol possa contribuir para esse salutar desenvolvimento e para a Educação do ser humano e, o Imortal Tricolor possa continuar sendo objeto de nossa paixão e um  instrumento formador de pessoas saudáveis física e mentalmente.

(*) Professor do departamento de Metodologia do Ensino/UFSM

Observaçao do Editor: este texto foi produzido antes do Gre-nal deste sábado, 3 de outubro de 2020.

Observação do Editor (2): a foto (de Renato Portaluppi no Campeonato Mundial de 1983) é uma reprodução do YouTube.

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