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O segundo tapa – por Luciano Ribas

As redes sociais são uma fonte infinita de alegrias e de desencantos. Num dia, nos vemos cheios de esperanças porque nossas timelines estão coloridas pelo arco-íris da aceitação. No outro, estupefatos pela divulgação de um adesivo para tanques de combustível absurdamente misógino, tão grosseiro e desprezível quanto quem se dispõe a usá-lo.

Nesses momentos, nos damos conta de que é uma ilusão achar que nada mais pode nos surpreender. Sempre há alguém capaz de descer um pouco mais na escala da desumanidade e da estupidez, chafurdando na lama suja do preconceito e da violência. Para eles, nem a Fossa das Marianas é o limite.

Acho, porém, que é bom essa gente ter saído da toca. Agora sabemos, como bem lembrou o Leonardo Sakamoto, que temos um vizinho racista, homofóbico, misógino, xenófobo, machista, elitista, capaz de atirar pedras em crianças, colocar fogo em moradores de rua ou apedrejar o túmulo do Chico Xavier. Sabemos que aquele nosso amigo quietinho pode estar mais para Silas Malafaia do que para Leonardo Boff e que aquela colega tão gentil adoraria meter bala num petralha. Isso, de um jeito meio torto, tem um lado “bom” – assim mesmo, entre aspas – pois pelo menos torna possível reconhecer o “inimigo” com mais facilidade.

Uma vez ouvi o ex-deputado Ivar Pavan dizer que “todo mundo fala que Cristo ofereceu a outra face, mas ninguém diz o que ele fez depois de levar o segundo tapa”. A questão é retórica, quase anedótica, mas propõe uma reflexão real e muito pertinente: até que ponto alguém pode ir sem esboçar uma reação firme e legítima a uma agressão?

Na mitologia cristã, Jesus foi além do limite extremo e pagou com a vida o desafio aos poderes religiosos e seculares. Como a maioria de nós “não tem vocação para Cristo”, as reações estão acontecendo e quem tem um mínimo de humanidade está dando suporte a elas, ajudando em manifestações públicas ou simplesmente trocando a cor da sua foto no Facebook. Aliás, tais reações não têm respeitado divisões políticas, o que é muito bom, pois nos relembra de que há valores que estão acima das nossas preferências partidárias e dos candidatos em quem votamos. Há esperança, portanto, e devemos cada vez mais compartilhá-la.

 

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