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ELEIÇÕES 1968. A história do candidato a prefeito que fez o dobro de votos do 2º colocado e não foi eleito

Governos da Arena foram interrompidos por uma estratégia certeira do MDB

Por Maiquel Rosauro

Há exatos 52 anos, 50.723 santa-marienses foram às urnas para eleger o novo prefeito e os representantes do Legislativo Municipal. Aquele longínquo 15 de novembro de 1968, uma sexta-feira, entrou para a história como o dia em que o candidato mais votado ao Executivo não foi eleito.

Em jogo estava a continuidade de dois governos da Arena. Mas para entender o contexto é preciso voltar ao turbulento 1964. Em 9 de abril daquele ano, o general de Exército Artur Costa e Silva, o tenente brigadeiro Francisco Correia de Mello e o vice-almirante Augusto Hamann Rademaker Grünewald publicaram o Ato Institucional nº 1.

“No interesse da paz e da honra nacional, e sem as limitações previstas na Constituição, os Comandantes-em-Chefe, que editam o presente Ato, poderão suspender os direitos políticos pelo prazo de dez (10) anos e cassar mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial desses atos”, dizia o Artigo 10º do AI-1.

A legislação imposta pelo Regime Militar abriu espaço para a cassação do prefeito de Santa Maria, Paulo Lauda (PTB) e seu vice Adelmo Simas Genro (PTB), eleitos democraticamente. Em 7 de maio de 1964, é publicado no Diário Oficial da União ofício urgente endereçado ao presidente da Câmara de Vereadores, que cassa os direitos políticos da dupla por dez anos.

No dia seguinte, o vereador Dari Mortari (PDC) encaminhou uma emenda à Lei Orgânica que possibilitava a votação indireta para prefeito e vice-prefeito, em caso de vacância dos referidos cargos. Em 11 de maio, foram realizadas três sessões plenárias e, em todas, a emenda foi aprovada. Lauda e Adelmo Genro não tiveram direito de defesa. No mesmo dia, o presidente da Câmara de Vereadores, Valdyr Aita Mozzaquatro (MTR), foi empossado como prefeito interino.

Em 15 de maio, os vereadores elegeram de forma indireta, como prefeito, Miguel Meirelles (Arena), e como vice-prefeito Francisco Alvares Pereira (Arena), ambos médicos e oriundos de um partido de direita. O ato marcou o fim de seis governos seguidos de centro-esquerda em Santa Maria, todos liderados pelo PTB.

Assim, o governo de Lauda, que havia iniciado em 31 de janeiro de 1964 terminou prematuramente em maio daquele mesmo ano. Por sua vez, a gestão de Meirelles contou com o apoio do governo Federal. Ele inclusive recebeu a Medalha do Pacificador, conferida por Costa e Silva.

Todavia, em novembro de 1964, Meirelles renunciou ao cargo e, em janeiro de 1965, ele assumiu a Secretária da Fazenda do Estado, a convite do governador Ildo Meneghetti (PSD). Com a renúncia, seu vice, o médico Francisco Alvares Pereira assumiu a Prefeitura e administrou a cidade sem vice-prefeito até o fim de seu mandato, em 30 de janeiro de 1969.

Artur Marques Pfeifer foi candidato a prefeito pela Arena, em 1968. Foto Divulgação

O pleito de 1968
Para seguir administrando o município, a Arena apresentou como candidato a prefeito o vereador e médico Artur Marques Pfeifer, que havia se elegido vereador em 1964 pela UPS. No pleito ao Executivo, ele conquistou 22.783 votos.

Pfeifer fez 13.533 votos a mais do que o segundo colocado, Luiz Alves Rolim Sobrinho (MDB), que registrou 9.250 votos. Mesmo assim, foi Rolim quem foi eleito prefeito de Santa Maria por um partido de centro-esquerda em plena Ditadura Militar.

A icônica situação é explicada pela arquivista da Câmara de Vereadores de Santa Maria, Jara Silveira.

“As forças partidárias apresentavam seus candidatos na forma de sublegendas. As campanhas corriam quase que independentes dentro do espectro do partido. Isso aconteceu até 1982”, afirma Jara.

Naquele mesmo pleito, o MDB também havia registrado como candidatos a prefeito Darcy Paiva Ethur, que fez 8.066 votos; e Floriano Rocha, que registrou outros 7.454 votos.

No somatório, os candidatos do MDB fizeram 24.770 votos. Ou seja, apenas 1.987 a mais do que Pfeifer, único candidato da Arena e dono de 48% dos votos válidos. Rolim, o mais votado entre os emedebistas, assumiu o cargo para surpresa geral.

Ainda naquele pleito, outros 1.464 votos foram brancos e 1.706 nulos.

MDB apresentou três sublegendas no pleito de 1968. A Arena, apenas uma. Foto Reprodução

Uma duração lição
A Arena aprendeu a lição e no pleito seguinte, no final de 1972, foi para as urnas com duas sublegendas. Pfeiffer voltou a concorrer e como vice-prefeito teve ao seu lado um jovem médico chamado José Haidar Farret. A dupla fez 30.016 votos.

A segunda sublegenda da Arena, composta por Raphael Theodorico da Silva e Carlos Edison Fernandes Domingues, fez 2.996 votos.

Artur Marques Pfeifer, o segundo da direita à esquerda, durante a abertura da 1ª Colônia de Férias da APUSM, em 1975. Foto APUSM

O MDB tentou seguir na prefeitura com a dupla Vinicius Pitágoras Gomes e Moises Velasquez, mas eles fizeram 12.066 votos. A segunda sublegenda emedebista, composta por Paulo Hollweg Neto e Alexandre da Cruz, registrou 7.432 votos.

Pfeiffer, enfim, conseguiu governar Santa Maria. Ele ficou no cargo até 31 de janeiro de 1977. Em 1983, ainda conquistou um feito pouco comum na cidade: voltou a atuar como vereador. Dez anos depois, recebeu o título de Cidadão Benemérito.

Faleceu em 22 de março de 2013, em Porto Alegre. Ainda hoje, Pfeiffer é lembrado no meio político local como um homem correto em suas atitudes e justo em suas decisões, com um trabalho pautado com integridade e seriedade ao longo de sua vida pública.

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