Trump, trumpismo e o mal-estar estadunidense – por Leonardo da Rocha Botega
Enquanto escrevo o presente texto, os votos da eleição presidencial da (ainda) maior potência mundial seguem sendo apurados. Até presente momento ainda não é possível saber o resultado, tampouco uma tendência de vitória para qualquer um dos candidatos. Nesse exato momento, os Estados Unidos estão mais próximos de uma crise institucional do que de um presidente eleito.
Estamos diante de um pleito completamente aberto, realizado em um contexto marcado pela Pandemia da Covid-19, pelos protestos contra a violência policial direcionada à população negra, por campanhas de incentivo ao voto, pela presença de milícias e pela crise econômica. Por tudo isso, a disputa entre o opositor Joe Biden, do Partido Democrata, e o atual presidente, Donald Trump, é considerada uma das mais tensas e polarizadas da História Estadunidense.
O único paralelo provável com a atual situação pode ser encontrado nas eleições de 1968. Na ocasião, o republicano Richard Nixon, em sua segunda tentativa de chegar à presidência, derrotou o então vice-presidente democrata Hubert Humphrey.
Naquele contexto, as lutas pelos direitos civis, sobretudo, dos afro-americanos, a ascensão dos movimentos de contracultura, a oposição à Guerra do Vietnã (1959-1975) e a “presença pública dos pobres” demonstravam os limites dos ganhos dos “Anos Dourados do Pós-Guerra” e da sociedade de consumo estadunidense, colocando em choque o tão propagado American Way of Life.
Além disso, os assassinatos do reverendo Martin Luther King, líder da luta pelos direitos civis, e do senador Robert Kennedy, e provável candidato democrata e irmão do ex-presidente John Fitzgerald Kennedy (assassinado em 1963), ocorridos poucos meses antes, aguçaram ainda mais os ânimos da conjuntura eleitoral.
Diante desse conturbado cenário, Nixon apelou aos sentimentos conservadores de uma classe média branca e religiosa contra a destruição dos “valores americanos”, ativando um dos grandes dispositivos da disputa pelo poder: o medo. Foi “o medo da queda”, para usarmos o termo cunhado no título do livro de Barbara Ehrenreich, que elegeu o então candidato republicano.
O “conservadorismo silencioso” de uma classe média que descobriu a possibilidade de pobreza foi potencializado e instrumentalizado na corrida pelo voto. O ex-senador e ex-vice-presidente, que viveu sob a tensão da “caça às bruxas” promovida pelo senador Joseph McCarthy, entre 1950 e 1957, utilizava o mesmo método tão criticado uma década antes. Por “ironia da história”, Nixon acabaria renunciando em 9 de agosto de1974, em razão do escândalo político que marcou o Caso Watergate.
Apesar da instrumentalização política do medo e de seu derivado o ódio, Nixon não produziu nenhum movimento que visasse a desestruturação do sistema político estadunidense. O “medo da queda” foi controlado à medida em que boa parte da demanda social pode ser absorvida (e aquilo que não pode ser absorvido foi jogado para debaixo do tapete) nos marcos do próprio Estado de Bem-Estar Social estadunidense.
Porém, em meio a essa absorção, uma nova crise se evidenciou: a economia dava sinais de colapso diante da crise do Petróleo de 1973. A resposta a essa nova crise foi simplesmente a desestruturação do próprio Estado de Bem-Estar Social a partir da emergência do neoliberalismo com o governo Ronald Reagan (1981-1989).
Na desestruturação do Estado de Bem-Estar Social é que podemos encontrar as raízes de um novo “medo da queda” por parte de setores da classe média estadunidense. A quebra do modelo industrial fordista, a substituição do padrão família de subúrbio com casa e quintal pelo padrão Yuppie (Young Urban Professional), a hegemonia do discurso da permissividade do Estado, bem como a substituição dos ganhos salariais reais pelo endividamento, marcaram a constituição de um “novo modelo americano”. Um modelo altamente individualizante e competitivo que, até onde foi possível, escondeu uma bomba social que se armava. A crise de 2008-2009 explodiu essa bomba.
A explosão dessa bomba social potencializou um mal-estar estadunidense que ganhou corpo político em meio a um sistema de representação elitizado e distante do cotidiano daqueles que dormem e acordam com dois termos em mente: desemprego e hipoteca. Foi essa bomba que gerou Donald Trump e o que é mais sério: o trumpismo. Um fenômeno que não é apenas estadunidense. O “medo da queda” reatualizado criou um clima que não se limitou às fronteiras do país norte-americano e ganhou dimensões mundiais. Nas palavras do diretor de cinema Pedro Almodóvar: “Trump despertou o pior de cada país e os loucos de cada casa”.
Com Trump, o medo e o ódio (assim como no fascismo histórico das décadas de 1920-30-40) ganharam a dimensão de um perigoso movimento global constantemente alimentado por uma máquina de negacionismos, fake news e teorias da conspiração. Com Trump à frente da (ainda) principal potência mundial nenhuma democracia está segura. Com Trump, as incertezas de um mundo cada vez mais mergulhado em crises constantes são ainda mais incertas. Com Trump no poder ou lutando para se manter no poder, como diz o ditado popular, “tudo pode acontecer, até mesmo nada”. Mas até mesmo esse nada é uma ameaça!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Observação do editor: a montagem sobre fotos (sem autoria determinada) de Biden e Trump, que ilustra este artigo é, uma reprodução da BBC News.
Resumo: EUA declararam jurisdição universal e condenação sem o devido processo. Putin não gostou. Começou a trocar as reservas russas por ouro. BRICS e outros paises da Asia começaram a fazer transações comerciais nas proprias moedas. Para quem não entendeu, um ataque ao dolar está engatilhado.
Chega-se ao final. Esta história de ‘medo’, ‘fascismo’, ‘odio e outras lorotas ideologicas não enganam mais muita gente. Mas podem continuar utilizando, para mim serve.
Grande midia produz desinformação atraves de suposições, ‘análises’, chutes e manipulação da imagem. Gostam de esconder os proprios erros e acreditar nas proprias mentiras. Para quem prefere lidar com fatos é bom ter paciencia, dar tres passos atrás para ve o que está acontecendo. Não é dificil saber o que o cidadão americano (ou ingles, ou canadense, ou frances, ou espanhol) de qualquer matiz ideologico está pensando. Não é dificil saber o que russos e chineses pensam. Se não por curiosidade, então para tornar mais dificil o trabalho dos que querem enganar.
Biden se elegeu prometendo mudança na matriz energetica americana, aumento de impostos e controle das armas nas mãos dos civis. Ou seja, maior interferencia do Estado na vida do cidadão. Só que não é vida fácil. Divida publica está na casa do chapéu. California, Oregon, NY e outros estados estão completamente quebrados. Seatle e São Francisco são classificadas como cidades do terceiro mundo.
Em 2012 mataram um advogado russo em Moscou. Tinha sido preso por investigar fraudes na arrecadação. Tinha amigo americano com conexões. Americanos criaram legislação (o Magnitsky Act) congelando ativos de pessoas que estariam envolvidas no caso. Em 2016 a legislação foi ampliada para sancionar qualquer um relacionado com violação de direitos humanos.
EUA nunca teve Estado do Bem Estar Social. Isto é o que esperam montar agora. Reagan se elegeu, não de graça, porque Carter era um presidente fraco (como o atual). Vide a crise dos refens no Irã.
Crise de 2008 também não tem nada a ver com o que foi escrito. Foi gerada por otimismo exacerbado e falta de regulação. Basta perguntar a alguem que manje de historia o que foi a Bolha da Internet.
Trump prometeu drenar o ‘swamp’ de Washington, resolver os problemas internos criados pela globalização (desemprego, desindustrialização), consertar problemas criados pela gestão Obama (Obamcare é deficitario em alguns estados, redução do carbono na economia e fechamento atabalhoado de minas,etc), diminuir a presença militar pelo mundo (que custa dinheiro), acabar com o costume dos americanos pagarem a maior parte da conta em todo tratado. Obviamente não conseguiu tudo.
Trump já sabe que perdeu. Tanto que denunciou o Acordo de Paris de madrugada (nem toda decisão é racional). O que se ve é o mise en scene do inicio do governo democrata e o inicio da campanha das midterms e proxima presidencial.
Se é provavel então que se apresentem as provas. Nao existem. Tendencia humana é tentar ‘encaixar’ o inedito e desconhecido nas narrativas do que aconteceu no passado.
Polarização? De um lado Trumpistas, Tea Party e republicanos tradiconais. Do outro democratas tradicionais (também envolvidos com corrupção ),anarquistas, comunistas. ‘socialistas’ do Bernie Sanders.