Reproduzido do jornal eletrônico SUL21 / Texto de Luís Eduardo Gomes
A enfermeira Claudia Stein estava se sentindo bem quando iniciou o turno de trabalho na tenda de atendimento e triagem para pacientes de covid-19 da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, na zona norte de Porto Alegre, às 19h do dia 25 de novembro. Por volta das 23h, começou a sentir um mal-estar, a ponto de estar próxima de desmaiar. Foi acudida por colegas, que mediram a sua temperatura: 38,8º. O próximo passo foi medir o nível de saturação de oxigênio no sangue. Deu 91. “Abaixo de 89 é caso de entubar”, explica. Foi então encaminhada às pressas para o Hospital Divina Providência. “Eles fizeram a tomografia e eu tinha 50% de um pulmão comprometido e 20% do outro”.
Após 18 dias de afastamento, Claudia está recuperada da covid-19. Entre idas e vindas do hospital, não precisou ser internada, mas ainda enfrenta os efeitos do vírus no organismo. Em razão disso, voltou ao trabalho para o atendimento com pacientes não covid-19. “Não sei se vou ficar sequelada ou não porque preciso esperar 40 dias para fazer uma tomografia, mas ando sempre cansada. Eu, que não tenho nenhuma comorbidade, foi bastante grave, fiquei bem doente, fiquei com dificuldade para fazer as coisas, para caminhar, ainda estou em recuperação”.
Às vésperas das festas de Natal e Ano-Novo, Porto Alegre e o Rio Grande do Sul vivem um novo pico da covid-19. Nesta terça-feira (22), pela primeira vez desde o início da pandemia, um boletim da Secretaria Estadual de Saúde registrou mais de 100 mortes confirmadas em 24 horas. A ocupação de leitos de UTI no Estado, que chegou a um pico de 742 pacientes de covid-19 simultaneamente internados em 19 de agosto, antes de começar a cair, bateu em 959 no mesmo dia 22 de dezembro. Independente de qual for o indicador que se olhe, o pior momento da pandemia ou está ocorrendo neste mês ou está próximo de ser superado.
O sentimento de Claudia é de esgotamento, físico e emocional. Como chefe de equipe, percebe que há uma “sensação de desespero” compartilhada por todos em seu local de trabalho. Ao mesmo tempo em que vê colegas adoecendo, em alguns casos até morrendo, a pandemia, que parecia arrefecer, agora volta com força total. “Tu já ouviu a expressão enxugar gelo? É essa expressão que coloco para ti. Com o detalhe de que a gente está com as mãos queimadas de tanto enxugar gelo”.
Para piorar, cada colega que se afasta precisa ser coberto por outro. Claudia diz que tem um “banco de horas eterno” à espera de ser usufruído em algum dia no futuro, mas que, no momento, não pode deixar as colegas sozinhas, até por isso decidiu por retornar ao trabalho e não pedir afastamento. “A gente tenta cobrir ao máximo a escala, porque, quanto mais furo tiver na escala, mais risco tu corre. Mas a gente está esgotada”, diz, acrescentando que outros quatro profissionais da UPA já estão “encostados” no INSS. “Eu não tô tão doente que eu não possa trabalhar em alguma área, então estou no atendimento não covid, porque aí eu não preciso ficar paramentada com aquele plástico todo, porque eu ainda tenho uma certa canseira. É uma coisa inexplicável. Eu nunca na minha vida tive alguma coisa que me deixasse tão ruim, tão doente e que me deixasse tão prostrada numa volta”.
“A sensação que a gente tem é um pouco de anestesia”, corrobora Denusa Wiltgen, Coordenadora das Unidades de Terapia Intensiva e Supervisora da Unidade de Internação Covid na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre…”
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(*) A reportagem foi originalmente publicada no dia 23. Para manter a autenticidade, o texto não foi adaptado cronologicamente.
Vão ver depois do Ano Novo, vão ter que apelar para o ‘doping’. Cafeína, aspartato de arginina, etc. Ênfase no etc.