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Eleições municipais e os recorrentes erros dos Institutos de Pesquisa – por Michael Di Giacomo

Uma avaliação de levantamentos (e seus erros) feitos na capital e Santa Maria

Na segunda-feira pós-eleição, a CEO do Ibope, Márcia Cavallari, em entrevista à Rádio Gaúcha, pediu desculpas aos porto-alegrenses pelo “equívoco” no resultado da pesquisa divulgada no sábado, véspera da eleição. O levantamento realizado apontou a vitória, dentro da margem de erro, da candidata que acabou sendo derrotada.

No primeiro turno, é importante recordar, o referido instituto errou ao trazer a mesma candidata à frente do candidato, que não somente ficou em primeiro lugar naquele turno, mas também consagrou-se vencedor do pleito no segundo turno realizado na capital dos gaúchos.

Em ambos os levantamentos a diferença apontada pelo instituto e o resultado aferido nas urnas demonstraram uma enorme discrepância em relação à margem de erro invocada para resguardar a lisura da própria pesquisa. Um dado a ser considerado.

E não foi somente Rio Grande do Sul que o instituto errou.

Em capitais como São Paulo, Fortaleza e mais outras cinco Brasil afora, o Ibope trouxe números que não se confirmaram na apuração final divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Não é de hoje que o resultado, ao final dos domingos de votação, surpreende a todos com a vitória de nomes de candidatos ou candidatas que se quer figuravam entre os indicados pelos institutos, em especial o Ibope.

Para ficar somente em dois exemplos recentes, o instituto, em 2018, não conseguiu mensurar que José Fogaça e Dilma Rousseff seriam derrotados nos seus intentos de ocupar uma cadeira no Senado Federal.

Márcia Cavallari reconheceu um fato muito importante e que pode ser uma das causas do erro cometido: “a diminuta amostragem em relação ao número de eleitores, por exemplo, em uma capital como Porto Alegre”. Em institutos responsáveis, com credibilidade, esse realmente pode ser um dos fatores.

Eu havia escrito a respeito no dia 4 de novembro, em artigo publicado no site. Não consigo conceber que, em uma cidade com mais de um milhão de eleitores, recolher a intenção de voto de perto de mil pessoas possa realmente representar o sentimento da totalidade do eleitor. Não há como confiar nesse tipo de levantamento.

A essa convicção, soma-se a proliferação de institutos de pesquisas sem a menor tradição, e expertise no mínimo desconhecida. Geralmente são contratados em municípios do interior e, intencionalmente ou não, os resultados obtidos, curiosamente, sempre apontam na liderança os nomes daqueles que contrataram os serviços.

Nesta eleição, Santa Maria pode viver esse tipo de experiência.

No dia 28, o Doop Consultoria em Gestão Pública e Pesquisas, que tem sua sede na cidade de Nonoai, RS, apontou uma vitória esmagadora com 59,5 % para o candidato que o contratou, contra 30,6% do candidato que acabou consagrado vencedor do pleito.

O resultado oficial, todos sabemos, foi de 57, 29% para Jorge Pozzobom e 42,71 % para Sergio Cechin.  No caso da consultoria Doop, a margem de erro, que era de 5% para mais ou para menos, novamente, não se confirmou. Um verdadeiro escárnio.

O interessante nesse acontecimento é que a divulgação da pesquisa teve a chancela do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul. Isso nos demonstra, no mínimo, que a Justiça Eleitoral precisa rever os elementos procedimentais necessários que devem ser considerados para autorizar a divulgação das referidas pesquisas. Não vejo outro caminho.

É fato que nas duas situações, Santa Maria e Porto Alegre, mesmo com pesquisas falhas, restou constatado que o eleitor não se deixou ludibriar e votou a partir do seu convencimento estabelecido pelas ideias que os candidatos defendiam.

No entanto, se nos acostumarmos a aceitar que os institutos de pesquisas, seja de grandes centros, seja de algum município do interior, pautem o debate e intentem influenciar de alguma forma o resultado final de uma eleição é porque algo está muito errado.

O processo eleitoral não pode ser fragilizado com informações apócrifas e com pesquisas que, se não adequadamente regulamentadas, poderão tornar-se um elemento de igual teor e substância das combatidas Fake News. O eleitor merece respeito.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Observação do editor: As fotos que ilustram esse artigo, de Jorge Pozzobom e Sebastião Melo, prefeitos eleitos de Santa Maria e Porto Alegre, são de Reprodução.

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5 Comentários

  1. O esporte mais praticado na aldeia é o puxa-saquismo. O segundo é elogiar pangarés. Urb tem o mesmo problema do RS, excesso de advogados e intelectuais de esquerda (nada pessoal), o que impede o ‘ir adiante’.
    Cladistone, o indigesto, fala em lealdade. O mesmo que fritou o secretario da infraestrutura (já com auxilio do PT) e iniciou a fritura na finanças. Ruido na saúde e na procuradoria. Cladistone, o indigesto, gosta de muita gente anódina ao redor. Gosta do som de um balido.
    Cladistone, o indigesto, fala em ética. O mesmo ‘jurista’ que utiliza um processo sub judice para ganhos eleitorais. Problemas da cidade em segundo plano. A desculpa usual é ‘todo mundo faz’ ou ‘é do jogo’.
    Resumo da ópera? Esquerda preocupa-se demais com eleições, demais com costumes e muito pouco com gestão. Diferença não é gritante entre os dois candidatos, mas Cladistone, o indigesto, é ‘cortesia’ do PT. Depois reclamam.

  2. Bolors perdeu no berço eleitoral dele. Dizem que com uma campanha eleitoral digital muito competente. Tinha apoio do Molusco, de Ciro Gomes e Marina Silva. ZéRuela também perdeu no berço eleitoral, com apoio até de Caitano Venenoso. Alás, PSOL tem a capital do Pará e o Republicanos a capital do Espirito Santo. PT ficou chupando o dedo. Os ungidos pelo Molusco no dia da prisão dançaram.

  3. Conjuntura mudou e talvez mude varias vezes até o próximo pleito. Heize não está exatamente num viés de alta (sabe disto e trabalha de acordo). Não é unanimidade no partido (vide a confusão na proposição da candidatura Cechin). É um jogo de xadrez que só falam no Cavalão e esquecem dos bispos, das torres, da rainha e do rei. Gostam muito dos peões também. Não se enxerga o tabuleiro todo o tempo inteiro. Alguns movimentos passam despercebidos.
    Sebastião Melo agradeceu o general Mourão no discurso da vitória. O mesmo que ‘está brigado’ com o Cavalão porque ‘não se falam’. E que noutra semana estava mais feliz que pinto no lixo, ciceroneando embaixadores estrangeiros na Amazônia.

  4. O mote do resultado das urnas foi uma polarização artificial (antes do inicio da campanha já falavam em ‘terceira via’). Cavalão teve votação significativa na aldeia na ultima eleição. Muito mais anti-petismo, o cavalismo é movimento incipiente.
    Heinze queria ser candidato a governador no ultimo pleito. Não teve força para impor a pretensão, virou candidato ao senado. Pelas circunstancias elegeu-se com considerável votação. Obvio que os mais imbecis saíram com o ‘se tivesse sido candidato a governador…’. Obvio que seria um pleito numa dimensão paralela e num universo paralelo, poderia até ter sido eleito, mas não com certeza. Poderia ter acontecido o que ocorreu na aldeia por exemplo.

  5. Santa Maria não entra na conta do ‘erro de pesquisa’. A cama de gato que o PT arrumou nesta eleição não pode ser detectado por pesquisas. Cladistone, o indigesto, em condições normais teria 40 mil votos. Cechin teve 53 mil votos. Ou seja, numa analise politica e não formal, muito mais da metade do eleitorado petista teria que votar em Cladistone, o indigesto, para reverter o resultado. Este último era o candidato com a segunda maior rejeição e, além disto, não é exatamente ‘amado’ pela esquerda da aldeia. Tanto que se elegeu em 2016 surfando a onda do anti-petismo.
    Nesta mesma toada Cladistone, o indigesto, poderá até ter pedidos de impeachment que não irão prosperar. PT e PCdoB não deixarão alguém ligado ao PSL assumir a prefeitura.

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