Artigos

O mosquito, o repelente e o Estado – por Giuseppe Riesgo

“Não se pode creditar só às autoridades públicas o monitoramento de casos”

O Brasil, se as leis e todo o arcabouço criado para todos os setores da sociedade fossem solução, seria uma verdadeira Suíça. Acontece que, aqui, quase nada funciona. Ou, no máximo, funciona de forma muito precarizada. Mesmo que iniciativas surjam, elas acabam por não prosperar – seja pela morosidade do poder público, que acaba por engessar ideias que contribuíram para um ganho à sociedade, ou, então, pelo fato de não haver um ambiente propício ao empreendedorismo.

Exemplo disso é um aplicativo que busca engajar população, agentes e gestores no controle da dengue. O aplicativo chamado o “Você Agente” foi lançado, ainda no ano passado, durante a 6ª Feira de Soluções para a Saúde, em Brasília (DF), mas é pouco divulgado apesar da sua qualidade. Vale pontuar que a iniciativa conta com a parceria das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e de Santa Maria (UFSM).

Até o começo deste ano, Santa Maria contabiliza mais 170 notificações e mais de 60 casos confirmados. O que, por si só, já preocupa. É extremamente necessário um engajamento entre sociedade civil organizada e poder público para dar enfrentamento à proliferação de criadouros ou potenciais focos do mosquito Aedes aegypti.

Ao mesmo tempo, não se pode creditar apenas às autoridades públicas o monitoramento de casos. A população, sobretudo, deve se somar à iniciativa, que se trata de uma questão de saúde pública. Do contrário, seria oportunismo e, inclusive, má-fé querer que o Estado (seja União ou governos estaduais ou municipais) resolva tudo. Esse é o clássico caso em que há urgência de dever cívico do cidadão.

É preciso lembrar que a eficácia e assertividade no combate a doenças e epidemias está diretamente ligada ao desenvolvimento e infraestrutura de cada país. O que, por aqui, sabemos que deixa a desejar. Da mesma forma, deve-se pontuar outro tópico: a capacidade de formar e deslocar equipes treinadas e equipadas para enfrentar a ameaça. Uma frente de trabalho que é, numericamente, insuficiente no Brasil.

O sistema de saúde do nosso país, que já trabalha no limite, nesta época do ano se vê ainda mais sobrecarregado, obrigando os governos a remanejar suas escassas verbas para fazer frente ao surto da doença. Santa Maria, infelizmente, não é diferente. O que pode ser feito, sim, é se valer da comunicação institucional para alertar a população. Uma campanha massiva que deveria ocorrer, anualmente, sempre no começo do último trimestre do ano para acontecer com a “safra” do mosquito. Isso, ao que me parece, seria a cidade cuidando das pessoas. Pena que não ocorre.

Enquanto isso não acontece, muita gente sofre. O risco que as grávidas correm, por exemplo, às leva em busca de proteção contra as picadas de forma urgente. Precisam recorrer à compra de repelentes contra o mosquito aedes aegypti, o que nem sempre é viável a depender de cada bolso. Temendo o risco de transmissão de doenças neurológicas ao bebê, em decorrência da incidência da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus, os preços dos repelentes dispararam no mercado.

É de conhecimento público que os produtos oferecem proteção por curto prazo, o que exige reaplicação a cada hora, provocando uma realidade díspar entre as gestantes com menor renda. Outros muitos exemplos existem, e claro que o Estado nem sempre pode solucionar tudo. No entanto, dar de ombros a essa realidade é, no máximo, fazer fumacê. Precisamos de prevenção, trabalho e soluções.

(*) Giuseppe Riesgo é ex-deputado estadual pelo partido Novo. Ele escreve no Site às quintas-feiras.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

11 Comentários

  1. ‘[…] os preços dos repelentes dispararam no mercado.’ Nos antigamente campanhas do governo ensinavam a faze soro caseiro. Problema era a desidratação. Agua fervida, sal, açucar. Se tivessemos uma universidade por perto poderiam pesquisar repelentes efetivos feitos com produtos naturais de baixo custo. Distribuir-se-ia amostras gratuitas nos pontos de maior concentração de pessoas junto com um planfeto mostrando como é o processo de confecção. Teria maior ou menor efeito que um aplicativo de celular?

  2. ‘[….] deveria ocorrer, anualmente, sempre no começo do último trimestre do ano para acontecer com a “safra” do mosquito.’ Genial! Com tres trimestres para esquecer e deixar o assunto de lado. Assim todo ano teremos ‘incendio’ para apagar! Obvio!

  3. ‘[…] se valer da comunicação institucional para alertar a população. Uma campanha massiva […]’ Que original! Ninguem falou/escreveu isto antes! Se tivessem feito com certeza teria dado resultado!

  4. ‘[…] está diretamente ligada ao desenvolvimento e infraestrutura de cada país. O que, por aqui, sabemos que deixa a desejar. […]’. Resolvam! Não existe gestão, é só ‘apagar incendio’!

  5. ‘[…] há urgência de dever cívico do cidadão.’ O dever civico que se ph*#@. Educação moral e civica era materia do ensino fundamental (antigo primeiro grau).

  6. Para quem não entendeu, gente de ‘centro’ (os isentões) não tem argumentos e usam um truque muito utilizado pelos analfabeto funcionais, sem argumentos parte-se logo para a desqualificação.

  7. ‘Do contrário, seria oportunismo e, inclusive, má-fé querer que o Estado […]’. Lembra debate ocorrido no passado proximo da urb. Quem nunca fez festa na adolescencia não poderia falar mal da Calourada. Seria um ‘frustrado’. Quem fez festa na adolescencia não poderia falar mal da calourada. Seria ‘hipocrisia’. Ou seja, não pode falar mal da Calourada. Ocorre que criticar o uso de dinheiro publico na tal festa é valido. Há os que se incomodam com o barulho. Tem o direito de reclamar também. O que leva a outro problema, a quantidade de causidicos da urb que encontraram o diploma do curso de direito numa caixa de sucrilhos.

  8. ‘A população, sobretudo, deve se somar à iniciativa,[…]’. Quem é o autor para dizer quais os deveres da população? Considerando que não precisamos da aprovação dele para nada?

  9. Alas, só lembram das aguas empoçadas por ai quando é estação da dengue. Passada a mesma esquecem e deixam o assunto de lado.

  10. ‘ O aplicativo chamado o “Você Agente” foi lançado […]’. Querem resolver tudo com aplicativos, arremedos tecnologicos. Como se os aparelhos da população tivessem memoria infinita, é aplicativo de banco, da prefeitura, do governo federal, da concessionaria de agua, da concessionaria de luz, CPF, carteira de trabalho, documento do carro, etc. ‘Não se pode creditar só às autoridades públicas o monitoramento de casos’, quer dizer que além de pagar tributos há que se fazer o serviço também? Coletivismo acéfalo!

  11. ‘[…] elas acabam por não prosperar – seja pela morosidade do poder público, […]’. Poder publico se resume a cabeças ‘pensantes’ que tomam decisões no ar condicionado, fazem ‘campanhas’ (jogam dinheiro para a midia) e tentam empurrar para a população goela abaixo algo que não é dela por conta do deficit democratico. Os canais disponiveis para a participação são inconvenientes (fora de mão) e muitas vezes aparelhados e/ou circo para ingles ver.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo