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Enquanto argentinos se vacinam contra a Covid, os brasileiros morrem infectados – Por Carlos Wagner

Se fosse futebol era hora de trocar o técnico, nesse certame anticoronavírus

Os países vizinhos, e não somento os argentinos, já estão vacinando a sua população contra o novo coronavirus (Foto Reprodução)

Como todo brasileiro se considera um técnico de futebol, fica mais fácil con­ver­sar usando como exemplo o desempenho em campo de um time. Vamos con­si­derar que o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são um time e o treinador é o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). E o time adversário é a Covid-19. Considerando os resultados dos últimos confrontos, há alguma coisa errada com a equipe treinada por Bolsonaro. Não consegue ganhar uma partida, os atacantes estão chutando para fora com o gol vazio.

Esse texto é a síntese de uma conversa que tive com um colega repórter que conheci há muito tempo, quando fazia reportagens sobre um conflito agrário em uma cidadezinha nos arredores de Santo Ângelo, no interior do Rio Grande do Sul. Hoje ele leva uma vida mansa em uma cidadezinha no litoral da Bahia. Usei esse texto como nariz de cera para abrir a conversa com os meus colegas repórteres, em especial com os jovens que estão na correria das redações, sobre a vacinação contra a Covid-19, o assunto do momento no Brasil. Vamos aos fatos, como diziam os editores nos tempos das barulhentas máquinas de escrever nas redações.

Por que enquanto os argentinos estão sendo vacinados contra a Covid os bra­si­lei­ros seguem sendo infectados pelo vírus e morrendo nos hospitais? Antes de responder à pergunta, vou acrescentar uma observação. Não são só os argentinos que estão tomando a vacina, também americanos, britânicos, chilenos, bo­li­vi­a­nos e vai por aí afora. No total, estão sendo vacinadas as populações de 40 países.

Respondendo à pergunta. O Brasil está fora do grupo dos países que estão vacinando contra a Covid porque o presidente Bolsonaro montou um time perdedor na administração do Ministério da Saúde e da Anvisa. Para entender como isso aconteceu é necessário recuar no tempo para melhor esclarecer o caso da vacina. Primeiro vamos repetir fatos já conhecidos. Porque é bom sempre lembrá-los para facilitar a vida do leitor. Logo no início da pandemia, lá por março do ano passado, o presidente Bolsonaro entendeu que para manter o seu poder precisava domesticar o Ministério da Saúde, colocando como ministro alguém que cumprisse as suas ordens e deixasse de seguir as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O presidente é negacionista em relação ao vírus. Então ele sabotou o trabalho de dois dos seus ministros da Saúde, os médicos Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido, e Nelson Teich, que se demitiu. Colocou no lugar o general da ativa do Exército Eduardo Pazuello, que é um “menino de recado” do presidente. Na Anvisa, o presidente foi mais discreto. Exerceu o seu direito e indicou para presidente o médico e contra-almirante da Marinha Antonio Torres, que teve o nome aprovado pelo Senado.

As vacinas que serão usadas pelos brasileiros precisam ser autorizadas pela Anvisa. Bolsonaro tem repetido isso toda a vez que é cobrado pelos jornalistas sobre a vacinação da população. E tem reforçado o perfil técnico da agência. Inclusive, os funcionários de carreira da Anvisa divulgaram uma nota reforçando a sua independência no exercício do seu trabalho.

Nas nossas reportagens sobre a agência o máximo que temos avançado é colocando em dúvida a lealdade do contra-almirante à ciência. E informando nas entrelinhas das matérias que ele foi posto no cargo para obedecer as ordens do presidente. Aqui terminamos o relato dos fatos conhecidos. Agora vamos falar sobre fatos que não conhecemos. Ou sabemos apenas superficialmente.

A Anvisa é uma das 10 agências reguladores do Brasil que foram criadas em 1996. Desde 2018 tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que tem como objetivo blindar os funcionários das agências reguladoras contra a interferência do governo. Inclusive mudando o sistema de escolha do presidente. O modelo de agência que vigora hoje deixa vulnerável os funcionários à pressão governamental.

Nós precisamos esclarecer melhor essa história. Por quê? Toda a vez que um funcionário ou dirigente da Anvisa vem dar uma explicação sobre as vacinas, ele parece que não sabe do que está falando. Mais ainda: qual é a estrutura que os funcionários da agência têm para exercer o seu trabalho? Há gente suficiente para atender a demanda?

Nós, jornalistas, precisamos esclarecer o que acontece entre as quatro paredes da agência para melhor informar ao nosso leitor. E principalmente termos certeza de que quando escrevemos que a Anvisa segue a ciência, é realmente isso que acontece. Caso contrário, no futuro podemos ser apontados como cúmplices dessa situação que se encontra a questão da vacinação da população.

O Brasil tem uma estrutura de laboratórios privados e públicos de alta qualidade. O país tem recursos para investir na vacina. Também tem uma rede de saúde pública altamente eficiente na vacinação da população. Então por que a população não está sendo vacinada? E continua convivendo com o medo de ser a próxima vítima de um vírus que já matou 191 mil brasileiros.

A resposta é óbvia. O time armado por Bolsonaro para lidar com a pandemia causada pela Covid-19 não se acertou e está perdendo gol na cara do goleiro. Se fosse futebol era hora de trocar o técnico. Ainda mais que o time da argentina ganhou do adversário.

PARA LER A ÍNTEGRA, CLIQUE AQUI.

 (*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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