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Renato Gaúcho quer derrubar Bolsonaro do posto de “boca de conflito” – Por Carlos Wagner

Uma relação entre os atos e as falas do treinador Portaluppi e do político Jair

Fracassos do Renato não têm a ver com sua carreira. Mas com o fato de que deixou de aprender com seus erros (Foto Reprodução)

Não vamos longe. Nos últimos seis meses, a cada resultado ruim do Grêmio, o seu técnico, Renato Gaúcho, vem disparando uma artilharia pesada contra a imprensa esportiva. Ameaça repórteres, dá a entender em suas entrevistas que “tem o rabo preso” de colegas e por aí afora.

Técnico de futebol não gostar de repórter e comentarista esportivo é do jogo. Mas Renato passou dos limites. Entrou em um campo que ofende a todos os jornalistas. Os seus métodos de tratar a imprensa são semelhantes aos do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), que por sua vez os copiou do seu ídolo, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump (republicano), derrotado pelo democrata Joe Biden na sua tentativa de reeleição no final do ano passado. Não antes de causar a maior confusão incentivando a invasão do Capitólio por grupos de extrema direita – há matéria na internet. Saiu da Casa Branca pela porta dos fundos.

Restou Bolsonaro, símbolo no mundo da destruição da Floresta Amazônica, do negacionismo da pandemia causada pela Covid-19, que já matou 210 mil brasileiros, e responsável pela falta de oxigênio nos hospitais de Manaus (AM), levando vítimas do vírus ao óbito por asfixia.

Renato Gaúcho ficou conhecido nos anos 80, quando teve uma carreira de jogador de futebol de sucesso no Grêmio e em outros times. Depois que parou de jogar, iniciou uma igualmente bem-sucedida carreira de técnico. Foi sempre uma pessoa polêmica no trato com os jornalistas. Mas nunca havia avançado o sinal para o campo da ofensa e da ameaça como atualmente. Sempre se impôs pela qualidade técnica do seu trabalho. Ao contrário do seu ídolo Bolsonaro, que foi discreto como militar e na vida política.

Tenente do Exército nos anos 80, chegou a ser preso por se envolver em ameaças de usar bombas contra unidades militares – há matéria sobre o assunto na internet. Reformado como capitão, migrou para a vida política, elegendo-se vereador do Rio de Janeiro e depois, durante três décadas, deputado federal.

Tanto a carreira no Exército quanto a de parlamentar foram inexpressivas. Mas, graças a sua qualidade de causar conflitos, sempre que abria a boca era notado pela imprensa. Com isso, ganhou cada vez mais espaço nos jornais, numa trajetória que o levou a se eleger presidente da República.

Antes de seguir contando a história, uma explicação para quem não é jornalista. Boca de conflito é a pessoa que sempre tem alguma coisa a dizer que acaba na manchete do jornal por ser totalmente contrária aos padrões de convivência política civilizada, como, por exemplo, defender torturadores. Trato disso no post Bolsonaro é o primeiro presidente do Brasil “boca de conflito”, que publiquei em 13 de novembro de 2020.

Voltando à história. No último ano, a cada fracasso que acontecia com o Grêmio, Renato aumentava o volume de desaforos em relação ao trabalho dos jornalistas. Tenho estranhado o sangue-frio dos colegas repórteres, narradores e comentaristas esportivos em relação às ofensas do técnico. A gota d’água foi na quinta-feira (28/1), após a derrota por virada, dentro da Arena, para o Flamengo, por dois a quatro. A entrevista do técnico gremista foi recheada de ameaças do tipo “vou começar a dar nome dos jornalistas” e outras ditas nas entrelinhas.

Não sou repórter esportivo. O foco da minha carreira são conflitos agrários (sem-terra/fazendeiros/índios/garimpeiros), migrações (povoamento das fronteiras agrícolas) e crime organizado nas fronteiras. Nada entendo de táticas de futebol, a não ser aquelas discutidas aos gritos nas mesas dos botecos, enquanto garrafas vazias de cervejas vão se empilhando. Sou torcedor do Internacional.

Como repórter, me senti agredido pelas ofensas de Renato. Tanto pelo que ele disse como pelo que insinuou nas entrelinhas. Ofender jornalista faz parte do jogo. Agora, partir para a ameaça é dar uma de Bolsonaro. Tentar atirar a torcida contra a imprensa é sacanagem. Trump fazia isso, e acabou perdendo a eleição. Bolsonaro faz isso e hoje está encurralado em um canto, se defendendo da acusação de genocida.

E Renato, onde espera chegar caminhando por essa estrada? Como disse, não tenho conhecimento sobre futebol o suficiente para escrever sobre o assunto. Mas conheço as pessoas, principalmente como se comportam durante os conflitos. Os fracassos do técnico do Grêmio não têm a ver com a velhice que está chegando. Mas com o fato de que ele deixou de aprender com os seus erros. É simples assim.

Por conta da fuga de assinantes e anunciantes para as redes sociais, a grande imprensa do Brasil vive uma crise e tem tentado resolver os seus problemas com a demissão em massa de jornalistas, principalmente os mais velhos, que ganhavam os melhores salários. Como consequência, a qualidade dos jornais tem decaído.

A imprensa esportiva não é uma exceção dentro desse quadro. Hoje o grande volume de notícias sobre futebol é encontrado nas redes, principalmente no Twitter. A pergunta que se faz: esse quadro encorajou o técnico a “ir para o pau com os jornalistas”?

Para arrematar a nossa conversa. A não ser que o técnico do Grêmio pretenda fazer carreira política e esteja disparando desaforos para ganhar espaços na imprensa, como fez Bolsonaro, ele acabará encontrando o que está procurando: uma cadeira de réu em um tribunal.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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2 Comentários

  1. Ambos tem uma característica comum: não irão mudar porque tem gente que não gosta. Não é insignificante conquistar o direito de ser realmente o que é. Americanos levam isto para o lado monetário, dizem que a criatura tem ‘fuck you money’.
    Segundo: quem é bom para bater é bom para apanhar.
    Terceiro, uma ameaça pública: se encontrar a Ferrari vermelha de Claudemir Pereira estacionada na rua vou riscar toda a pintura.
    Discussão, na base, é sobre o papel da imprensa, o que a sociedade espera e o que os jornalistas acham que é. A diferença é importante.
    Periodistas no futebol, para resolver problemas próprios (não têm conteúdo para tratar), transferem o pepino para outros. Falsas polemicas, fofocas, etc. Vide Mandetta, ministro da saúde bom é aquele que dá coletiva de 5 horas. Clube de futebol ruim é o Atlético paranaense que solucionou a questão restringindo a cobertura ao canal do clube (é o futuro, Grêmio deveria fazer o mesmo).
    Não é incomum alguém dizer que os técnicos de futebol devem ter tempo para desenvolver um projeto, não podem ser demitidos por uma serie de resultados ruins, etc. É o discurso. Quando interessa. Coudet no Inter teve sua cabeça requisitada pela imprensa. Acabou dando certo, mas é exceção (os caras são ‘largos’, até Celso Roth foi campeão da América; mas daí veio o Mazembe). Na semana que passou, para dar um exemplo, jornalista que negocia jogadores no mundo das idéias largou um ‘quando chegar a hora de renovar o contrato do Renato há que se fazer uma avaliação, mimimi, blábláblá’, Quem contrata técnico é o presidente (quem trata das finanças também). Ou seja, extrapolam o comentário esportivo sem formação ou informação. Jogam a torcida contra o técnico. Vira problema que não precisava existir. Solução: criar a TV Grêmio e deixar os bois cornetas de fora.

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