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100 anos da Semana de Arte Moderna – por Leonardo da Rocha Botega

Alguns períodos históricos podem ser muito bem interpretadas como aceleradores de um século. A década de 1920 foi um destes. Os chamados Roaring Twenties (numa tradução livre “Loucos Anos 20”), marcaram profundamente a História mundial. O jazz, a art déco, a nova feminilidade que abandonava o espartilho e conquistava o sufrágio, a invenção de penicilina, a literatura de D. H. Lawrence, F. Scott Fitzgerald e Ernest Hemingway, a travessia aérea do Oceano Atlântico feita por Charles Lindbergh, pareciam ter deixado para trás as ruinas da Primeira Guerra Mundial.

No Brasil, a oligárquica política do Café com Leite começava a sentir os primeiros sinais de seu estremecimento. A greve geral de 1917 já havia sido um importante marco na vida do emergente movimento operário. Em 1921, as oligarquias dissidentes do Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia deram início a chamada Reação Republicana com a candidatura de Nilo Peçanha contra a candidatura oficial de Artur Bernardes. Um ano depois, a Revolta do Forte de Copacabana traria à tona o Movimento Tenentista.

O ano de 1922 seria um verdadeiro marco de contestação política. No dia 25 de março seria fundado o Partido Comunista do Brasil. Nesse mesmo ano, as oligarquias paulistanas entrariam em choque com as novas perspectivas estéticas e artísticas apresentadas, no Teatro Municipal de São Paulo, entre os dias 11 e 18 de fevereiro, naquela que ficou conhecida como a Semana de Arte Moderna.

Ao longo daqueles dias, literatos como Mário de Andrade, Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Graça Aranha e Guilherme de Almeida, pintores como Di Cavalcanti e Anitta Malfatti, escultores como Victor Brecheret e músicos como Villa-Lobos e Guiomar Novaes, influenciados pelas novas vanguardas europeias, cubistas, expressionistas e futuristas, convidavam a intelectualidade brasileira a repensar os padrões culturais brasileiros.

A Semana de Arte Moderna não foi um movimento popular, longe disso, se restringiu as elites intelectualizadas de São Paulo. Mesmo assim, representou a inquietação de uma sociedade que buscava redefinir seus padrões de interpretar-se. O moderno não era transferir os velhos padrões europeus, mas sim, penetrar no âmago da realidade brasileira, olhar para o indígena, para o negro, para o popular e de lá retirar o autêntico da nacionalidade.

A Semana de Arte Moderna abriu caminho para a verdadeira revolução nas interpretações do Brasil realizada na década de 1930 por intelectuais como Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre. Representou e questionou os limites excludentes da Belle Époque oligárquica brasileira. Essa talvez seja a melhor lição a ser extraída de seu centenário.

Nesse 2022, ano em que rememoremos também os duzentos anos de nossa Independência Política, teremos a oportunidade de retomar algumas das heranças deixadas pelos modernistas de 1922. Retomar o questionamento as velhas formas oligárquicas que ainda permanecem no país e, principalmente, se livrar dos mitos autoritários que normalizam e impulsionam a exclusão social e a violência cotidiana contra os pobres no Brasil.

*Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).

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Um Comentário

  1. Kuakuakuakua! Coisas irrelevantes que tem que ser memorizadas para o vestibular. Em outubro de 1922 Benito Mussolini, jornalista, socialista renegado, virou primeiro ministro da Italia. Ideologias ultrapassadas, de gente que quer tocar o mundo olhando no retrovisor, soluciconam-se por conta.

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