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ESCRAVIDÃO. O lado oculto da mídia brasileira

POR MAIQUEL ROSAURO

O site Outras Mídias publicou nesta semana uma reportagem sobre o livro Imprensa e escravidão: política e tráfico negreiro no Império do Brasil (Rio de Janeiro, 1822-1850), de Alain El Youssef. A obra mostra como jornais, mais conservadores que o próprio Império, bloquearam lei abolicionista e atrasaram em duas décadas e fim do tráfico de africanos para o Brasil. Uma ótima leitura para um domingo (e que leva a uma angustiante pergunta: O que mídia brasileira sustenta nos dias atuais?).

Como a mídia brasileira sustentou a escravidão

Em 7 de novembro de 1831, no primeiro ano do período regencial, a Assembleia Geral decretou e a Regência sancionou uma lei proibindo o tráfico de escravos africanos para o Brasil. A lei, bastante explícita em seu texto, declarava livres todos os escravos vindos de fora do Império e impunha penas bastante duras àqueles que os haviam importado. A interpretação corrente na historiografia é a de que essa lei, precedida por um tratado com a Inglaterra que impunha prazo final para o tráfico, foi feita “para inglês ver”, isto é, para acalmar a pressão externa e deixar internamente tudo na mesma.

Tal ponto de vista foi contestado pelo livro Imprensa e escravidão: política e tráfico negreiro no Império do Brasil (Rio de Janeiro, 1822-1850), de Alain El Youssef, publicado com o apoio da Fapesp.

“Antes de a lei entrar em vigor, houve uma grande intensificação da importação de escravos, porque os senhores sabiam que a determinação da Regência em abolir o tráfico era real. E, quando a lei foi aplicada, o tráfico realmente entrou em curva descendente e quase terminou. Ele foi sendo retomado aos poucos, a partir de 1834 e 1835. O que eu procurei mostrar foi que a imprensa teve um papel fundamental nessa retomada. E não só na retomada, como também na manutenção desse tráfico ilegal por cerca de 15 anos, até 1850”, disse Youssef à Agência Fapesp.

Seu livro resultou de pesquisa também apoiada pela Fapesp, na qual ele consultou todos os jornais publicados no Rio de Janeiro entre 1822, data da Independência, e 1850, data final do tráfico negreiro transatlântico, para verificar qual o papel exercido pela imprensa, tanto na crítica quanto na defesa da importação de africanos. “Constatei uma estreita relação entre os artigos publicados na imprensa e os debates realizados no parlamento imperial. Ao mesmo tempo em que defendiam o tráfico no parlamento, os conservadores utilizavam os jornais para justificar o contrabando de escravos e combater aqueles que o criticavam”, afirmou.

“Percebi também uma grande sintonia entre a defesa do tráfico veiculada pela imprensa e o desenvolvimento da economia cafeicultora – uma sintonia principalmente com os cafeicultores do Vale do Paraíba, cuja atividade estava em plena expansão desde o final da década de 1820. Para tocar essa expansão, eles precisavam incorporar cada vez mais mão de obra às suas fazendas. Os conservadores se uniram a esses senhores, e, juntos, conseguiram transformar a lei que aboliu o tráfico em letra morta durante 15 anos, desde 1835, quando esse grupo se compôs e surgiu com força política, até 1850, data em que o tráfico terminou de fato”, informou o pesquisador.

Segundo a lei de 1831, o africano que aportava em território brasileiro era considerado livre, não podendo, portanto, ser escravizado. O que Youssef evidenciou em seu estudo foi como os conservadores, por meio da imprensa, justificaram para o eleitorado a manutenção da propriedade ilegal desses africanos, escravizados a despeito da lei. “A intersecção de minha pesquisa, focada na imprensa, com a de outro historiador, Tâmis Peixoto Parron, que estudou o debate sobre o tráfico no parlamento imperial, mostra como esse grupo pró-tráfico, que atuava no parlamento, atuava na imprensa também, fazendo com que os discursos parlamentares chegassem ao restante da sociedade de forma mais rápida, ampla e eficiente”, acrescentou.

CLIQUE AQUI para ler a matéria na íntegra.

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