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Wizard é o primeiro dos empresários que vai ter que explicar os 500 mil mortos – por Carlos Wagner

Articulista avalia ida do empresário que integrou time do ex-ministro Pazuello

Qual o conselho que o empresário Carlos Wizard dava ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello? (Foto Reprodução)

O que está acontecendo com o empresário Carlos Wizard, 64 anos, deixou os seus colegas com as “barbas de molho”, um dito popular que significa de sobreaviso. Wizard tornou-se investigado na Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado da Covid-19, a CPI da Covid, e terá que explicar para os senadores qual a sua responsabilidade nos 500 mil brasileiros mortos pelo vírus.

No ano passado ele foi secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Ministério da Saúde e foi dele a sugestão de “recontar os mortos” pela pandemia. A sugestão causou revolta entre os parentes dos mortos e ele pediu desculpas. Os senadores estão interessados em esclarecer a participação do empresário no “gabinete paralelo”.

Ele aconselhava o ex-ministro da Saúde e general-de-divisão da ativa do Exército Eduardo Pazuello sobre a Covid. Pazuello foi figura chave na montagem da estratégia do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no combate ao vírus. O general tornou o negacionismo do presidente da República em relação ao poder de contágio e de letalidade do vírus em política de governo.

O depoimento de Wizard na CPI estava marcado para quinta-feira (17/06). Não compareceu alegado que está nos Estados Unidos acompanhando um familiar doente. Assim que voltar ao Brasil terá o passaporte apreendido e será “conduzido coercitivamente” para depor na CPI – a história toda está na internet.

É sobre isso que vou conversar com os meus colegas e leitores. O que os senadores querem que Wizard explique? Por todos os depoimentos e documentos que já desfilaram pela CPI, a ideia geral hoje é que o governo federal praticou uma série de políticas propositadamente com o objetivo de atrasar a compra de vacinas e insistir no uso de drogas como a cloroquina, sem eficácia contra o vírus. Além de ter sido relapso em outras questões, com a falta de oxigênio hospitalar em Manaus (AM) e no interior do Pará, que matou por asfixia dezenas de pacientes.

O resultado é o que conhecemos hoje: mais de meio milhão de mortos. Wizard terá que explicar qual a sua participação nesse episódio. Aqui é bom que os colegas que trabalham pelo interior do Brasil, portanto com carência de estrutura e outros problemas, fiquem atentos para o seguinte: o empresário não vai depor sobre as suas convicções políticas ou falcatruas de desvio de verbas. Não, ele vai explicar a sua participação na montagem de uma política de combate à pandemia que propositadamente escolheu caminhos que levaram ao atual desastre.

Wizard sabia que estava ajudando na montagem de um sistema que é acusado pela morte de 500 mil pessoas? O seu currículo, disponível na internet, aponta em outra direção. Ele é uma pessoa religiosa, seguidor da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Filho de um caminhoneiro e uma costureira, em Curitiba (PR), soube aproveitar as oportunidades que conseguiu com estudo e dedicação e se tornou um empresário bem-sucedido. É o resumo da história da vida dele disponível na internet.

Então? Como uma pessoa com o perfil de Wizard se envolve na montagem de um sistema como esse que é chamado de genocida? Vamos descobrir quando ele depor. Recomendo aos colegas repórteres que pesquisem os arquivos do Julgamento de Nuremberg.

Logo depois de terminar a Segunda Guerra Mundial, os Aliados julgaram os líderes nazistas da Alemanha com o objetivo de prender e executar os criminosos de guerra e de entender como pessoas consideradas normais puderam apoiar a política genocida dos nazistas.

Baseados nos depoimentos dados nos tribunais há relatos interessantes dos empresários alemães que financiaram os nazistas. Tenho dito que, cada dia que passa, a CPI da Covid mais se parece com Nuremberg.

Disse na abertura do texto que os colegas empresários de Wizard que se envolveram com o governo Bolsonaro “colocaram as barbas de molho”. Por quê? Já disse que a Constituição assegura o direito de qualquer pessoa a defender a bandeira política que bem entender.

Mas a questão é outra: trata-se de buscar os responsáveis pela morte de 500 mil pessoas. É outro assunto. Esses empresários representam marcas de produtos. E a política do governo Bolsonaro na questão da pandemia é considerada genocida.

Há pesquisadores já admitindo que o Brasil pode chegar a 1milhão de mortos pela Covid. E pelo que já conhecemos, o grande responsável por toda essa lambança é o negacionismo do presidente da República. Os empresários que apoiaram e comemoraram a vitória de Bolsonaro calaram na hora que foi montada a máquina de causou a morte de 500 mil pessoas.

Calaram por que não sabiam o que estava acontecendo? Vão ter que responder a essa pergunta. Tenho dito que o governo Bolsonaro não pode ser atacado pelo fato de ser de direita. Defender os valores da Ditadura Militar e ser formado por grupos exóticos, como nazistas, terraplanistas, ocultistas e outros.

Na sua campanha eleitoral ele disse que faria isso. Aliás, durante os seus 30 anos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, sempre afirmou que faria isso. O que ele não disse é que apostaria contra a ciência.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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