A liberação de agrotóxicos e a orientação sexual do governador – por Marta Tocchetto
Articulista avalia anúncio de Eduardo Leite e as demandas outras da sociedade
A revelação de Leite aproveita os holofotes para desviar a destruição irreversível provocada por políticas equivocadas, como a liberação de agrotóxicos. É cortina de fumaça.
A revelação do governador Eduardo Leite marcou a semana anterior. Não fosse o interesse pela vida do outro – para muitos, maior do que pela sua própria vida – o fato não viraria a principal notícia de programas de fofoca e de noticiários nacionais em horário nobre.
Entendo que cada um sabe de si e as escolhas pessoais só dizem respeito a quem as faz. Infelizmente, o comum está distante das condições normais de temperatura e pressão que em alguns casos, representam os ideais. É sempre mais fácil cuidar da vida alheia – seja para amenizar falhas e frustrações. Seja para depreciar, desqualificar o outro. Seja por falta de empatia. Seja por espírito de porco! Pessoas tóxicas!
Sentir-se integral, inteiro e inteira é parte da visão holística, cósmica do meio ambiente. É essencial sentir-se completo, em paz, em harmonia com o todo. Ao revelar-se um governador gay (e não um gay governador), a mim soaria positivo se ele durante sua administração houvesse feito algum gesto na direção das causas LGBTQs, pois como bem sabemos, o preconceito e o ódio levam muitos e muitas à morte, à marginalização e à exclusão social.
Não foi o que se verificou nesta luta, nem em outras. A defesa da saúde, da alimentação saudável, da proteção ambiental, do patrimônio público, da igualdade, da justiça social no governo Leite sempre foi relegada aos interesses de setores privados como, no caso do PL 260/2020 que flexibiliza o uso de agrotóxicos proibidos.
Em regime de urgência, a lei até então em vigor desde 1982, foi alterada. O envenenamento dos gaúchos foi aprovado pela maioria dos deputados, 37 a favor e 15 contra. Os prejuízos serão irreversíveis não apenas para o meio ambiente (solo, ar e água), mas a todos os seres vivos, inclusive para a economia.
O estado do RS sempre se diferenciou das demais unidades da federação por possuir uma legislação ambiental extremamente avançada. A derrubada da lei afronta a memória da luta ambiental protagonizada pelas pioneiras Magda Renner, Giselda Castro e Hilda Zimmermann, que se destacaram justamente contra a liberação de diversos agrotóxicos, na década de 80.
Já vivemos uma situação de insegurança devido ao crescente uso de venenos agrícolas no Brasil. O RS, inexplicavelmente, resolveu mais uma vez se alinhar à mortífera política ambiental do governo Bolsonaro. A liberação de novos/velhos venenos trará maiores concentrações de substâncias tóxicas aos pratos dos gaúchos.
É por esta e outras que a revelação de Leite, para mim, soa apenas como um alívio pessoal desconectado de preocupações coletivas e sociais. É oportunismo político visando as eleições presidenciais de 2022, no momento em que crescem as buscas por uma terceira via ao pleito.
A coragem proclamada é desconectada da integralidade e da redução de preconceitos. É cortina de fumaça. Ela não passa de um ato, aproveitando os holofotes, para desviar a destruição irreversível provocada por políticas equivocadas de privatização de setores essenciais como água e energia, de incentivo aos megaempreendimentos de mineração de carvão e de liberação de agrotóxicos proibidos, dentre outras.
O PL 260/2020 é mais um alinhamento do governo Eduardo Leite ao governo Bolsonaro que claramente se move pela falta de empatia, de compaixão e de solidariedade.
(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.
Ótimo artigo! Lúcido, bem fundamentado em argumentos científicos, não imediatistas nem oportunistas. Lamentáveis os comentários anteriores: negacionistas; oportunistas; burros; bem se vê escritos por adeptos do neo-liberalismo feroz que só faz destruir e consumir irresponsavelmente o planeta Terra, o ser humano e o Universo. Mas nós, os e as “holístico/as”, somos fortes e incansáveis na luta pela sustentabilidade e por uma vida mais saudável e harmoniosa neste Universo. Podem nos chamar do que quiserem, não nos ofendemos, pois a “utopia da vida justa para todes” é o que nos move e NÃO o lucro cego sem escrúpulos. Seguimos!
‘flexibiliza o uso de agrotóxicos proibidos’: então que o MP investigue e denuncie quem deve ser processado. Motivo simples: ‘Os agrotóxicos, seus componentes […], só poderão ser produzidos, exportados, importados, comercializados e utilizados, se previamente registrados em órgão federal, de acordo com as diretrizes e exigências dos órgãos federais responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente e da agricultura.’ Lei 7802/89.
Imbutido nisto tudo está uma visão despregada da realidade. Alguém acredita que os 65 milhões de hectares utilizados na agricultura brasileira hoje em dia pode ser substituida por agricultura familiar sem o uso de produtos quimicos? Ter o mesmo resultado? Obvio que não.
Dudu Milk visa o pleito presidencial do ano que vem. Cresce a busca pela terceira via. E o artigo representa o pensamento de muita gente na Universidade Federal do Stalin e do Mao Tse Tung, onde se recebe Molusco com L. com segurança feita por ‘milicia’ do MST.
‘ visão holística, cósmica do meio ambiente. É essencial sentir-se completo, em paz, em harmonia com o todo’: todos têm direito a suas convicções religiosas, mas não têm direito de tentar impor as mesmas aos outros. Visão cósmica mesmo é a seguinte, daqui alguns bilhões de anos o sol vira uma gigante vermelha e vai torrar o planeta. A natureza também quer um pedaço de cada um.
‘Julgar a humanidade’ também é direito, mas a ‘humanidade’ vai dar peso ao julgamento como bem lhe aprouver.
Governador gay e gay governador: a ordem dos fatores não altera a soma. Cascata de causidico.
Votar levando somente e tão somente os costumes é coisa de otário. ‘gesto na direção das causas LGBTQs’ causaria um problema a mais, levaria o debate para longe do que atinge o todo, gastaria capital politico. E serviria para absolutamente nada.