UFSM: passado e presente na guerra pela eternidade – por Leonardo da Rocha Botega
Contra ‘valores humanistas para esconder vontades de poder e obscurantismos’
Mais uma vez a Universidade Federal de Santa Maria é alvo de ataques. Em sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito instituída no Senado para averiguar as responsabilidades do governo federal na desastrosa condução do enfrentamento à Pandemia da Covid-19, o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) afirmou ter vergonha da instituição que o formou nos anos 1970. Desde então as novas e as velhas esferas públicas, virtuais e “reais”, foram inundadas de manifestações de repúdio e apoio a tal afirmação, com o predomínio das primeiras em relação as segundas.
Porém, apesar de minoritárias, uma característica chama atenção nas manifestações de apoio à declaração do senador pepista: a reivindicação de um passado que se sobrepõe ao presente da instituição. Benjamin Teitelbaum, etnógrafo norte-americano, tem classificado esse tipo de manifestação como uma postura típica do tradicionalismo, doutrina que nas últimas décadas cresceu fortemente entre os diversos movimentos de extrema-direita no mundo todo, sobretudo, entre os movimentos xenofóbicos, lgbtfóbicos, fascistas e neofascistas.
Conforme o autor, o tradicionalismo em sua “Guerra pela eternidade” propõe que a humanidade vive um momento de final de um longo ciclo de declínio, onde o conhecimento de uma religião verdadeira e de uma ordem social hierárquica e classificatória foi perdida. Nesse sentido, é necessária uma ruptura com esse processo para que a antiga ordem seja restaurada. Daí vem o apego a uma visão ancorada em um passado de tradições inventadas (para usarmos o termo cunhado pelo historiador Eric Hobsbawm).
No que diz respeito à UFSM, as posturas tradicionalistas se utilizam do argumento de que ao longo dos últimos anos, principalmente nos anos de democratização do acesso e dos espaços de poder, a universidade foi perdendo qualidade. Foi deixando de ser o que era em um suposto período áureo. Foi se deteriorando à medida em que foi abandonando uma postura avessa as ideologias, sobretudo, avessa as ideologias de esquerda (o que, por si só, já posiciona o argumento dentro de um campo político). Em síntese, para a extrema-direita, a universidade foi abandonando uma tradição por ela inventada através de seu revival do período da Ditadura Civil-Militar.
Tal argumento não se sustenta ao mínimo olhar sobre o presente e, sobretudo, sobre o passado da instituição. É inegável, e os dados estão aí para confirmar, que a UFSM de hoje tem um maior reconhecimento de sua qualidade, tanto no âmbito nacional, como no âmbito internacional do que a UFSM da década de 1970.
Contribuíram para isso tanto fatores externos, como a redefinição das políticas públicas de educação superior a partir da Constituição de 1988 e a expansão das Graduações e das Pós-Graduação nas últimas décadas; como fatores internos, como a afirmação de uma autonomia universitária que criou condições para políticas institucionais que vão para além das mudanças de governos.
Mas os dados parecem pouco importar para quem enxerga ideologia no outro, porém esconde a sua capturando apenas partes do passado. Nesse exercício quase ficcional, ficam escondidos fatos como a perseguição ao pensamento livre, a elitização do acesso a determinados cursos com a chamada “Lei do Boi” ou “cota latifúndio” estabelecida em 1968, os desfiles obrigatórios no dia do golpe civil-militar como demonstração de adesão (forçada) da instituição à ideologia do governo ditatorial, as licenças concedidas para que “professores” pudessem participar de cursos técnicos de formação em censura, bem como o nepotismo e as relações de clientela que marcavam o empreguismo em um tempo onde o mérito do concurso público inexistia.
Seria esse o tal retorno ao passado que aqueles que tanto atacam e sentem vergonha da UFSM desejam? Ao que parece, sim! Afinal, os ataques são sempre direcionados à estabilidade dos servidores públicos, à isonomia, à democracia, à transparência, à pluralidade de pensamentos, à multietnicidade e até mesmo à própria ciência. Atacam os valores humanistas para esconder suas vontades de poder e seus obscurantismos. Maquiam o passado e desvirtuam o presente para esconder seus desejos políticos de aparelhar o futuro.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Observação do Editor: A imagem que ilustra este artigo, do campus-sede da UFSM, é uma reprodução obtida na internet.
Kuakuakuakuakua! O MILA da UFSM fechou as portas. Por quê? Total Irrelevancia. Substituido pelo quê? Graduação em Relações Internacionais. Forma desempregados, Kuakuakuakuakua!
Textos? Quem manja de história (tem a visão pouco mais ampla do que 300 Km da porta de casa) sabe que na Mesopotamia escreviam muitos textos,, uns risquinhos em tabletes de argila, a tal escrita cuneiforme. Civilizações extintas.
UFSM foi cria do Dr. Mariano e equipe. Tentaram trazer o mundo para o interior do RS, como Assis Brasil na agricultura. Hoje é a Universidade Federal do Fundo da Grota. Autossuficiente e chauvinista em muitos Centros. É só esperar. Têm o mesmo futuro do pessoal dos risquinhos nos tabletes de argila.