Práxica-poiética – por Demétrio Cherobini
Entrego-me a ti como o córrego ao rio,
como o rio ao mar,
necessariamente,
como se fosse um destino certo,
inexorável, natural.
Não natural de uma naturalidade fria,
cega, deserta…
Natural de uma segunda natureza conquistada,
feita humanamente com o tempo, com o gesto,
com o verbo.
Antes, nada em mim havia
que não os sons e os movimentos
do meu ser em si.
Nenhum sentido havia,
nenhuma relação com a beleza,
com a virtude…
Nem livre eu era
porque nem mesmo era.
Então, chegaste…
Chamaste de apelos os meus apelos,
De dores as minhas dores…
E eu fui me tornando para ti
Aquilo que logo seria para mim
Mas que só o descobriria mais tarde
Quando me olhasse demoradamente
No reflexo concreto
Dos teus olhos desejantes…
Permaneces em mim impregnada.
E eu permaneço em ti
mesmo quando me afasto.
Mesmo quando de ti sou apartado
e sinto uma angústia imensa
– imensa como o tempo e os dias,
imensa como o céu noturno -,
mesmo assim,
em ti eu me conservo,
me desfaço,
e me elevo.
A poesia
Práxica-poiética, de Demétrio Cherobini, de Santa Maria, conquistou a 2ª Menção Honrosa na categoria Poesia no 29º Concurso Literário Felippe de Oliveira, em 2006. A publicação foi autorizada pela Secretaria Municipal de Cultura de Santa Maria. Crédito da imagem que abre a página: Pixaline / Pixabay.
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