O Brasil no cercadinho – por Leonardo da Rocha Botega
“O que o governo brasileiro tem a falar para o mundo”, no encontro do G20?
Desde a fundação da Organização das Nações Unidas, em 1945, o Brasil sempre teve uma presença significativa no cenário internacional. Em 1947, coube ao diplomata brasileiro Oswaldo Aranha presidir a Primeira Assembleia Geral Especial das Nações Unidas.
Durante os anos 1960, o país desempenhou um papel importante tanto na Conferência sobre o Desarmamento (1962), como na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (1964).
Nos anos 1980, em meio ao processo de Redemocratização e o emergir da Globalização, o Brasil deixou de lado velhas (e falsas) rivalidades e fez um movimento de aproximação com os países vizinhos do Cone-Sul que resultou na criação, em 1991, do Mercosul.
Da mesma forma, ao longo dos anos 1990 e dos primeiros quinze anos do século XXI, o Brasil aprimorou ainda mais a sua presença perante o mundo. Mesmo com sua utópica visão sobre a inevitabilidade do modelo global neoliberal, o governo Fernando Henrique Cardoso conseguiu apontar elementos significativos para o interesse nacional, como a quebra de patentes de medicamentos, a chamada questão dos genéricos.
Já os governos Lula e Dilma trouxeram de forma vigorosa a questão das desigualdades sociais e dos desiguais poderes de decisão no âmbito internacional. A potencialização do Grupo dos 20 (G-20) foi fruto dessas duas questões.
A reunião da Cúpula do G-20, realizada em Washington (EUA), em novembro de 2008, foi a primeira onde não se reuniram apenas os ministros das finanças, mas sim, os chefes de Estados ou de governo dos países membros. Essa foi uma mudança significativa não apenas no âmbito daquele fórum, como também no próprio cenário decisório mundial. Desde então, o G-20 passou a ser o principal fórum de discussão das questões relacionadas a governança mundial suplantando o todo poderoso G-8.
A potencialização do G-20 foi um grande avanço na democratização das relações internacionais e o Brasil teve papel fundamental para que isso ocorresse. Não à toa, a agenda dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, nas reuniões do G-20 (e não apenas nesses), eram recheadas de encontros bilaterais com os principais líderes mundiais. O mundo queria ouvir o Brasil. Uma postura muito diferente daquela que assistimos no último final de semana.
A última reunião de Cúpula do G-20, realizada nos dias 30 e 31 de outubro, em Roma (ITA), deixou evidente a forma como o governo brasileiro é visto pelo mundo. De presença fundamental nos debates, a representação brasileira passou a ser vista como pária internacional. Nenhuma agenda bilateral! Nenhuma proposição! Apenas bravatas e mais bravatas! Quando o presidente brasileiro conseguiu romper o constrangedor isolamento nos espaços informais foi para defender a destruição da Petrobrás diante de um perplexo presidente turco, para tentar desqualificar o Relatório da CPI da Covid-19 perante Tedros Adhanom Ghebreyesus, secretário da OMS e uma das tantas vítimas das milícias digitais bolsonaristas, e para pisar no calo da presidenta da Alemanha, Angela Merkel, de quem ouviu um “tinha que ser você”.
As principais pautas do encontro, a recuperação da economia mundial, a contenção da pandemia e as mudanças climáticas passaram longe do governo brasileiro. Mas não seria diferente. O que o governo brasileiro tem a falar para o mundo? Que acabou com o Bolsa Família? Um programa reconhecido mundialmente como uma das mais eficazes ações de transferência de renda e minimização da pobreza. Que temos 19 milhões de brasileiros e brasileiras passando fome? Que entre os países do G-20, o real é a moeda que mais tem perdido valor em relação ao dólar nesse segundo semestre de 2021? Que temos 2,7% da população mundial e representamos 12% dos óbitos mundiais por Covid-19? Que ao longo da temporada 2020/2021 o desmatamento na Amazônia foi o maior dos últimos dez anos?
Quem quer ficar perto de alguém com esse currículo? Quem respeita um país governado por alguém que considera mais importante fazer uma visita à cidade de seus antepassados (mesmo não querendo ser recebido por muitos, como o prefeito da cidade e as autoridades eclesiásticas que ordenaram o fechamento das Igrejas) do que prestigiar os eventos finais da própria reunião de Cúpula? Quem quer ficar perto de alguém cujo o principal ato foi (mais uma vez) promover a violência contra a imprensa? Quem respeita um governo, que mesmo sendo responsável por um país que possui entre 15% e 20% da biodiversidade do planeta, não participará da Conferência da ONU sobre Mudança Climática, a COP26?
É inegável que hoje, a presença do Brasil no cenário da política internacional não chega nem perto do que foi num passado não tão distante. Nos tornamos um país preso em um cercadinho. Tudo isso, por termos um governo que não tem o que falar para o mundo, além das bravatas que sempre fala para os seus fanáticos. O mundo não tem interesse em bravatas! O mundo é maior que o cercadinho do Palácio do Planalto! O Brasil também!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Nota do Editor. A foto (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é oficial do encontro do G20 mostra os Chefes de Estado presentes à Fontana Di Trevi, em Roma, no domingo, 31. Entre os raros ausentes, o presidente brasileiro. Entre os sites que publicaram a foto está o do jornal eletrônico Metropoles (AQUI)
Kuakuakuakuakuakua! O nível ‘intelectual’ da esquerda tupiniquim não dá azo a temores. Problema que se resolve sozinho. Basta cruzar os braços.