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Caro 2021! – por Marta Tocchetto

A articulista “conversa” com este ano. E trata de fazer um pedido

Apesar de teres sido, 2021, o ano da esperança na saúde, foste um desastre no aspecto social e ambiental. Sei também que não agiste sozinho.

Escrevo-te estas linhas com a intenção de que avises 2022 que ele precisa e, espero, que seja melhor do que foste. Confesso que 2020 iniciou a nova década arrasando tudo. Trouxe consigo a companhia do SARS-CoV-2. Se meu pai tivesse visto, diria: me diz com quem andas e direi quem és!

Eu também acredito que quem é do bem não anda com quem é do mal. O resultado da má companhia foi que 2020 foi o ano do isolamento, da dor. Não dá para esquecer o saldo de mais de 600 mil mortos no Brasil. Dá uma tristeza, um aperto no coração e, também muita revolta.

Foram famílias destruídas, amores afastados. Reconheço que a culpa não foi de vocês, 2020 e 2021. Vocês contaram com a ajuda de um presidente que traçou como estratégia se aliar ao vírus. Apostou na imunidade de rebanho, em medicações comprovadamente sem eficiência, negou e nega a ciência, dificultou e ainda dificulta a aquisição de vacinas e a vacinação.

Um presidente que trata o povo brasileiro como gado. Gado também merece respeito! Todos os seres, indistintamente, merecem respeito e direito a viver neste grande equilíbrio planetário que é a Terra. A tua salvação 2021, foi a ciência e os cientistas que trouxeram alento e esperança aos brasileiros.

A vacinação foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Escolheste melhor companhia que teu antecessor. A situação está melhor, mas te confesso que ainda não dá para sair beijando na boca por aí. 2021, nos devolveste a esperança dos pequenos encontros – família e amigos muito próximos que cuidam as interações.

Infelizmente, ainda há pessoas adoecendo e morrendo. A luta e os cuidados com esta pandemia, que é reflexo da ação do homem sobre o meio ambiente, exigem vigilância e cuidados permanentes, sobretudo máscaras corretas. Não dá para baixar a guarda!

Confesso que nos devolveste a esperança, mas tranquilidade mesmo ainda não é possível. A previsão dos cientistas são novas pandemias, sobretudo porque as medidas para controlar as mudanças climáticas estão deixando a desejar.

Eu levei e levo a sério o isolamento e os ditos da ciência. Estou com muita dificuldade para voltar ao novo ou ao velho normal. Acredito inclusive que normal de verdade nunca mais! Estou tentando! Cortei e pintei meu cabelo. Deves ter percebido, cores são muito importantes na minha vida. As cores me identificam, azul, roxo, rosa, vermelho. 2021, estou muito feliz!

Nem sabes, finalmente, depois de dois anos festejamos o Natal em família. Consegui reunir os filhos Felipe, André e Guilherme, a filha Graciela, a neta Giovana, a nora Karla e a Leonir. A emoção foi tão grande que até parece que foi o primeiro Natal que passamos juntos.

Os anteriores ficaram pequenos diante do significado desse. Sem exagero te confesso, foi o Natal da esperança. A virada para 2022 não vamos passar juntos, mas já foi de bom tamanho. Meu coração está oxigenado e alimentado de amor.

Esperei tanto por este momento. 2020, 2021, vocês me causaram uma saudade de doer. Dói muito ficar longe de quem se ama. Vou contar a vocês um detalhe dos nossos Natais. Faz alguns anos que abolimos a troca de presentes. Nem amigo secreto fazemos. Nosso presente é estarmos juntos. O consumismo se apropriou e desvirtuou o verdadeiro sentido que é o nascimento de Jesus, o amor entre as pessoas, a fraternidade, a gratidão.

Sabe o que eu propus dessa vez? Fizemos sacolas com produtos para uma pequena ceia e doamos para pessoas que colaboram todos os dias do ano, às vezes de forma anônima e invisível, para o nosso bem-estar – os recolhedores de resíduos da coleta pública e os dos recicláveis, além de outros poucos.

Uma homenagem muito singela, pequena, mas simbólica – gratidão a quem trabalha em prol da coletividade, do meio ambiente, da saúde. Nossa humilde sacola, eu disse para minha neta, representa gratidão pela mesa farta todos os dias, pela casa que nos abriga.

Compartir é a nossa forma de festejar e de agradecimento à saúde, ao alimento, à água, ao amor, à liberdade, a tudo que nos dá dignidade e que deveria ser direito de todos e todas, não de poucos.

Apesar de teres sido, 2021, o ano da esperança na saúde, foste um desastre no aspecto social – a fome está em todos os cantos. Para onde se dirige o olhar há fome. Há miséria. Há desemprego. De novo, a culpa não é só tua. O Brasil das políticas desiguais e desumanas recrudesceu.

2021, tu também foste cruel com o meio ambiente. Tenho consciência que, mais uma vez, não agiste sozinho. A política ecocida que conscientemente desmata, envenena, legitima e estimula práticas destrutivas contribuíram e contribuem, grandemente, para que eu tenha medo e vergonha do futuro que estou deixando para minha neta.

Eu que me empenhei tanto nesse ano. Acredito nas pequenas ações, apesar de me sentir um beija-flor tentando apagar o incêndio na floresta. É preciso mais! É preciso mais gente engajada. Mais políticas e políticos que promovam justiça social e climática, que não tenham o DNA do extermínio e da maldade.

Aproveito, 2021, para te pedir para sair de fininho, deixar 2022 entrar. Diz a ele na cruzada que traga luz para iluminar as trevas, que nos aumente a esperança em tempos melhores. Tempos de reencontro, de bondade, de amor, de justiça, de igualdade, de solidariedade, de dignidade e muito mais. Fala para ele, que a esperança comece pela permanência da irmã Lourdes Dill – #ficairmalourdes.

Te peço nesse finalzinho, dá força a Santa Maria para que o grito a uma só voz: Fica Irmã Lourdes, seja ouvido pelos que têm olhos de não ver e ouvidos de não ouvir!! 2022, meu desejo é que venhas revestido de “esperança e cooesperança” e que o Brasil não seja mais o país do cercadinho, mas o país da paz, da bondade e da felicidade para todos e para todas.     

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feira

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Um Comentário

  1. Não, nem todos os seres merecem respito. Obvio. Beija-flor tenta apagar fogo na floresta com agua no bico, não com a pena no papel ‘Mutley, faça alguma coisa’! Saida da freira iria acontecer mais cedo ou mais tarde, vai para uma cidade que regula com Cachoeira do Sul. Apesar de ser assunto irrelevante, que vá pela sombra! Alás, aparentemente um passo importante para a despartidarização da reitoria da UFSM foi dado. Pelo menos um grau maior de sutileza é esperado. No mais, vermelhinhos são egocentricos. Tem ancora de programa de debate cuja palavra favorita é ‘eu’. Alás, tem ancora que abre programa de debate com o bordão ‘não estou aqui sozinho’ (dãããããã!). Alás, debate para ingles ver, conversa de buteco. Para isto serve o controle remoto e o dial.

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