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Cenário da guerra comercial entre Estados Unidos e China está mudando – por José Renato Ferraz da Silveira e Pietra Lemberck

“Agora a batalha decisiva é pelo domínio das cadeias globais de suprimentos”

O cenário da guerra comercial entre Estados Unidos e China está mudando. Agora a batalha decisiva é pelo domínio das cadeias globais de suprimentos. Além disso, surgem práticas restritivas de compartilhamento de informações e tecnologias, que podem afetar diversos setores industriais. A China limitou a exportação de minerais essenciais à indústria; por sua vez, os Estados Unidos suspenderam uma parte das vendas de componentes e softwares usados em motores a jato e semicondutores para o país asiático.

Tais decisões ocorreram na última semana, e ambos os países se acusaram de má-fé nas negociações. Com isso, além da tensão do conflito das tarifas impostas pelos dois lados, agora o choque da vez, a chamada guerra das cadeias de suprimentos, preocupa empresas que dependem de certos componentes para manter uma linha de produção ativa.

Autoridades americanas estão perplexas com possíveis pontos de vulnerabilidade, como o setor farmacêutico e o de transporte marítimo, cujas cadeias também são altamente expostas à dependência internacional.

Diante dessas medidas, o impacto nas indústrias tem sido significativo. A Ford, por exemplo, fechou temporariamente uma fábrica em Chicago em virtude da falta de ímãs necessários para a produção de seus veículos. Outras montadoras, como a japonesa Suzuki, enfrentaram problemas semelhantes.

Os Estados Unidos cogitam colocar empresas como Alibaba, Tencent, Baidu e fabricantes de chips chineses em uma lista de proibição comercial, além de propor a revogação de vistos para estudantes chineses. Essas ações são justificadas por Washington como necessárias à proteção da segurança nacional e ao combate ao uso indevido de tecnologias estratégicas. Por sua vez, a China introduziu um novo sistema capaz de monitorar e autorizar as vendas de “terras raras” e outros produtos derivados dos Estados Unidos. Desde que houve o aumento norte-americano de tarifas, Pequim contra-atacou com a redução da exportação de seus minerais críticos, incluindo elementos como o neodímio e o lantânio, essenciais para a indústria de alta tecnologia e defesa.

Mesmo com estratégias para prejudicar o outro lado, restringindo informações e tecnologia (e, em muitos casos, tentando produzir de maneira própria), Estados Unidos e China ainda continuam fortemente ligados por um grau profundo de interdependência econômica.

Reduzir essa interdependência é uma “missão impossível”, complexa, demorada e cara. Especialistas em comércio internacional afirmam que a substituição de fornecedores chineses por alternativas de outros países envolve custos altos, cadeias de logística novas e, em muitos casos, perda de eficiência.

A Casa Branca afirmou, na última terça-feira (3), que os presidentes de ambos os países deveriam conversar por telefone nesta semana para buscar um acordo sobre as negociações comerciais.

Conversa telefônica entre Trump e Xi Jinping

Nesta quinta-feira, 5 de junho, os presidentes Donald Trump e Xi Jinping de fato realizaram uma ligação de 90 minutos. Trump descreveu a conversa como “muito positiva”, destacando avanços em discussões sobre exportações de minerais críticos. Ambos os líderes concordaram em retomar as negociações presenciais em breve, com delegações lideradas pelo vice-premiê He Lifeng, do lado chinês, e pelo secretário do Tesouro Scott Bessent, nos Estados Unidos.

No entanto, o comunicado oficial de Pequim adotou um tom mais cauteloso, reforçando que os Estados Unidos devem remover “medidas comerciais negativas” e tratar com sensibilidade temas como Taiwan. Além disso, Trump sinalizou que há disposição para manter a vinda de estudantes chineses, desde que passem por checagens de segurança mais rigorosas. A ligação ocorreu às vésperas da visita do chanceler alemão Friedrich Merz aos Estados Unidos, com o objetivo de discutir a elevação de tarifas sobre produtos europeus.

A nova fase da guerra comercial entre Estados Unidos e China revela um cenário internacional cada vez mais marcado por disputas geoeconômicas profundas. Mais do que tarifas, trata-se agora de segurança tecnológica, acesso a insumos estratégicos e domínio da infraestrutura produtiva global.

(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Colunista do Diário de Santa Maria. Participou por cinco anos do Programa Sala de Debate, da rádio CDN, do Diário de Santa Maria. Contribuições ao jornal O Globo, Sputnik Brasil, Rádio Aparecida, Jornal da Cidade, RTP Portugal. Editor chefe da Revista InterAção – Revista de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) (ISSN 2357- 7975) Qualis A-2. Editor Associado da Scientific Journal Index. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)

Pietra Lemberck é estudante de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Maria, membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP) e assistente editorial da revista InterAção.

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