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O namorado de Carminha, uma história em Oeste – por Marcelo Arigony

Não parecia ser possível, mas Carminha estava de namorado novo. Os boatos davam conta de que era moço de família, trinta e poucos anos, espada larga, elegante ao vestir e andar. E com emprego em multinacional! Diziam inclusive que era trilíngue, vejam só! Era o assunto em todas as rodas de conversa da pequena e longínqua cidade de Oeste. Parece que tinham se conhecido pelo feicebuqui e, depois de muita conversa e troca de fotografia, acabaram virtualmente apaixonados.

A cidade estava alvoroçada. Ninguém ainda tinha visto o moçoilo, pois era da distante capital, e só vinha a cada trinta dias… sempre muito ocupado. Ficava pouco tempo em Oeste, e logo tinha que retornar. Todos achavam isso promissor, certo ser homem de importância. Mas ninguém entendia como… logo a Carminha, tão comum, nada em sex appeal. Enfim, a inveja comia solta.

Bem, parece que só o cabeleireiro da Carminha tinha visto o tal moço. O hairdresser era único testigo de um beijo lascivo e apaixonado, de levantar a perninha, ao apear de um bólido vermelho, placa de metrópole. Que luxo! E os dias foram passando; e a boataria aumentando.

Agora, segundo Carminha confidenciara ao cabeleireiro, tinham ficado noivos, engaged total. As mulheres – e alguns homens – estavam surtando. Os psicanalistas, reikes, advogados e terapeutas de casal faturando às pencas… fruto do amor de Carminha. O causo, não bastasse tumultuar a vida das solteiras, agora estava arruinando namoros, noivados e casamentos.

A curiosidade causava furor nas casadas, que dormiam com seus maridos mas sonhavam torridamente com o noivo da Carminha. A vida doméstica perdera a graça; ahh o noivo da Carminha… Histeria total. O pároco local teve que pedir reforço; um sacerdote sozinho já não dava conta de tanta gente na confissão: pecados da carne.

Agora já começava a sobrar moço solteiro. As mulheres só queriam o noivo de Carminha. Todas se imaginavam num cavalo branco, com o galante da Carminha.

E os dias foram passando, até que um dia surgiu a notícia aterradora: Carminha tinha rompido o noivado! Como assim?! Isso mesmo. O cabeleireiro narrou o triste assucedido. Sim, Carminha tinha terminado com o noivo. Como? Não podia ser verdade! Ninguém terminaria com homem de tal quilate. Isso não seria possível. Ainda mais Carminha, que não tinha grandes atrativos. Mas era verdade, Carminha tinha terminado com o rapaz, que agora revelou-se, nome Alffredo, com dois efes. Então, Carminha terminou com o rapaz porque ele queria casar e ter cinco filhos. Carminha aturaria tudo, até que ele dormisse de meias e jogasse futebol nas quartas-feiras, mas cinco filhos não. E assim o tal Alffredo sumiu sem nunca ter aparecido. E muito ainda se fala dele em Oeste.

E a Carminha?

Passou a ser a moça mais paparicada da cidade. Acabou casando com o pároco, que pediu licença, largou a batina e hoje vive feliz, pai de quatro filhos ao lado de Carminha. Era uma vez em Oeste.

*Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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3 Comentários

  1. Muito bom. Fiquei imaginando o que a Carminha ia fazer e ela casa com o pároco e tem 4 filhos? Um a menos do que o Alffredo queria. Hahaha. Será que ela já não estava de causo pensado, Dr.? Muito bom.

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