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Tele crime, o crime da (pós) modernidade – por Marcelo Arigony

Reinvenção: e chegam os crimes praticados por meio de engenharia social

No Google, tele é um radical grego que se relaciona à ideia de longe, à distancia.

Em Direito Penal técnico, o crime à distância é aquele em que conduta e resultado ocorrem em países distintos. O delito tem início no Brasil e termina fora do território nacional, ou vice-versa. Mas o ponto aqui é tratar de crime à distância num sentido profano à técnica jurídica. 

A revolução técnico-científica vivida nas últimas décadas redefiniu praticamente todos os padrões da vida de relação. Tudo vem se reinventando e se adaptando. O que não consegue se reinventar jaz obsoleto. E esse fenômeno ocorre também com o crime e o criminoso.

O dinheiro vai sumir. Já há muito tempo utilizamos os cartões de crédito e transferências bancárias. Há um pouco menos aprendemos a utilizar o pix e estamos engatinhando com as criptomoedas. O dinheiro de papel será peça de museu em breve, enterrando com ele o assalto ao banco, à padaria e ao mercadinho da esquina. Quem ainda se lembra do glamourizado assalto ao trem pagador?

O mundo mudou muito. E o crime também mudou. A criminalidade se reinventa a cada dia. Grande parcela das ocorrências policiais de hoje são tele crimes – crimes praticados de longe, à distância. E os tele crimes em regra são praticados por meio de engenharia social.

A engenharia social é uma técnica usada por criminosos para induzir usuários desavisados a enviar dados confidenciais, infectar seus computadores com malwares ou abrir links para sites maliciosos. 

A engenharia social é o principal instrumento para a prática dos tele crimes. Mas a maioria deles não é praticada com invasão de dispositivos eletrônicos. Na maior parte são simples estelionatos à distância. São mensagens pelo whatsapp, instagram, facebook… ou até por ligação telefônica. O criminoso utiliza algum artifício para ludibriar a vítima, fazendo com que ela transfira valores monetários, revele senhas, clique em links, etc.

É o crime no mundo moderno. Muito mais fácil do que se aventurar no assalto à padaria. Agora de qualquer lugar do planeta, escondido sob o manto da web, ou mesmo por trás de um simples aparelho celular, o meliante dispara suas iscas. Os golpes são os mais variados, mas a engenharia social é a principal ferramenta. 

Fica aqui o alerta. Não forneça dados pessoais, não clique em links, não transfira valores, não acredite em NADA que venha por ligação telefônica, por mensagens em redes sociais ou e-mails. Não acredite em NADA antes de ter CERTEZA de que a pessoa do outro lado é realmente quem diz ser.

……..

Zygmunt Bauman, um dos maiores pensadores do último século, analisando a contemporaneidade, que chama de modernidade líquida, diz que a mudança é a única coisa permanente, e a incerteza a única certeza. Bauman diz que vivemos a crise de um novo tempo, em que o velho já se foi, mas o novo não tem forma ainda. Ou seja: o novo demanda novas soluções, que não conhecemos ainda. Precisamos nos adaptar e aprender a conviver com as novas formas de se relacionar na (pós) modernidade.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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Um Comentário

  1. Heráclito, há 2500 anos, afirmou que ‘a única constante é a mudança’. Dentre outras coisas. Bauman chupinhou algumas coisas (algumas?) de gente muito antiga. Soa como novidade porque o pessoal não lê mais os antigos. Alás, era só mais um destes autores da moda. Steven Pinker, psicologo, escreveu ‘Os anjos bons da nossa natureza’. Falou de história e ‘levou pau’ dos historiadores. Usou estatistica e ‘levou pau’ dos estatisticos (com direito a artigo publicado em periodico cientifico). Simplificando tentou afirmar que o futuro da humanidade é a paz e ‘está cientificamente comprovado’. Escreveu ‘O novo iluminismo’ e ‘levou pau’ dos filosofos. Kant, por exemplo, queridinho dos causidicos, é muito criticado no meio por ter separado a razão da realidade. Alás, no Brasil não faltam palestrantes que ficam vomitando citações de livros e os tabacudos acham geniais porque não leram os originais. Obviamente existem exceções, há os que falam ‘convidando a raciocinar’, menos populares. Por fim, afirmar que não vão mais existir assaltos a padarias e mercadinhos é subestimar a criatividade dos vagabundos.

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