A liberdade de expressar nossos ideais – por Michael Almeida Di Giacomo
A censura jurídica à livre manifestação durante um festival de música em SP
A livre manifestação política deve ser vista como pedra angular de qualquer sociedade que se preze democrática. Contudo, não é o que estamos vivendo no atual momento político em nosso país. O respeito ao contraditório, por parte dos líderes que governam nossa nação, é substantivo raso na cartilha bolsonarista.
A livre manifestação política, cláusula pétrea a cada cidadão e cidadã, se divergente do pensamento do mandatário maior da nação, corre o risco de sofrer coação por parte do aparato estatal.
Infelizmente é uma realidade que estamos a enfrentar. Foi o que ocorreu no Lollapalooza, um festival de música alternativa que acontece a cada ano e reúne milhares de pessoas, na cidade de São Paulo.
Em decisão monocrática, o ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Raul Araújo, atendendo um pedido do Partido Liberal, que ora abriga Bolsonaro, proibiu – e estabeleceu uma multa de cinquenta mil reais – ao que entendeu ser “ato de propaganda eleitoral”, motivado pela apresentação de Pabllo Vittar, quando a artista exibiu uma bandeira com o rosto do ex-presidente Lula.
É como se você fosse proibido pelo estado de colocar uma bandeira com a logomarca de um partido ou do seu líder político preferido na sacada do seu apartamento ou na janela da sua casa.
A decisão, singular, além de não ter tido efeito concreto, ainda na segunda-feira teve seu arquivamento requerido pelo Partido Liberal – provavelmente por perda de objeto. No entanto, cabe registrar, somada a tantas outras ações similares, serve como um alerta: é a partir desse tipo de coação que nasce o germe do totalitarismo, que nascem as sociedades distópicas.
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Celso de Mello, em manifestação contrária ao pensamento de Araújo, afirmou “ser muito grave a decisão do TSE, pois interdita o dissenso, veda o debate e impede a circulação de ideias”. E, ainda, que “o poder totalitário do Estado é sempre um poder cruel e cínico”.
Em regimes iliberais, a classe artística, os acadêmicos e os intelectuais, costumeiramente acabam por serem afetados de forma mais direta, pois por meio da sua arte, da escrita, e expressão de seus pensamentos, acabam por ter um maior alcance em meio à sociedade.
Por esse motivo, o governante despótico, por meio da supressão da nossa liberdade, busca fazer com que a sociedade não enxergue a si própria, “encerrada dentro dos limites de regras simplistas”.
É exatamente o que escreveu Dan Frank, na obra “Paris Boêmia: os aventureiros da arte moderna”, e complementa com a afirmação de que “os regimes totalitários, uma vez instalados, censuram, proíbem ou queimam. É assim que eles perfuram o olhar do pensamento, do sonho, da memória e da expressão das diferenças”.
O que desejam aqueles que não cansam de tentar cercear nossas liberdades? A resposta pode ser encontrada no escrito do estadunidense Mark Twain, (1835-1910):
“É pela bondade de Deus que em nosso país temos aquelas três coisas indescritivelmente preciosas: liberdade de expressão, liberdade de consciência e a prudência de nunca praticar nenhuma delas”.
(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do Editor: a foto que ilustra este artigo, do Lollapalooza, é de Weslley Allen, distribuída pela Agência Brasil.
Para começo de conversa existe uma grande hipocrisia na legislação eleitoral. Se não acontecer pedido de voto praticamente tudo vale, não é propaganda antecipada. Segundo lugar, basta perguntar a um bom advogado, remedio para decisão judicial é recurso. Terceiro não tem nada a ver com a colocação de alguma propaganda na sacada ou na janela. Os ‘artistas’ (os ‘genios da raça’) não estavam em casa. Estavam num festival que é promovido por terceiros. Sendo que a legislação proibe showmicios. Além do que, livre manifestação não exime ninguem de cumprir a legislação. Vide injuria. Na Alemanha, pais ‘notadamente totalitario’, xingar alguém resulta numa multa que pode chegar a 4 mil euros. Sem quatro instancias e bem rapidinho. Celso de Mello é ex, logo que vá se lascar. Resumo da ópera: uma baita bobagem, semana que vem ninguém mais lembra. Alguns vão tentar lembrar porque acham lhe ser vantajoso, mas a maioria não dará a minima porque tem coisa melhor com que se preocupar.