Feiura – por Marcelo Arigony
“A beleza vai ganhando outros contornos, com o passar do tempo”
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Com meio século de vida, a (minha) feiura me diverte. Dia desses ouvia meu amigo Claudemir e Thays Ceretta na Rádio CDN. Falavam em uso de máscara, fim da pandemia e assuntos circunstanciais. Não me contive e mandei um chasque pelo “uatizape”: – Thays, diga ao Claudemir para seguir usando máscara. Para além do cuidado com a saúde própria e alheia, diga que ele e eu fomos muito favorecidos na pandemia. O uso de máscara, para quem, como nós, já usavam chapéu e boné, tornou o mundo à nossa volta bem mais aprazível. Melhor só se tivéssemos olhos verdes, mas nem tudo é perfeito.
Tirante a carinhosa brincadeira, com o tempo a gente vai ficando esteticamente mais feio mesmo. Uns mais, outros menos. A pele não tem o mesmo viço, as olheiras aparecem mais, o cabelo vai rareando, a postura também não ajuda. E nem se fale nos ossos e cartilagens que seguem crescendo. Vamos ficando cadeirudos, virados em cabeça, orelha e nariz… a minha cabeça parece um banco de lambreta. Mas o ruim era ser feio aos 15, aos 20 anos. Da mesma forma a calvície. Careca aos 28 é ruim; aos 50 ou 60 é puro estilo. Certo que é dos carecas que elas gostam mais. O adágio é forte. Que fetiche!
Mas enfim, minha feiúra diverte porque conquistei outras coisas. A maturidade me mostrou que há outras formas de beleza, muito mais interessantes. Inclusive acho que as mulheres são muito melhores do que os homens nessa percepção – senão minha esposa nunca teria casado comigo. Feio para mim é tratar os outros com desdém, ser arrogante, roubar sem poder carregar. Feio é trair os amigos. Feio é não ter um olhar social, que coloque nosso eu em marcha para a comunidade onde vivemos. Feio é jogar lixo na rua e tratar mal os animais.
É o ciclo da vida, só a flor de plástico segue ali, perfeita e intacta. De resto, sentimos o peso da idade. Enfim, para mim a beleza vai ganhando outros contornos, com o passar do tempo. E vai cedendo lugar para nossas realizações, para nosso legado, para o que somos por dentro. E fecho à moda Leopoldo Rassier, que veteranamente nos estimula, com a autoconfiança que brota do que passou.
“…Se a força falta no braço/ Na coragem me sustento
Remôo as coisas que penso / Repasso o que tenho feito / Para ver o que mereço
Quando chegar meu inverno / Que me vem branqueando o cerro / Vai me encontrar venta-aberta / De coração estreleiro.”
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Não sou publico alvo do Diario Vermelho, da radio Comunismo Dia e Noite, ambos controlados pelo Grupo dos Onze. Thays pelo que lembro é muito bem-apessoada. Claudemir com P. teve um problema na infancia, o berço pegou fogo e apagaram na paulada. Quando se quer saber alguma coisa não custa perguntar, amostra é pequena, mas uma criatura do sexo feminino falou-me uma vez que ‘homem feio paga as contas igual e é mais facil de controlar, até porque a concorrencia é menor’. Obvio, o que as pessoas chamam de ‘amor’ é so um excesso de ocitocina no cerebro. Não dura para sempre, obvio, é ai que reside o problema. Lição de moral dispensavel. Alás, os tempos são de uma chatice total, toda hora alguém repetindo que o céu é azul e o inferno cheio de vermelhos guampudos. Parece que têm crise de identidade.