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Sonho de repórter: saber o que rola entre as paredes do Kremlin de Moscou – por Carlos Wagner

Seguir a rota do dinheiro, o meio talvez mais fácil para ‘decifrar governo Putin’

Afinal de contas, quem é quem dentro do governo do Presidente da Rússia Vladimir Putin? (Foto Reprodução)

Certa vez, no início da década de 1990, eu e um bando de repórteres de vários cantos do Brasil e alguns estrangeiros estávamos envolvidos na cobertura de um conflito agrário no interior de Bagé, cidade do Rio Grande do Sul que faz fronteira com o Uruguai.

A dificuldade para se ter acesso a informações era enorme porque não havia telefone, a chuva tinha transformado as estradas em atoleiros imensos, o local do confronto estava cercado pela Brigada Militar (BM), que impedia a nossa entrada, e a má vontade das autoridades locais e estaduais para com a imprensa era total.

Cata uma informação aqui, outra ali, no final do dia se conseguia fechar uma matéria. E à noite todos nós acabávamos jantando no mesmo restaurante. E foi num desses jantares, depois de termos empilhado muitas garrafas vazias, que ouvi uma frase de um colega que jamais esqueci. Ele disse: “A cobertura está um voo cego, não sabemos o que está acontecendo lá no meio da confusão”.

Lembrei dessa conversa lendo, ouvido e vendo o que temos publicado sobre a guerra da Rússia contra a Ucrânia. Vladimir Putin, presidente da Rússia, cometeu um crime mandando invadir a Ucrânia. Quem são os seus cúmplices nesse crime? Para saber, precisamos entender como é o dia a dia do presidente russo. É sobre isso que vamos conversar.

Na aviação, voo cego é uma expressão usada pelos pilotos para dizer que não estão enxergando o solo devido a problemas climáticos, por exemplo. E que dependem dos instrumentos de bordo para prosseguir voando. A cobertura da guerra da Rússia contra a Ucrânia é um voo cego porque não sabemos o que está acontecendo dentro do Kremlin, a sede do governo russo em Moscou.

Se algum colega sabe o que rolou por lá nos últimos dias, ainda não publicou. Muito do que sabemos sobre como funcionam as coisas no governo Putin vem de informações divulgadas por documentários como The Putin System, que assisti uma semana antes de começar a guerra. Esse e outros documentários disponíveis na internet trazem informações confiáveis sobre a maneira de fazer as coisas de Putin. São importantes. Mas nossa necessidade é por informações sobre o que está acontecendo no atual dia a dia do presidente da Rússia.

A cobertura de uma guerra se dá em quatro frentes: no campo de batalha, no drama dos refugiados, nos equipamentos usados pelos exércitos e no que acontece nas entranhas dos governos dos países envolvidos. Não tem como saber tudo o que acontece dentro dos governos. Mas precisamos saber o essencial para não escrever bobagens.

No que está sendo publicado, lá no meio dos noticiários, temos sugerido que as tropas russas enfrentam problemas de logística, abastecimento de combustível e alimentação para os soldados. Isso mais parece informação “plantada”, o que é do jogo em situações como essa.

Como podemos evitar de pisar nessa casca de banana. Precisamos saber tudo o que pudermos sobre os comandantes do Exército, Marinha e Força Aérea da Rússia. Eles são fiéis a Putin? Obedecem às ordens sem questionar? Seriam capazes de acompanhar o presidente em uma loucura como usar o arsenal nuclear?

Essas informações não estão disponíveis nos noticiários. Mas sabemos quem sabe do assunto: os serviços de informações dos Estados Unidos e dos seus aliados europeus. Claro, não podemos simplesmente bater à porta deles e perguntar. Não é assim que funciona. Mas podemos perguntar para os presidentes desses países, como Joe Biden, dos Estados Unidos, que certamente já foi informado sobre o assunto pela Agência Central de Inteligência, a CIA.

Lembro um episódio. Durante o governo de Donald Trump (republicano) ele andou dizendo uns desaforos e insinuando uma agressão contra a China. Um militar de alta patente das Forças Armadas americanas ligou para os chineses os tranquilizando – há matéria na internet.

Aqui no Brasil, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica já afirmaram em público que as Forças Armadas não se alinharão a uma tentativa de reinstalar o regime militar no país como vem tentando fazer o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).

Lembro os meus colegas que quando o atual presidente assumiu o seu mandato, em 2019, não se sabia ainda como funcionava a sua estrutura de poder. Levamos uns dois anos para entender e, com isso, conseguir separar o que era bravata dos assuntos sérios. O que tem facilitado muito a nossa vida.

Claro que nenhuma empresa de comunicação do Brasil vai investir no envio de um repórter para Moscou para aprender como funciona o governo Putin. Ainda mais com uma guerra em andamento. Seria o mesmo que trocar um pneu com o carro em movimento.

Mas nada nos impede de descascar esse abacaxi. Olhando de longe, o governo Putin parece ser um grande acordo econômico entre ele e os seus homens de confiança. E como todo dirigente autoritário, ele comprou a lealdade de quem o ajuda a governar. Portanto, vai esticar a corda na guerra com a Ucrânia até onde for possível.

Há mais de 200 anos as terras daquele canto do mundo vêm sendo encharcadas com sangue derramado em guerras. Até agora, a população tem sobrevivido a conflitos cruéis, como foram as batalhas da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

Em nenhum momento da história recente daquela região um governante ganhou tanto dinheiro como Putin e seus aliados estão ganhando nos dias atuais. Talvez seja mais fácil do que pensamos decifrar o governo Putin. Pode se resumir a apenas seguir a rota do dinheiro.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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4 Comentários

  1. Golpe militar é mentira, obvio, Cavalão quer dar golpe militar sem apoio dos militares. Como seria isto? Situação atual inutilizou dois livros no todo ou em parte. ‘Sapiens’ é um. ‘Os anjos bons da nossa natureza’ é outro. Outro aspecto que não pode ficar de lado, jornalistas ‘ocidentais’ tem lado. Justamente por isto não são confiaveis. Ontem ou anteontem a atual sub secretaria de Estado ianque, algo como a vice ministra de relações exteriores, falou no Senado. Alertou para os laboratorios de ‘pesquisa biologica “ucranianos”‘, se fossem atacados poderiam liberar algo perigoso e de qualquer maneira seria culpa dos russos. Quem é a criatura? Victoria Nuland. A mesma que declarou ter sido gasto 5 bilhões de dolares na ‘promoção da democracia’ na Ucrania lá por 2013. Que teve uma gravação vazada em 2014 afirmando qual a pessoa que teria mais condições de assumir o poder, algo que aconteceu duas semanas depois. A mesma que ‘distribuiu comida’ para os manifestantes ucranianos em 2014. Resumo da opera é a pergunta de um milhão de dolares, o que levou a decisão de invadir a Ucrania agora?

  2. Segundo dizem tudo é desfavoravel aos Russos, mas continuam conquistando mais territorio e a Ucrania não tem mais aviões. Alás, a narrativa é que Putin é responsavel por tudo e não o Estado Maior russo. General ianque chama-se Gen. Mark Milley e a informação saiu de um livro do jornalista Bob Wood (???), alguém que tenta repetir Watergate desde sempre. Tentaram abrir investigação a respeito do assunto, é caso de alta traição. Sonho de alguns é que no caso de uma guerra nuclear os militares irão desobedecer os politicos. Algo já ultrapassado, ianques gastaram muito tempo e dinheiro no oriente médio. Defasaram tecnologicamente. Russia deu um salto na guerra eletronica. Na Finlandia reativaram telefones com fio nas manobras militares. Tanto China quanto Russia testaram misseis hipersonicos, algo equivalente ao Sputinik.

  3. Obvio que os documentiras sobre Putin só são confiaveis no que é de dominio publico. Não foram feitos por ‘jornalistas desinteressados comprometidos com os fatos’. São militantes. Acompanhei o discurso de Biden Zoinho por um podcast ianque. Seis pessoas assistindo para comentar. Duas com laptop para aquilatar o que era dito. Mentiu no numero de empregos, na carga tributaria, etc. Travou uma ou duas vezes lendo o telepromter. Ou seja, leu e antes de falar a informação se perdeu no meio das orelhas. Falou mal do Trump e foi vaiado por duas deputadas.

  4. Toda cobertura é um voo cego. Imprensa não fica sabendo de 1% do que acontece nos palacetes de BSB. Publicação é uma mistura de ideologia, fofocas, vazamentos selecionados, mentiras e radio corredor. Na Russia, tirando o caos dos anos 90, foi daí para pior. Putin não chegou ao poder sozinho, foi escolhido. Crime é o que uma lei diz que é quando reconhecida por uma corte de justiça competente. Imprensa não faz o proprio serviço direito e vive metendo o bedelho no serviço dos outros. No caso Russo pouco importa se é crime ou não. Tentaram matar um dissidente em Londres utilizando arma quimica. Aos britanicos só restou achar ruim.

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