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Água: o dever público de levar saúde a todos os lugares – por Paulinho Salerno

Fato inconteste: “água é fonte de vida, é esperança, bem estar e saúde”

O saneamento básico no Brasil ainda é uma das questões mais distantes de uma solução definitiva. O Ranking de Saneamento Básico, estabelecido pelo Painel Saneamento Brasil, indica que 15,9% da população brasileira ainda não possui acesso à água e este número é de 9% em relação à população na região Sul do país. Em se tratando do percentual de acesso à rede de esgoto, este número na região em que vivemos é ainda pior, com mais da metade dos sulistas sem o serviço de coleta desse rejeito.

Nosso país enfrenta essa questão não de uma década atrás, mas de praticamente dois séculos atrás, quando a população foi de meros 9 milhões do primeiro censo, 14 milhões no final do século XIX a 212 milhões, nos dias atuais.

O cenário atual indica um fracasso do que fora estabelecido no Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB, com o objetivo de erradicar o não-acesso ao saneamento básico até 2033. Mesmo que em diversas oportunidades ocorra a chamada parceria público-privada, essa questão ainda caminha a passos muito lentos e, considerando os investimentos atuais, chegaremos a 2050 com resquícios e talvez sequelas deste problema.

Essa dificuldade em resolver as questões do saneamento também ocorre no interior. Lugares onde os sistemas de abastecimento não chegam, onde há a necessidade de perfurar poços para extração e também onde a água pode ser escassa pela geografia da região.

Passamos por uma grave estiagem, como relatei em um dos meus textos, há algumas semanas, e os danos não foram apenas para a lavoura, mas também para quem vive da água extraída dos açudes, mas especialmente dos poços de menor profundidade e que ainda abastecem muitas famílias no interior.

Na última semana, a equipe da Prefeitura partiu para Jacuí, a quarenta quilômetros da cidade, sendo a localidade mais distante dentre todas as regiões interioranas de Restinga Sêca. A missão era realizar a entrega para a comunidade de um sistema de filtragem, para combater o excesso de ferro na água e levar água potável a mais de 20 famílias que vivem nos arredores.

O sistema é resultado de uma parceria entre o município e a Universidade de Santa Cruz do Sul, a Unisc, através da equipe coordenada pelo professor Adilson Ben da Costa e que contou com a ajuda do amigo José Deli, um dos moradores e presidente da associação da rede de água, que no dia a dia participou dos experimentos realizados pela equipe, além de ter construído a edificação que abriga o sistema.

Além de entregar para a comunidade este importante avanço, que traz mais qualidade de vida para quem vive no interior, também celebramos a consolidação de uma parceria importante de três hélices do desenvolvimento: a Comunidade, que tinha o problema; o Poder Público, através do Município, que alocou recursos e a Academia, que realizou a pesquisa e desenvolveu o sistema de filtragem, mostrando que a união de esforços nos dias atuais e que a cooperação muda a realidade na vida das pessoas.

Para quem vive na cidade, e conta com acesso à água potável todos os dias, pode passar despercebido, mas o fato de ter acesso a água em condições ideais para o consumo, ainda mais se tratando de um problema tão antigo naquela região, hoje é motivo de sorriso no rosto para a nossa gente. Poder ver a alegria dessas pessoas, através do resultado de muita pesquisa e muito trabalho desenvolvido é o que nos motiva ainda mais, para fazer por tantos outros lugares onde o saneamento ainda é uma questão que precisa avançar. A água é fonte de vida, é esperança, bem estar e saúde. Temos a certeza de que estamos fazendo o melhor por quem acreditou junto com a gente.

(*) Paulinho Salerno é prefeito municipal de Restinga Sêca e presidente da Câmara Temática de Inovação da Famurs. Ele escreve no site às quintas-feiras.

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