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A relação entre Guernica, de Picasso, Mariupol, na Ucrânia, e o futuro do Brasil – por Carlos Wagner

O articulista e as semelhanças das lutas políticas de hoje com as dos anos 30

A semelhança entre o massacre da população de Guernica (1937) e a Guerra da Ucrânia, agora em 2022 (Foto Reprodução)

Não canso de repetir e vou continuar repetindo. A história é o melhor professor à disposição do repórter para se fazer um bom jornalismo. Ela nos alerta sobre fatos trágicos que devemos convidar os leitores a refletir para evitar que se repitam. É sobre isso que vamos conversar.

Começamos com dois episódios acontecidos na guerra entre Rússia e Ucrânia, conflito que já dura dois meses e que é transmitido online 24 horas por dia pelos noticiários dos quatro cantos do mundo. Na segunda-feira (25/04), Sergei Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, advertiu que a ajuda militar em equipamentos e dinheiro que os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), em especial os Estados Unidos, estão despejando na Ucrânia “torna real o perigo de uma Terceira Guerra Mundial”.

Na terça-feira (26/04), Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, lembrou que a data marcava os 85 anos do bombardeio, pela força aérea da Alemanha nazista, da cidade de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (1936 a 1939).

Um acordo feito entre o então chanceler da Alemanha, Adolf Hitler, e o general Francisco Franco, líder dos nacionalistas espanhóis, tornou a Guerra Civil um campo de testes de novos armamentos e técnicas de combates dos nazistas que posteriormente foram usados na Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).

O ataque foi eternizado pelo pintor espanhol Pablo Picasso em uma de suas obras mais conhecidas, o quadro Guernica. Eu tinha lido e ouvido a advertência sobre a real possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial feita por Lavrov. Mas não levei muito a sério porque o presidente da Rússia, Vladimir Putin, repete a ameaça sempre que tem oportunidade, incluindo a lembrança do seu imenso arsenal nuclear.

Mas no final da noite da segunda-feira recebi um WhatsApp de Hilton Müller Rodrigues, delegado da Polícia Civil gaúcha e um amigo de longa data. A mensagem dizia o seguinte: “Boa noite, Wagner. Como estão as coisas? Olha o que encontrei hoje na Livraria Saraiva. Amanhã fará 85 anos do massacre de Guernica! Abração!”

Mandou-me uma série de fotos de um livro, e no meio delas escreveu: “A história se repete!” E no final da mensagem: “Lembra Mariupol”. Até receber o recado de Müller não estava ligado na data. Mas, claro, sabia da importância de Guernica. No dia seguinte, quando o presidente Zelensky falou sobre assunto, eu já estava atento para a data. E já tinha trocado mensagens com vários colegas espalhados pelo país sobre o assunto.

A cidade ucraniana de Mariupol, a que Müller se refere, nas palavras de Zelensky está sendo reduzida a cinzas pelos ataques da artilharia e dos tanques russos. Mariupol tem mais de 450 mil habitantes. A história de Guernica, de Mariupol, de Putin e de Zelensky está disponível para o leitor ao apertar uma tecla do celular ou do micro. Vamos falar sobre o que não está disponível nas redes, que são informações obtidas cruzando dados de várias fontes históricas confiáveis e analisadas por especialistas.

Fui lembrado por essas fontes que no final da Segunda Guerra Mundial era crença geral entre as populações dos países aliados, que haviam lutado e vencido a Alemanha, a Itália e o Japão, que o nazismo, que gerou Adolf Hitler, e o fascismo, que foi construído pelo ditador italiano Benito Mussolini, haviam sido enterrados pelas toneladas de bombas que destruíram as cidades dos três países.

Foram tornadas públicas no julgamento dos criminosos de guerra no Tribunal de Nuremberg as atrocidades cometidas contra a população civil. Os horrores da morte mais de 6 milhões de judeus e outras minorias nos campos de concentração.

Usando a linguagem de um conceituado historiador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS): as sementes do nazismo e do fascismo renasceram nos anos seguintes. Foram regadas pela Guerra Fria (1947 a 1991), uma disputa entre os Estados Unidos, capitalista, e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), comunista, que usaram de todos os expedientes para manter a fidelidade dos seus países satélites.

Na América do Sul, os americanos derrubaram governos legitimamente eleitos em vários países, entre eles Argentina, Uruguai, Chile e Brasil. Esses países foram governados por ditaduras militares por mais de três décadas, no caso brasileiro de 1964 a 1985. Essas ditaduras acabaram com as garantias constitucionais dos civis, entre elas a liberdade de imprensa.

A União Soviética se esfacelou em 1991 e a Guerra Fria acabou. Os nazistas e os fascistas sobreviveram. E para a surpresa geral, principalmente dos jornalistas, em 2016, na campanha eleitoral a presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, republicano, conseguiu vencer a candidata Hillary Clinton, democrata, usando uma máquina publicitária erguida pelo seu assessor Steve Bannon. Essa máquina de publicidade era uma cópia atualizada da que foi erguida pelo ministro da propaganda do Hitler, Joseph Goebbels.

Essa mesma máquina publicitária foi usada em 2018 pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (PL). Trump tentou a reeleição e foi derrotado pelo atual presidente Joe Biden, democrata. Tentou invalidar as eleições organizando uma invasão dos seus seguidores ao Capitólio, o congresso dos Estados Unidos.

Bolsonaro vai tentar a reeleição e está seguindo o mesmo roteiro de Trump, que pretende concorrer às eleições em 2024. Um pesquisador paulista me alertou que os países aliados no final da guerra se apropriaram da tecnologia alemã da construção de foguetes e outras.

Entre essas “outras” está a máquina publicitária de Goebbels, que pode ser descrita como um conjunto de normas para convencer as pessoas a aderirem a um regime político sanguinário, como foi o nazista nos anos 30. Lembro que um dos objetivos no julgamento dos criminosos de guerra de Nuremberg foi o de descobrir como os nazistas conseguiram convencer a população a apoiar suas atrocidades e crenças exóticas.

O fato é o seguinte: existe uma semelhança muito grande entre o que está acontecendo na disputa política nos dias atuais com o que aconteceu nos anos 30 na Alemanha. Nós jornalistas temos que ficarmos atentos a essas semelhanças. O quadro Guernica, de Picasso, é um lembrete do que aconteceu.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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2 Comentários

  1. Copia de Goebbels, KUAKUAKUAKUA! Repetir mentiras até que se tornem verdade! Acho que não é bem a maquina publicitaria ianque republicana. Hilary perdeu porque fez uma campanha eleitoral dos anos 90 do seculo passado, porque havia muitos indicios de corrupção e porque o marido dela tinha um monte de problemas, dentre eles uma estagiaria no curriculo. Invasão do Capitolio tem varias narrativas, não param de pé porque não seria uma multidão invadindo o Congresso que reverteria resultado de eleições. Obvio. Em novembro ocorrem as midterms americanas, Tudo indica que Biden sofrerá uma derrota historica. Resumo da ópera: os velhos morrem para que o mundo possa ir adiante.

  2. Alguns historiadores entendem de historia. Pessoal da comunicação social não tem formação, achar que vai cair de paraquedas na area dos outros e ‘dominar’ faz parte da arrogancia da profissão. Zelensky é um palhaço, acha que pode tocar politica internacional com opinião publica de paises que simplesmente não têm como influenciar o resultado. Guernica é uma cidadezinha, tem uns 15 mil habitantes. Tem um carvalho simbolico para os bascos que aderiram a causa republicana porque acenaram para eles a independencia. Mariupol é bem maior.

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