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Tem barriga vazia fazendo chorar – por Valdeci Oliveira

“Um tema que não pode mais ficar de fora do centro do debate público”

Estou entre aqueles que entendem que várias cabeças pensam melhor do que uma e que ninguém é dono da verdade. Por isso, na condição de presidente da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tomamos a iniciativa de lançar publicamente, nesta semana, uma mobilização coletiva contra aquele que hoje é, disparado, o maior problema do país: a Fome. A primeira fase do Movimento Rio Grande Contra a Fome reúne as sensibilidades dos poderes e órgãos autônomos do RS – governo, Tribunal de Justiça, Ministério Público, Defensoria Pública e Tribunal de Contas -, que, de imediato, abraçaram junto conosco a ideia de colocar em pé uma ação que irá em busca de mais cabeças, braços, corações e mentes para ampliá-la.

Não se trata de política pública, mas, sim, de um chamamento à sociedade a respeito de um tema que não pode mais ficar de fora do centro do debate público. E quando falo em sociedade significa todos e todas, incluindo autoridades e gestores públicos, com o objetivo principal de conscientizar e dar maior visibilidade ao tema da insegurança alimentar e, principalmente, ao seu enfrentamento.

Quando o assunto é fome, mais do que números, estamos tratando de gente de carne e osso, com sentimentos, sonhos e necessidades para suprir o mais básico e elementar direito, que é o direito à vida. Sem comida não há existência, não há forças para se levantar, ir à luta, aprender, raciocinar. E onde a fome entra, a educação, a saúde e a dignidade não encontram acesso, não encontram espaços ou demoram muito mais do que o aceitável para se fazer sentir. Não se trata de assistencialismo, se trata de urgência.

Tenho dito com todos com quem falo na busca por apoios, que não iremos sombrear nenhuma outra ação que esteja sendo realizada – pelo contrário, se possível, inclusive, que se agregue ao esforço – e que não temos o intuito de “inventar a roda”, e, sim, de fortalecer a roda da solidariedade, fazer com que ela gire mais rápido, fazer com que ela realmente esteja onde tem de estar, além de fortalecer bastante o trabalho valioso que a Defesa Civil estadual, com sua capilaridade e expertise, realiza em todos os cantos do estado.

Por meio dos canais de comunicação do Parlamento e dos demais poderes e também por meio de uma campanha de mídia que, gradativamente, vai ganhar todas as regiões do Rio Grande, o nosso movimento vai convidar as pessoas a doarem alimentos nesse momento emblemático para a proteção de vidas. Também teremos um site (riograndecontrafome.al.rs.gov.br) para esclarecer dúvidas e prestar informações para aqueles e aquelas que desejarem contribuir – não com dinheiro, mas com comida.

Seminários, debates no interior e mutirões de solidariedade, além de um Comitê Gestor, integram o escopo das ações, mas o mais importante é que esse Movimento não se configura em um “prato feito”, mas num prato sempre aberto a sugestões e a novas iniciativas que visem combater a fome. Vamos ainda discutir e buscar formas legais para reforçar o trabalho das cozinhas solidárias e das demais pequenas entidades que, por questões burocráticas, não podem firmar parcerias de modo direto com o poder público, mas que realizam um trabalho fantástico de solidariedade.

E para além do apoio, da ajuda, da solidariedade, temos de seguir lutando por políticas públicas, por projetos que reforcem a luta contra a fome no estado e no país. Essa luta, cada vez mais, precisa estar presente nas discussões, nos plenários, nos encaminhamentos e nos orçamentos dos governos, de todos os governos.

Ao finalizar este artigo, quero agradecer de forma muito carinhosa à empresa gaúcha, radicada na nossa Fronteira Oeste, que fez a primeira grande doação de alimentos do Movimento Rio Grande Contra a Fome: foram duas toneladas de arroz – de uma destinação que totalizará 5 toneladas – já entregues à Assembleia e encaminhadas à Defesa Civil. Quem doou nos pediu que não citássemos o seu nome, já que o seu objetivo foi o de reforçar a solidariedade sem publicidade. Ao agradecer o grupo, de forma muito sincera, desejo que tal gesto inspire muitos outros, principalmente aquelas entidades que têm maior condição de ajudar.

Basta de fome no Rio Grande, no Brasil e em qualquer lugar do mundo. Mas para isso é preciso que nunca esqueçamos: quem tem fome, tem pressa. E como diz o trecho da música de mesmo nome, criada pela Ação da Cidadania, “(…) Não pode esperar/ A fome é perversa/ Não dá pra negar/ E quem alimenta esse monstro do mal/ É a desigualdade social/ Tem barriga vazia fazendo chorar/ Mas a cidadania tem uma missão/ Fazer esse mundo se mobilizar/ Pra nunca mais faltar o arroz e o feijão.”

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. É também o atual presidente da Assembleia Legislativa gaúcha.

Nota do editor: a foto (de Joaquim Moura /Agência ALRS) que ilustra o artigo é da manifetação de Valdeci Oliveira no lançamento do Movimento Rio Grande contra a Fome.

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2 Comentários

  1. o final do texto diz tudo: (…) Não pode esperar/ A fome é perversa/ Não dá pra negar/ E quem alimenta esse monstro do mal/ É a desigualdade social/ Tem barriga vazia fazendo chorar/ Mas a cidadania tem uma missão/ Fazer esse mundo se mobilizar/ Pra nunca mais faltar o arroz e o feijão.”

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